Homilia - 11/05/2014 - Quarto Domingo da Páscoa
É constrangedor quando uma pessoa, que há muito tempo não víamos, nos encontra e pergunta: “Sabe quem sou? Você se lembra de mim?”, e o nome da pessoa não nos vem à memória. Sentimo-nos envergonhados e a pessoa, às vezes, fica decepcionada.
É importante saber o nome da pessoa. Se alguém se lembra dele, depois de um longo tempo de ausência, a pessoa se sente feliz e, de certo modo, valorizada. Mas não basta saber o nome da pessoa para conhecê-la. Conhecer alguém é muito mais profundo. Exige convivência, comunhão de vida, partilha de emoções, sentimentos e experiências.
O evangelho de hoje nos fala do “Bom Pastor”. As ovelhas conhecem a sua voz. A imagem de pastor e de rebanho, de fato, não fazem parte da nossa cultura urbana; mas não é difícil para um cidadão urbano entender o sentido deste texto do evangelho. As ovelhas não seguem os estranhos (o “ladrão”), porque não conhecem a sua voz. É só a voz do “pastor” que elas conhecem. A esse escutam. Ele chama cada uma pelo nome e as leva para fora. Isso quer dizer que elas têm intimidade com a palavra do seu pastor. Pois é, justamente, a voz que tem um certo timbre, um tom especial, a voz é que dá um calor específico às palavras. É a voz que cativa, que atrai porque revela a pessoa que fala.
O evangelista João nos quer dizer no Evangelho, que a comunhão e intimidade com Cristo se estabelece através da escuta de sua Palavra. Mas não é só escutar com os ouvidos, antes de tudo, é seguir o “pastor”. A intimidade com o Senhor se dá na escuta e no seguimento.
Na segunda parábola do Evangelho de hoje, Jesus é comparado a uma porta. Quanta riqueza nessa metáfora! Quantas portas se abrem e se fecham em nossa vida.
A imagem da “porta” aplicada a Jesus serve para pôr em evidência o ladrão, o estranho, o desconhecido, que não passa pela porta mas pula por cima da cerca para roubar.
Portanto não há relação amorosa de conhecimento nem de intimidade entre as “ovelhas” e esse sujeito. As “ovelhas” não poderão segui-lo porque não “conhecem” essa voz. Ela lhes é estranha.
Jesus conduz suas ovelhas, mostra-lhes o caminho, dá lhes segurança, garante para elas a vida, e “vida em abundância” (v.10).
Todo esse Evangelho inspira, pois, uma intimidade mística com o Senhor. Ele comunica vida em abundância às suas ovelhas. Quem “conhece” – não simplesmente pelo intelecto, mas na intimidade, como na Bíblia – recebe não apenas uma ou outra dádiva que lhe faz aumentar o seu saber, o seu conhecimento, mas sim a vida em abundância, que é o ponto máximo de toda busca humana.
No meio de um mundo marcado por tantos ódios, vinganças, interesses nada honestos, fazemos, como as pessoas na primeira leitura, a mesma pergunta: O que devemos fazer?
Pedro nos convida a sermos modelos de paciência, tolerância, benignidade e perdão; convida-nos a ter os mesmos sentimentos de Cristo, a perdoar a quem nos fizer mal e suportar com paciência os sofrimentos por causa da fé.
Se nós, cristãos, enfrentarmos o sofrimento, não seja por passividade e conformismo, mas por solidariedade com todos os que sofrem e com Jesus Pastor, que não revidou, não mentiu, não ameaçou, mas como cordeiro carregou o pecado dos outros, a fim de abrir o caminho da vida, pela sua morte.
Pedro, ainda, nos lembra que éramos como ovelhas errantes. Mas, agora temos um pastor que nos conduz.
Mensagem para nós:
Para Jesus, cada um de nós é importante, é único, tem nome próprio, que Ele conhece muito bem. Não somos estranhos para Jesus. Ele nos deixa participar de sua intimidade e nos comunica vida em abundância. Essa intimidade cresce na medida em que somos capazes de sempre mais ouvir a sua voz, isto é, acolher a sua Palavra, sua mensagem, seu Evangelho. Sem intimidade com a Palavra não conseguiremos seguir o Bom Pastor.
Mas é necessário ir alem do simples ouvir e do simples conhecer intelectual. Na basta “saber a doutrina”, nem mesmo “saber a Bíblia de cor”. O fundamental é “conhecer” no sentido bíblico: viver numa comunhão íntima de amor, numa troca de dons e na geração de mais vida para todos.
Comunhão, solidariedade, presença, acolhida, são atitudes que precisamos cultivar para muitos que desejam conhecer e encontrar Jesus.
Perguntas: Conheço o irmão e irmã que está ao meu lado? Compartilho com ele ou ela a minha vida de fé? Compartilho a dor que talvez ele ou ela traz no coração? Busco conhecer essa pessoa como Cristo quer conhecer cada um de nós?
Frei Gunther Max Walzer, Ofm