Homilia - 27/04/2014 - Segundo Domingo da Páscoa
Um evento muito importante marca este 2º Domingo da Páscoa: a canonização dos papas João XXIII e João Paulo II.
Inesquecíveis são as longas filas de gente anônima, que esperou várias horas para um último adeus diante do túmulo do papa João Paulo II. Inesquecível é, sobretudo, o clamor da imensa multidão de fiéis que gritava, em língua italiana, “Santo subito!”, isto é, “Santo já!”.
Sobre a última fase da vida de João Paulo II, o Papa Francisco, ainda arcebispo de Buenos Aires, disse: "João Paulo II nos ensinou, não escondendo nada dos outros, a sofrer e a morrer, e isto, na minha opinião, é heroico". “A sua morte foi heroica e esta percepção, acredito que tenha sido universal. Basta pensar nas manifestações de afeto e de veneração reservadas a ele, por parte dos fiéis e não-fiéis, nos funerais".
O Papa João XXIII entrou na história da Igreja por ter convocado o Concílio Ecumênico Vaticano II, que abriu o caminho para uma grande renovação da Igreja.
Por ocasião do 50° aniversário da morte do papa João XXIII, o Papa Francisco falou sobre as virtudes de João XXIII. Segundo Francisco, o papa João XXIII era um homem capaz de transmitir a paz, uma paz natural, serena e cordial. Uma paz que com sua eleição ao pontificado manifestou-se ao mundo inteiro e recebeu o nome da bondade: o Papa bom. “Esta foi, sem dúvida, uma característica de sua personalidade, que lhe permitiu construir amizades sólidas em todos os lugares e que se destacou de maneira particular em seu ministério como Papa”.
O 2º. Domingo da Páscoa é chamado “Domingo da Misericórdia Divina”. Podemos chamar João Paulo II de “Apóstolo da Misericórdia Divina”. Ele pediu aos fieis que celebrassem sempre, no segundo domingo depois da Páscoa, a Misericórdia Divina.
João Paulo II tinha preparado uma alocução para o Domingo da Divina Misericórdia, texto que ele não pôde pronunciar, pois, na véspera foi chamado à Casa do Pai.
No entanto, quis que este texto fosse lido e publicado como sua mensagem póstuma: “À humanidade, que no momento parece desfalecida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor ressuscitado oferece como dom o seu amor que perdoa, reconcilia e abre novamente o ânimo à esperança. Quanta necessidade tem o mundo de compreender e de acolher a Divina Misericórdia!” (Cf. Regina Caeli, 3 de abril de 2005).
Paz e Misericórdia são as duas palavras que caracterizam este domingo.
Encontraremos a paz, se tivermos confiança na misericórdia divina. Este é o anúncio do Evangelho de hoje: “Por medo dos judeus, os apóstolos estavam numa sala de portas fechadas. Jesus entrou e disse: ‘A paz esteja convosco’ ” (Jo 20,19).
Como os apóstolos podemos experimentar a sua presença tranquilizadora no meio de nós. Seja qual for a situação em que estamos, mesmo a mais complexa e dramática, o Ressuscitado repete a cada um de nós: "Não temas; eu morri na cruz, mas agora vivo para sempre".
O evangelho de hoje nos ajuda a compreender o sentido e o valor deste dom da misericórdia divina. O evangelista São João nos faz compartilhar a emoção que os apóstolos experimentaram durante o encontro com Cristo, depois da sua ressurreição. Um grandioso gesto do mestre acontece nesse encontro, quando Jesus Ressuscitado transmite aos discípulos temerosos e atônitos a missão de serem ministros da misericórdia divina. Mostra-lhes as mãos e o lado com os sinais da paixão e diz: "Como o Pai me enviou, também eu vos envio" (Jo 20, 21). Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo: "Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem não os perdoardes, eles lhes serão retidos" (Jo 20, 22-23). Jesus dá aos apóstolos o dom de "perdoar os pecados", um dom que brota das chagas de suas mãos e de seus pés e, sobretudo, de seu lado perfurado, brota do seu coração. A partir daí, uma onda de misericórdia inunda toda a humanidade” (João Paulo II, homilia do domingo da misericórdia, em 2001).
Cantamos no salmo responsorial: “Dai graças ao Senhor, porque ele é bom, eterna é a sua misericórdia!”
Deus é bom! Em sua misericórdia, Ele não sabe deixar de perdoar. Ele conhece as nossas fraquezas, sabe que somos fracos; mas se com sinceridade abrirmos, diante dele, nosso coração, ele nos perdoará e nos curará. Às vezes, nada nos traz tanta paz do que dizer: Eu pequei. Perdão!
Quando estamos arrependidos, Deus desvia os seus olhos de nossos pecados e apaga as nossas culpas. Ele não está olhando para os seus erros, mas para você, com olhos cheios de amor.
Deus não quer o castigo; Deus quer a misericórdia.
O desânimo, a preocupação, a falta de fé são grandes responsáveis por abandonarmos sua misericórdia. E o Senhor sabe disso. Ele conhece os nossos temores, ansiedades, fraquezas e necessidades.
Perigoso é quando não confiamos na misericórdia do Pai, quando confiamos apenas em nossas próprias virtudes, na vida honesta que levamos, achando que não temos pecado. Somos auto-suficientes. Dispensamos a graça divina.
Quantas vezes nós nos consideramos melhores que os outros, ou menos necessitados da misericórdia do Pai! Que triste engano!
A confiança em Jesus, João Paulo II expressava com estas palavras: "Jesus, eu confio em ti". Esta jaculatória expressa muito bem a atitude de abandono confiante nas mãos do Senhor, nosso único Salvador. Um simples ato de abandono nas mãos de Deus basta para nos tirar da escuridão e da tristeza, da dúvida e do desespero.
Concluindo nossa meditação rezemos com São João Paulo II: "Os raios da tua misericórdia divina, Senhor, devolvem a esperança, de modo especial para aqueles que se sentem oprimidos com o peso do pecado. Maria, mãe da misericórdia, faze que mantenhamos sempre viva esta confiança no teu Filho, nosso Redentor. Fixando o nosso fraco olhar no rosto do Salvador divino, queremos repetir contigo: Jesus, eu confio em ti" (João Paulo II, Homilia do Domingo da Misericórdia, em 2001).
São João XXIII e São João Paulo II, rogai por nós!
E com Tomé digamos com fé: “Meu Senhor e meu Deus!”.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm