Homilia - 02/11/2014 - Comemoração de todos os Fiéis Defuntos
Hoje, no dia dos Finados, está no centro de tudo uma palavra, que a muitos assusta e até atormenta: a morte. Dia dos Finados, dia de tristeza, saudade e lágrimas!
A Igreja nos convida para rezarmos pelos falecidos, a Palavra de Deus leva-nos a pensar na vida, particularmente na vida depois da morte, na vida que Jesus Cristo nos prometeu.
Muitos consideram a morte como um ponto final: “tudo acabou”. Nós cristãos temos outra resposta: “A vida não é tirada, mas transformada” (Prefácio).
Nós nunca celebramos a morte, mas sempre celebramos a certeza de viver eternamente em Deus, como declarava Jó, na 1ª leitura (Jó 19,27): “Verei a Deus. Eu mesmo o verei, meus olhos o contemplarão”.
O cristão, como todo ser humano, pode sentir medo da morte, tristeza na despedida de um ente querido, mas jamais entende a morte como fim de tudo, porque cremos e porque nossa esperança é confiante que a vida nunca terminará, pois a morte não é o fim de tudo, mas a conclusão de uma etapa da vida; da vida vivida aqui na terra. Com a morte, começamos a viver outra etapa da vida. Ou melhor dizendo, com a morte, cada um de nós continua vivendo a mesma intimidade que tem com Deus aqui na terra. Se vivemos em Deus, depois da morte continuaremos vivendo em Deus, com uma vida transformada, como proclamaremos daqui a pouco, no Prefácio desta celebração. Enquanto caminhamos nas estradas do mundo, a fé e a esperança dizem que nosso destino é a morada junto a Deus, a morada definitiva, porque nosso corpo morrerá, mas vida nunca terminará.
No Evangelho, Jesus diz aos seus discípulos: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós e, quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a fim de que onde eu estiver estejais vós também” (Jo 14,2-4).
Jesus deixou bem claro que aqui não é nossa morada definitiva. É para a morada na Casa do Pai, é para este lugar que nos dirigimos. E, nesta viagem, o quê podemos levar? Objetos “perecíveis”, certamente não! Peso morto é o dinheiro, nossas contas bancárias, sucesso e títulos, beleza e fama. Bagagem importante e necessária são boas obras e retidão do agir. Levaremos em nossa bagagem o bem realizado ao longo da vida, sobretudo a caridade para com os mais pobres. Lembremo-nos: “Vinde, benditos do meu Pai, recebei por herança o reino preparado para vós desde a criação do mundo. Pois tive fome e me deste de comer. Tive sede e me deste de beber. Estive nu e me vestistes” (Mt,25,34).
Portanto, ao rezarmos e recordarmos dos nossos entes queridos neste dia de Finados, lembremo-nos também a dar um sentido às nossas vidas e aproveitar cada instante para fazer o bem.
Assim começamos a perceber que o interesse para vivermos eternamente não é só nosso, mas também de Deus. Tanto Deus se interessa por isso que prepara um lugar onde possamos morar. E mais. Tanto Deus quer que vivamos eternamente, que Jesus diz que conhecemos o caminho ao se declarar como caminho, verdade e vida para participar plenamente da vida divina. De novo, podemos afirmar que somos atraídos para a vida, que queremos a vida, que a vida não nos foi dada para morrer, mas para viver eternamente. E a eternidade já começa aqui na terra, porque nós que cremos na ressurreição depois da morte, estamos a caminho da eternidade.
São com estes sentimentos que, hoje, celebramos a Ressurreição do Senhor como garantia de que a morte não é o fim, mas o início de outro modo de viver.
Mesmo sendo confortados e encorajados na fé e na esperança pela Palavra de Deus, não se pode negar que a morte é dolorida e nos atinge profundamente. Todos nós sentimos a morte e a perda que ela provoca em nossas vidas. A fé e a esperança na vida eterna não tiram o sofrimento da morte e da perda de pessoas queridas, mas ilumina o modo como lidar com a dor da separação que atinge nossas vidas. Quem não se desespera diante da morte, mas se mantém firme na fé e na esperança, chora como todo mundo, mas conta com a força que Deus lhe dá através da fé e da esperança. A saudade continua batendo no coração de quem perdeu um ente querido, é verdade, mas não conduz ao desespero. A tristeza também visita o cristão, mas não tira dele o ânimo de viver. Chorando e lamentando falamos ao Senhor de nossa dor, da situação difícil e triste pela qual passamos e pedimos ajuda. A Bíblia, principalmente, os salmos dão testemunho de lamentações ao Senhor. Choramos, sim, a morte de nossos queridos, mas jamais nos desesperamos porque cremos na ressurreição. A garantia vem do próprio Jesus, no final do Evangelho: “eu o ressuscitarei”.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm