Homilia - 03/11/2013 - Solenidade de Todos os Santos
No dia de ontem, nos lembramos, com muito carinho e, quem sabe, saudade, dos nossos falecidos. Visitamos os cemitérios, levamos flores, rezamos por eles. O “Dia dos Finados”, apesar da tristeza da separação que sentimos, é, de certo modo, um dia feliz. Confiamos na misericórdia de Deus e cremos que nossos falecidos se encontram com Ele, num grande e eterno abraço de amor.
Hoje, a Igreja celebra a Festa de Todos os Santos. Ela quer lembrar todos os que deixaram seu exemplo, seu testemunho como verdadeiros cristãos. Algumas pessoas foram, oficialmente, declaradas “santas” pela Igreja, ou seja, foram “canonizadas”. Muitos santos e santas levaram uma vida heroica no seguimento de Jesus. Mas sabemos que, além dos santos canonizados, existe uma multidão de pessoas que viveram o seguimento de Jesus, e por isso, estão junto dele, na glória do Céu.
Falar de santidade, hoje, está ficando cada vez mais complicado. Muitos dizem: “Não sou santo, afinal sou homem”, para justificar um deslize, um pecado. Assim, a santidade seria uma característica de pessoas impecáveis.
Qual é nossa ideia que temos de santidade? O que é ser santo para nós? Será que em nosso meio existem pessoas de que podemos dizer: “é um santo, é uma santa”? E nós? Podemos ser santos também?
O Papa Francisco, na sexta-feira passada, por ocasião da Solenidade de Todos os Santos, disse: "Ser santo não é um privilégio de poucos, como se alguém recebesse uma grande herança. Todos nós recebemos a herança de nos tornarmos Santos no Batismo. Ser santo é uma vocação para todos. Todos nós somos chamados a percorrer o caminho da santidade e o caminho que leva à santidade tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. No Evangelho, Ele nos mostra a estrada das Bem-Aventuranças".
Portanto, santos são aqueles que Deus faz felizes. Ou seja, a felicidade a que Jesus se refere nas bem-aventuranças do Evangelho é graça de Deus, não mérito nosso. Não é a gente que “se faz” feliz, mas é Deus que nos torna assim. Santidade é a gente ser feliz em Deus.
As chamadas "Bem Aventuranças" que temos ouvido no Evangelho não são outra coisa, a não ser um "roteiro", um "mapa" que nos indica o caminho seguido por Jesus e pelos santos do Céu, e que nós temos de seguir.
As bem-aventuranças são um resumo do jeito de viver que faz as pessoas serem santas e felizes: “Felizes os pobres no espírito”. E quem são esses pobres? É o desocupado, o desabrigado, o faminto ou o mendigo? Será que Jesus quer exaltar a miséria?
Penso que devamos ler as “bem-aventuranças” de uma maneira nova, dar uma nova versão.
Em vez de ler “felizes os pobres em espírito”, leiamos: “felizes são os que se comprometem com o pobre”, “felizes são os que sabem partilhar os alimentos, a ciência, a alegria, o seu tempo e a sua vida”.
Como o Papa Francisco disse: “No rosto dos irmãos humildes e desprezados os santos viram o rosto de Deus, e agora o contemplam face a face em sua beleza gloriosa",
O Santo Padre frisou que "o Reino dos Céus é para aqueles que não depositam sua confiança nas coisas, mas no amor de Deus; é para aqueles que têm um coração simples, humilde, que não presumem ser justos e não julgam os outros. Essas pessoas sabem sofrer com os que sofrem e se alegrar com os que se alegram. Não são violentos, mas misericordiosos e buscam ser artífices da reconciliação e paz".
E, finalmente, Jesus diz que são felizes até aqueles que sofrem perseguição por causa do Reino.
Quem conhece um pouco a história da Igreja, sabe que os primeiros cristãos foram perseguidos, assassinados, jogados às feras, queimados vivos por causa da sua fé. Com tristeza ouvimos em noticiários que a mesma agressividade continua em algumas partes do mundo.
A perseguição entre nós não acontece desse modo, mas está presente de modo sutil. A sutileza consiste em destruir os valores cristãos, como por exemplo, o conceito de família. Diariamente, novelas e programas de TV, trazem temas com a finalidade de destruir os valores cristãos. Isso está presente em debates sobre aborto, homossexualidade, a própria sexualidade...
A perseguição até pode acontecer na vida pessoal de cada um de nós. Podemos ser malvistos ou criticados porque nos engajamos numa causa nobre. Jesus nos convida à alegria e à exultação. Não só alegrar-se, mas alegrar-se e exultar porque teremos uma grande recompensa no céu. Jesus está dando a receita para que a agressividade de quem nos ataca não entre em nosso coração, não seja capaz de tirar de nós a alegria, quer dizer, a paz interior.
Como vemos, para Jesus a santidade é algo ao alcance de todos, e ser santo é sinônimo de ser feliz
Festejamos hoje a solenidade de “Todos os Santos”. Nosso povo católico gosta muito dos santos. Os santos não merecem nossa adoração, apenas nossa veneração. A Igreja apresenta os santos como exemplos, modelos para a nossa vida cristã. Seu exemplo de vida nos deve estimular para chegarmos lá aonde eles chegaram: à perfeita comunhão com Deus na eterna felicidade.
No entanto, sabemos que o povo, de modo geral, não procura os santos com esse objetivo. A maioria vê os santos como “milagreiros”, talvez até como “quebra-galhos”. Será que não deveríamos chegar a outro tipo de veneração dos santos, mais autêntico, mais cristão, procurando conhecer sua vida, imitando suas virtudes, sua fidelidade a Cristo, seu amor aos pobres?
Todos nós somos chamados à santidade, mas cada um a seu modo. Não existem dois santos iguais. Cada um tem suas características. Ser santo quer dizer viver em união com Deus e colaborar na realização do projeto de Jesus Cristo, de construir já aqui entre nós o seu Reino. Sejamos ”fermento na massa”, procurando a realização de um mundo novo.
Ser santo é para nós todos!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm