Homilia - 25/01/2015 - 3º Domingo do Tempo Comum
Às vezes, um amigo a quem queremos bem começa a tomar um caminho que achamos arriscado; aí dizemos: “Cuidado! Você vai se dar mal!”. Isto vale para todos nós. A sabedoria popular afirma, que “é melhor prevenir do que remediar”. Para prevenir, é preciso tomar cuidado, escolher caminhos mais seguros, ouvir os conselhos de gente experimente que gosta de nós.
Essa é a história que encontramos na primeira leitura. Jonas anuncia a destruição de Nínive, a capital da Assíria. Com a conversão dos ninivitas, Deus desiste da destruição da cidade.
A história do livro de Jonas deveria nos fazer pensar. Falando de destruição e ameaça, ela nos quer mostrar a misericórdia de Deus;
Como Jonas em Nínive, Jesus também surge no meio do povo transmitindo uma mensagem de Deus. Mas, ao invés de anunciar a destruição da cidade, Jesus anuncia algo muito bom: Deus quer nos oferecer um Reino, quer nos facilitar o nosso acesso ao céu.
“O tempo já se completou e o Reino de Deus está próximo” (Mc 1,14). O tempo de espera chegou ao fim. O Reinado de Deus já é uma realidade. Para acolher essa proposta, todos temos de nos converter, pois a vida como está aí é a contradição de tudo o que Deus havia pensado para nós. Jesus marca o fim de uma longa etapa e o começo imediato de um tempo novo e diferente.
O Reinado de Deus, há tanto esperado, agora chegou. Faz-se necessário, imediatamente, adaptar-se às novas exigências. Mudar a nossa maneira de pensar e de agir. «Acreditai no Evangelho, nesta Boa Nova». Este projeto de Deus é a melhor notícia que Deus nos pudesse dar.
Depois deste anúncio da Boa Nova, a primeira atuação de Jesus é procurar colaboradores para levar adiante o seu projeto. Jesus «passa à beira do mar da Galileia». Começou o seu caminho. É um profeta itinerante que procura seguidores para fazer com eles um percurso apaixonante: viver abrindo caminhos ao Reino de Deus. Não é um rabi (mestre) sentado na sua cátedra, que procura alunos para formar uma escola religiosa.
Pedro, André, Tiago e João, pescadores de Cafarnaum, perceberam que Jesus os estava observando seu trabalho.
Jesus disse: “Segui-me, eu farei de vós pescadores de homens”. Eles ouviram o seu chamado certamente surpresos.
Não procuraram explicações, não esperaram, simplesmente deixaram redes, barcos, praia, companheiros e o pai e seguiram a Jesus.
Quem eram esses homens? O horizonte da vida deles era o mar, o barco, peixes e rede. Será que eles conseguiram avalias o que os estava esperando: insegurança, dureza, um caminho de incompreensão e perseguição?
Para que Jesus os chama? O que significa ser “pescadores de homens”;
Jesus também nos chama. Nossa rede agora é outra. A rede do cristão é uma rede que aproxima pessoas. Rede de amor, rede de solidariedade, rede de comunidade. Uma rede que nos aproxima do próprio Deus, que nós costumamos achar que está tão longe, fora deste mundo e da nossa realidade.
“Segui-me, vinde comigo, farei de vós pescadores de homens”, este foi o convite dirigido a Pedro, André, Tiago e João, pescadores de Cafarnaum.
A primeira impressão que a gente tem é que Jesus estava escolhendo pessoas erradas para uma missão tão grande quanto a de pregar a chegada do Reino do Céus. A um primeiro momento, até parece que Jesus convocou os primeiros que lhe cruzaram o caminho. Como ele pôde dirigir este convite a pescadores analfabetos, pessoas provincianas? Este é o nosso raciocínio humano, no entanto, os caminhos de Deus são outros.
E nossa surpresa aumenta quando entendemos que o convite de Jesus é dirigido a cada um de nós. Jesus chama cada um de nós para a mesma tarefa. E nós nos perguntamos: “Eu? Poderei eu ser um bom apóstolo de seu Reino?”. Se nos examinarmos, teremos de reconhecer que somos muito limitados, provincianos ou, como aqui dizem “Manézinhos da Ilha”, indignos e incapazes de anunciar as verdades eternas para a salvação dos outros. Como Moisés começamos a gaguejar, como Davi, sentimo-nos pecadores e somos tentados a não aceitar o convite. Mas a voz de Deus continua nos chamando e seu convite não nos abandona.
O que fazer então?
Jesus nos convida a uma parceria para construirmos com ele o Reino de Deus e diz: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. Crer, nesse caso, não é só repetir fórmulas decoradas do catecismo,freqüentar uma igreja ou acender velas para um santo. É mostrar com a própria vida, que levamos a sério a proposta de Jesus. Crer é transformar, dentro de nós, tudo o que precisa ficar de acordo com o Evangelho.
Ser cristão não é brincadeira, nem mera busca de conforto emocional nas dificuldades. Somos chamados a ser humildes e simples como crianças. Deus, mas também para recebermos com fé o projeto de pede que pede um posicionamento adulto diante das diante das tarefas que nos cabem na transformação da realidade.
Como os primeiros apóstolos, somos convidados a “pescar gente” dentro do projeto do Reino de Deus. Não se trata só de pescar gente para vir à Igreja, trata-se, também, de formar parceria com muita gente – tenha a religião que tiver – para construir um mundo melhor.
O pescador de peixe pesca para o seu próprio benefício. A pesca da Igreja tem que ser diferente: não é estratégia para aumentar a clientela. O pescador de gente, à moda de Jesus, pesca para dar às pessoas “pescadas” uma tarefa empolgante, uma oportunidade de fazer diferença neste mundo atribulado (ex. Pastoral da Criança,idosos, doentes).
Nossa pesca não é feita nas nuvens, vivemos numa realidade concreta, com problemas, angústias, conquistas e alegrias, mas também de guerras e muita violência.
Aqui onde estamos observamos muitas coisas boas como ação da graça, mas observamos também o que falta fazer no trabalho, nas escolas, nas famílias, no atendimento dos doentes e idosos, na política, na Igreja...
O que ainda falta é um desafio para fazer algo que acrescente justiça, fraternidade e felicidade à vida humana. Esta é a tarefa que Deus nos confiou.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm