Homilia - 20/07/2014 - 16º Domingo do Tempo Comum
Há maldades que parece impossível entender. Há pessoas que agem de forma tão cruel ou tão perversa que não parecem ser humanas. Certos casos não vale a pena contar. São absurdos e horrorosos. Só provocam nojo e espanto. Vemos homens e até pais de família abusarem sexualmente de suas próprias filhas. Vemos filhos matando os pais para ficar com a herança ou se ver livres deles. Vemos sequestradores torturar os sequestrados , para obter um resgate. Vemos o que nos parece que Deus não deveria nunca permitir ou tolerar...
Vemos, também, tantas injustiças que se cometem em nosso meio. Diante de tanta maldade que vemos, não sentimos, às vezes, a vontade de desistir e “jogar a toalha”? tudo é tão difícil, não vale a pena ser coerente, ser discípulo de Cristo e seguir as palavras do Evangelho.
Começamos também a desistir de nós mesmos, afinal, quantas vezes tentamos mudar uma comportamento nosso, uma atitude que consideramos obstáculo na nossa caminhada na construção do Reino e não conseguimos.nóa nos cansamos de de nós mesmos.
Como cristãos, qual a melhor atitude a assumir?
As leituras de hoje nos apresentam a posição de Jesus diante do mal no mundo.
“Jesus falava em parábolas às multidões” (Mt 13,34). Este método tinha duas importantes vantagen: facilitava a compreensão dos seus discursos por parte do povo simples e, ao mesmo tempo,abria muitas possibilidades para a compreensão do significado do seu discurso.
.O trecho que nos é proposto hoje pela liturgia nos apresenta três parábolas: a do joio, a do grão de mostarda e a do fermento.
A parábola do joio que cresce em meio ao trigo é muito significativa. Ela começa relatando que “alguém semeou boa semente no seu campo”. Um dia, os servos, observando o trigo crescer, descobrem joio crescendo em meio do trigo. Os servos logo queriam arrancar o joio. O dono do campo preferiu aguardar, porque junto com o joio também o trigo podia ser arrancado. Deixou para separar tudo no dia da colheita. Naquele dia o joio poderia ser separado e queimado sem perigo de confusão.
O que fica claro. é que, inevitavelmente, o bem e o mal estão presentes no caminho da construção do Reino. O campo é o mundo, diz Jesus. Mas não está excluindo a Igreja. A Igreja não é uma arca de Noé contendo apenas poucos destinados à salvação. A Igreja é um campo onde trigo e joio se misturam. É o que ensinava Santo Agostinho. “Quantas ovelhas estão fora e quantos lobos estão dentro!”, dizia ele da Igreja. Ela é o campo onde há também filhos das trevas e do pecado.
E se pensarmos em nós mesmos? Quem de nós pode poderia dizer que é tão perfeito e puro, que nada de mal tem em seu coração, em sua vida? Quem escaparia totalmente ileso, se os servos de Deus viessem hoje queimar todo o joio? Certamente muitos poucos, além de Jesus e sua Mâe...
Se olharmos para dentro de nós descobriremos que trigo e joio estão misturados não apenas no campo do mundo, mas no íntimo do coração humano. Realmente, é difícil separá-los, agora. É difícil até distingu´-los. Muitas vezes não nos aconteceu de julgar trigo bom o que era apenas joio ou pensar que fosse joio algo ou alguém que era bom?
Santo Agostinho também dizia: “Os maus existem neste mundo para que se convertam ou para que os bons exerçam a paciência com eles”.
Desta paciência nos falam as outras parábolas. A pequena semente dde mostarda plantada na terra, devagar, no seu tempo, se torna a maior de todas as plantas ds horta. E dessa planta todos poderão usufruir: sombra, abrigo e alimento.
Igualmente o fermento na massa, sua força está justamente em ser pouco, mas pode “contagiar” tudo ela só precisa de tempo para agir.
Assim o Reino de Deus acontece: a sua força parece pequena, humilde, mas não pára diante de obstáculos. O bem faz o seu caminho entre as dificuldades e sabotagens do mal.
O Evangelho de hoje é um convite a olhar o mundo de forma mais positiva, “apesar do mal que nos cerca”. Sobretudo é um apelo a agir como Deus age. É o que podemos expressar com as palavras da primeira leitura, tiradas do livro da Sabedoria: “Tu julgas com clemência e nos governas com grande consideração.... Ensinaste que o justo deve ser humano; e a teus filhos deste a confortadora esperança de que concedes o perdão aos pecadores” (Sb 12,18-19).
Como cristãos que somos devemos espalhar a semente boa: o perdão, a bondade, a paz interior, a alegria, a oração, a meditação da Palavra de Deus. Ter isso dentro da gente, semear isso como ter uma vacina contra o mal que nos ameaça; o mal sempre vai nos ameaçar, mas se estivermos vacinados pela bondade, a gente fica protegido.
É essa mensagem que quero semear neste Domingo. Não semear o bem para ser notícia, mas semear o bem porque o amor vive em nossos corações. Semear o bem porque temos a missão de ser semeadores da bondade.
Como dizia Jesus, não tenham medo de semear a bondade e nem desanimem se a colheita parece ser pequena em nossos tempos. O que importa é semear a bondade sempre e em toda parte. Amém!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm