Homilia - 18/01/2015 - 2º Domingo do Tempo Comum
Certamente, vocês como eu já receberam muitos convites pela vida afora. Mesmo as propostas mais simples podem ter conseqüências imprevisíveis. Um jovem pode achar que está indo apenas para uma festa comum, e lá acontece algo que muda a sua vida. Pode ser para o melhor: ele conhece uma garota que vai ser o seu grande amor. E pode ser para o pior: ele experimenta a primeira dose da droga que vai ser o seu maior pesadelo...
O ser humano não nasce pronto. Nós nos vamos construindo ao longo do tempo. Como sabemos, a construção da nossa vida depende das escolhas que fazemos diante dos encontros com outras pessoas.
Mas ninguém nos obriga a fazer essas escolhas, quase sempre somos nós que selecionamos a influência que queremos para nós. Alguém que se deixa manipular nessas escolhas, quem não tem vontade própria é um boneco de teatro, o que o povo chama de “Maria-vai-com-as-outras”. Verdade é que não crescemos sem os outros. Cada um de nós se lembra de encontros que marcaram a sua vida. No entanto, não podemos virar cópias de outros. Devemos selecionar o que de bom os outros nos oferecem, e, assim, nós somos essa obra maravilhosa única, essa pessoa sem igual, que cada um de nós é.
O evangelho de hoje nos fala de um encontro que transformou pessoas, dois discípulos de João Batista. João Batista, como sabemos, era um pregador afamado, com muitos discípulos. O que eles estavam buscando? Estavam esperando a chegada do Messias. Alguns achavam até que fosse João Batista. Mas, como ouvimos no Evangelho do domingo passado, ele mesmo disse que não era ele: “Depois de mim virá alguém mais forte do que eu. Eu nem sou digno de me abaixar para desamarrar as suas sandálias” (Mc 1,7).
João Batista, vendo Jesus que ia passando, apontou para ele e disse: “Eis o Cordeiro de Deus”, uma pessoa especial, o próprio Deus-conosco, este é o Messias. Ele era maior que João Batista.
A reação dos discípulos foi imediata: sem esperar que fossem chamados, tendo ouvido as palavras de João, seguiram Jesus. Jesus percebe os dois e lhes pergunta: “O que vocês estão procurando?”.
Eles fazem outra pergunta a ele: “Mestre, onde moras?”. Reconhecendo que Ele tinha algo a ensinar, chamam Jesus de mestre. Queriam ficar com ele e viver seguindo seus ensinamentos. Por isso querem saber onde ele vive, onde fica a sua residência. Não perguntaram o que ensinava e o que pensava. Aos discípulos interessava, antes de tudo, como Ele vivia, interessava a vida do mestre.
Jesus concordou com o pedido dos discípulos e responde: “Venham, e vocês verão!.
Nós hoje, também, perguntamos: “Onde, Rabi, em dias turbulentos como os nossos, podemos te encontrar? Onde moras neste mundo de tantos conflitos? Será que ainda te encontraremos em tua casa? Precisamos escutar tua voz nos convidando novamente: ’Venham, e vocês verão!’”.
Observando os dois discípulos, vemos que eles foram e permaneceram com Jesus naquele dia. Esta atitude de permanecer com o Mestre fez deles testemunhas e instrumentos de Jesus para chamar outros... Era a vez de André dar o seu testemunho: “Nós encontramos o Messias”. Uma testemunha puxa a outra, e assim vai se formando a comunidade dos seguidores de Jesus.
“Mestre, onde moras?” perguntaram os jovens. “Vinde ver”, respondeu o Mestre. A partir deste momento tudo se modificou radicalmente na vida daquele grupo de jovens. Tudo tomou outro rumo. A vida inteira assumiu outro sentido.
A experiência de Jesus não é um vago sentimento, mas é um compromisso com a causa do Reino pelo qual Jesus deu sua vida.
Hoje, o Senhor nos convida novamente: “Venham, e vocês verão!. Em meio aos conflitos, desejos e sonhos das pessoas com quem convivemos, em meio às noticias chocantes que chegam aos nossos ouvidos, em meio à realidade contrastante que nos deixa muitas vezes perplexos, Cristo está nos chamando a ir e ver sua casa, seu rosto, suas escolhas, seus valores, sua vida.
Onde ele mora? É na ação, no serviço prestado aos irmãos, que iremos descobrir o endereço de Cristo.
Lamentavelmente, hoje em dia, há muitos cristãos que reduzem sua relação com Cristo à satisfação de interesses imediatos: querem que ele resolva todos os seus problemas, ou que ele satisfaça suas necessidades religiosas, mas não se comprometem com a pessoa dele, nem com o projeto dele. Muito menos se comprometem com a sua Família, a Igreja-Comunidade. Parece que cada um quer o seu “cristinho” particular.
Permanecer com Ele é aceitar o desafio de ler com olhos de fé este livro da vida e traduzi-lo a outros.
Nesta celebração de hoje, abramos o nosso ouvido e assim vamos ouvir Cristo, chamando a cada um de nós pelo nome. Tenhamos a coragem de seguir o chamado dele e, com certeza, ele nos vai dar uma resposta aos nossos anseios e desejos mais profundos.
Assim, também, contagiados pela presença de Cristo, sejamos uns para os outros sua morada, sua presença, em nossas palavras, valores, escolhas, atitudes...
O Evangelho nos revela a força do testemunho. No começo é João Batista que dá o seu testemunho sobre Jesus: “Eis aí o Cordeiro de Deus”. Em seguida, é o próprio Jesus que apela para a força do seu testemunho: “Venham e vocês verão”. Mais à frente, é a vez de André dar o seu testemunho: “Nós encontramos o Messias”. Uma testemunha puxa a outra, e assim vai se formando a comunidade dos seguidores de Jesus.
Qual é o nosso testemunho? A vida cristã não se resume em ouvir a Palavra e rezar. A vida cristã é vivência daquilo que a nossa boca proclama: é pôr em prática a fé. É dando testemunho daquilo em que cremos. Foi o testemunho do amor que fez crescer a primeira comunidade cristã. “VEDE como eles se AMAM”!
É na ação, no serviço prestado aos irmãos, que iremos descobrir o endereço de Cristo!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm