Homilia - 19/10/2014 - 29º Domingo do Tempo Comum
Ouvimos, no evangelho, a célebre frase pronunciada por Jesus "dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus", uma "resposta irônica" às provocações dos fariseus.
Certamente, vocês já desconfiaram de certas pessoas quando vieram conversar com vocês. Nem toda conversa é o que parece ser sincera e autêntica. Com palavras bonitas e sorrisos simpáticos se disfarça muita intenção capciosa.
Nessa época das eleições, a fala dos políticos é um território onde todo cuidado é pouco para identificar verdades, meias verdades, mentiras grosseiras, planos de desmoralização do adversário. A gente tem a impressão de que nesse campo vale tudo.
Tenta-se “enrolar” a Igreja também. Quantas vezes o nome de Deus é usado para promover interesses humanos pouco evangélicos. Tudo isso já acontecia no tempo de Jesus. Não é fácil descobrir onde está a mão de Deus. Mais difícil, ainda, é descobrir a mão de Deus na política. Muitos dizem: Política e religião não se misturam. Será mesmo?
Em vez de um simples SIM ou NÃO, teríamos de dizer: DEPENDE...
Dizer NÃO quando essa mistura, religião e política, é nociva. Quando alguém quer se promover politicamente manipulando os sentimentos religiosos do povo ou quando a própria Igreja confia mais nas suas relações com os poderes políticos do que na força que vem do Senhor da Igreja e da fidelidade ao Evangelho.
Ou quando se traz para dentro da própria Igreja as disputas partidárias e políticas. A Igreja não se deve colocar no lugar da administração política.
SIM, a política e a religião são uma mistura necessária. Por quê? Porque a política refere-se aos direitos dos filhos e filhas de Deus, e a caridade exige que defendamos os injustiçados; porque a política pode ser um campo privilegiado de praticar a fraternidade. Porque em nome do Evangelho precisamos exigir honestidade e um real serviço prestado em favor do povo. Por isso, os cristãos devem assumir sua responsabilidade política, para realizar o ideal da fraternidade humana que Cristo ensinou, e usar os meios políticos para isso.
No relato do evangelho de hoje, percebemos a armação dos fariseus na conversa com Jesus. Este logo percebeu a malícia da coisa e deu uma resposta inesperada, que deixou a todos sem ação e não tiveram argumento para responder.
“Dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, o que significa isso? Será que Jesus ficou “em cima do muro”? Será que é uma saída pela tangente? Ou é para separar os problemas humanos do mundo espiritual? Muitas vezes a frase é usada para justificar essa separação. Seria isso mesmo?
O que é de César (do governo)? César representa o governo, a força política. Temos obrigações com o governo se quisermos ser bons cidadãos: pagamos impostos, colaboramos com campanhas em benefício da população, respeitamos as leis e as instituições que forem justas. Nenhum país funciona se a população não der a César o que é de César.
E o que é de Deus? O povo é de Deus, são filhos e filhas do Pai celeste. E o próprio governante também está submetido ao poder de Deus. Não existem, do ponto de vista de Deus, leis diferentes para governantes e governados. César também tem de dar a Deus o que é de Deus. Pela justiça, pela caridade, pela solidariedade todos têm que se empenhar; estas são normas superiores. Leis podem ser injustas... Se for assim cabe lutar contra elas.
Os profetas muitas vezes fizeram uma avaliação severa das atitudes dos governantes e botavam a boca no mundo quando algo prejudicava o povo. Há muitos textos onde Deus diz que não quer meramente sacrifícios, orações, normas litúrgicas bem cumpridas: Deus quer em primeiríssimo lugar, a justiça. Essa justiça tem que aparecer na vida particular de cada cidadão e cristão e, também, no comportamento, nas decisões políticas que afetam toda a coletividade.
Paulo VI é Beato. Na Missa celebrada na Praça São Pedro neste domingo, na presença de 70 mil pessoas, o Papa Francisco, beatificou o Papa Montini. Nesta ocasião, o Papa concluiu também o Sínodo Extraordinário para a Família.
Francisco falou sobre o Sínodo Extraordinário dos Bispos, dizendo que pastores e leigos de todo o mundo trouxeram a Roma a voz de suas Igrejas particulares para ajudar as famílias de hoje a caminhar na estrada do Evangelho, com o olhar fixo em Jesus.
Voltando seu olhar a seguir para Paulo VI, Francisco recordou as palavras com que ele instituiu o Sínodo dos Bispos: “Ao perscrutar atentamente os sinais dos tempos, procuramos adaptar os métodos (...) às múltiplas necessidades dos nossos dias e às novas características da sociedade”.
“A respeito deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante: Obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI! Obrigado pelo teu humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja!”.
Ao recordar trechos do diário do Papa Montini, após o encerramento do Concílio Vaticano, Francisco sublinhou que ele soube, “quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, reger com clarividente sabedoria – e às vezes em solidão – o timão da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor”.
Não percamos nunca a alegria e a confiança no Senhor!
Que assim seja! Amém!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm