Homilia - 25/12/2014 - Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo
Certamente vocês já passaram sentados numa praia, de noite, contemplando o céu estrelado. É algo realmente encantador... São milhões e milhões de estrelas e astros... Quem será capaz de contá-los? E fico também imaginando a imensidão desse espaço. Até onde vai? Aonde termina? Se é que em algum lugar termina... As distâncias nem podem mais ser contados em quilômetros, mas em anos–luz... Galáxias distantes a milhões de anos luz... E o nosso “planeta terra” neste contexto? Proporcionalmente falando, não passa de um minúsculo grãozinho de pó. Menor ainda!... E sobre ele rastejam esses “microorganismos” chamados seres humanos, que somos nós.
Agora, vocês me perguntam: o que tem isso a ver com a festa de Natal? Sim o que tem isso a ver com do Dia de Natal? Sabe que, justamente no dia de Natal, sentindo-me tão pequeno no meio desta imensidão cósmica, me lembrei de tudo isso e levei um susto. Lembrei-me que o Verbo eterno, o criador de tudo isso, se faz pequenino, muito pequenino, micro-pequenino sobre este nosso chão tão pequeno.
“E a Palavra se fez carne e habitou entre nós” (Jo1,14), assim nos diz o texto do Evangelho de hoje. Por obra do Espírito Santo, Deus torna-se um embriãozinho humano no seio da Virgem Maria. Depois, após nove meses de carinhos na gestação, a criança vem à luz, frágil como toda criança, dependente dos cuidados da mãe. Aliás, não teve nem mesmo um lugar para nascer. Foi nascer num estábulo, deitado sobre as palhas de uma manjedoura, entre o boi e o burro. Olhem aqui: o Verbo criador deste imenso universo, feito mínimo do mínimo, micro- pequenino sobre este minúsculo planeta terra... É muita humildade! É amor demais por nós!
“Encontrareis um recém-nascido envolvido em faixas.” Este foi o anúncio do nascimento do Salvador do mundo, feito pelo anjo aos pastores que se encontraram no campo. Este é o grande e mais importante sinal do Natal. As luzes do Natal, os enfeites, ornamentos e presentes natalinos... nada disso é o centro do Natal; tudo isso, aliás, é como uma moldura, como setas indicativas na direção do Presépio, onde vemos um menino pobre envolvido em faixas. “Encontrareis”, diz o anjo aos pastores. Sim, porque o Natal é encontro com o pobre recém-nascido envolvido em faixas e, para isso, a exemplo dos pastores, devemos peregrinar até as periferias sociais e existências, onde encontraremos o recém-nascido. Esta é a dinâmica divina. Deus se serve da pobreza humana para iluminar-nos com sua glória. Infelizmente, hoje, passamos mais tempo contemplando os enfeites de Natal, especialmente aqueles ricos e sofisticados, desviando nosso olhar do pobre recém-nascido envolvido em faixas.
A palavra de Deus que se fez carne nos convida a olhar para as pessoas fragilizadas, porque o próprio Deus se importa com nossas dores, nosso corpo, nossas necessidades humanas. Deus quis ser igual a nós, partilhando nossas alegrias e tristezas.
“A Palavra estava no mundo, mas o mundo não quis conhecê-la. Veio para o que era seu, e os seus não o acolheram” (Jo 1,10s).
Esta é a grande queixa do Natal. Muitos foram os que rejeitaram Jesus durante sua vida terrestre, desde aqueles que fecharam a porta a Maria grávida até os que o ignoraram ou deixaram que ele caminhasse sozinho para a cruz.
Esta queixa continua até os nossos dias, porque muitas pessoas vivem numa cegueira tão grande, que são incapazes de perceber o esplendor da luz divina brilhando no Natal.
“Ele veio para dar testemunho da luz: daquele que era a luz de verdade, que, vindo ao mundo, ilumina todo ser humano”.
O Natal é tempo de acender a luz divina em nossos corações. Nós somos destinados a ser luz do mundo, por isso é preciso se banhar com a luz da glória divina, com o brilho luminoso do Natal de Jesus Cristo. Como se manifesta esta luz? É a luz da paz, da alegria, da partilha fraterna, do perdão, do valor da vida humana, do respeito pela dignidade da vida humana.
No relato do nascimento de Jesus encontramos os pastores que foram os primeiros a chegar ao Presépio, e a eles se juntou uma multidão de anjos cantando: “Glória a Deus no mais alto dos céus, e paz na terra aos homens por ele amados” (Lc 2,14).
“A paz esteja convosco” foram as palavras repetidas muitas vezes por Jesus.
Costumamos cantar, com alegria as palavras do profeta Isaías: “Como são belos os pés do mensageiro da paz”. Se “os pés do mensageiro” já são belos, imaginemos que bonita pode ser nossa pessoa inteira se nós mesmos formos boas notícias, se formos, neste Natal, mensageiros da paz. E no fundo é isso que somos chamados a ser: não apenas mensageiros, anunciadores, mas pessoas que fazem o possível para que a vida fique melhor em todo lugar por onde passamos.
É com o desejo que todos assumamos o compromisso de iluminar o mundo com a luz do Santo Natal, que faço a todos os votos de Feliz Natal, muita luz e muita paz em seu coração.
Feliz Natal!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm