Homilia - 19/07/2015 - 16º Domingo do Tempo Comum
Lendo o trecho do Evangelho de hoje, uma palavra me chamou atenção, a palavra “COMPAIXÃO”. “Jesus, vendo o povo, sentiu compaixão dele” (Mc 9,36). Jesus viu este povo numa situação desesperadora. A maioria de seus líderes políticos buscando seus interesses pessoais e não estão nem aí para a causa do povo. Não só não promovem a justiça, como praticam a injustiça e estão contaminados pela corrupção. E ainda fazem tudo isso acobertados pela Lei. Jesus vê essa situação do povo e tem compaixão.
A primeira leitura de Jeremias já começa bem forte: “Ai dos governantes, pastores que destroem e dispersam o meu rebanho” (Jr 23,1), reclama o Senhor. Deus reclama dos pastores que, em vez de cuidar, violentam o povo.
Outro dia, assistindo ao noticiário da TV, fiquei pensando, se Jesus estivesse sentado no meu lugar assistindo ao noticiário, vendo esta sequência de acontecimentos tristes, desanimadores, jocosos, horríveis... matéria de discussões sem fim, de violência, guerra, de paixões, de vingança...o que Jesus sentiria? Quem estivesse ao lado de Jesus nessa hora, observaria: “e Jesus está sentindo compaixão, Jesus tem pena do povo”.
E nós, olhando esse povo que anda angustiado, apressado pelas ruas de nossa cidade, vendo as dezenas de moradores de rua dormindo nas calcadas de nossas ruas, olhando as moradias precárias em que mora a maioria das pessoas, vendo o atendimento insuficiente dos doentes nos hospitais, vendo os idosos abandonados nos asilos, vendo as crianças com fome e sem ensino, vendo a juventude sem instrução e orientação... o quê sentimos?
Por um lado é bom quando os meios de comunicação nos comunicam, denunciam, mostram as injustiças, os sofrimentos, as necessidades do povo. Mas, por outro lado, pode ter um lado negativo: de tanto ver o desamparo, as tragédias, as agressões à dignidade humana, corremos o risco de a gente se acostumar à miséria humana e de banalizar a desgraça do povo. A gente pode se acostumar e acaba achando natural o que é absurdo.
Será que nós temos os mesmos sentimentos que Jesus teve em relação às pessoas que estão sofrendo? Será que nós temos a capacidade de nos identificarmos com os seus dramas, com os seus sofrimentos, com as suas angústias, com os seus problemas?
Muitas vezes, tranquilizamos a nossa consciência porque ficamos indignados com os “pastores”, com os políticos e governantes que são negligentes, exploram e oprimem, mas não passamos disso. Talvez nos limitamos a condenar os que erram. Jesus não age assim, não profere palavras agressivas, mas senta-se ao nosso lado e dialoga, entende os problemas e as situações do povo e “começa a ensinar-lhes muitas coisas, porque eram ovelhas sem pastor” (Mc6,34).
Podemos ver nestas ovelhas sem pastor de que nos fala o Evangelho, principalmente, o retrato da juventude de hoje. Parece que, em outros tempos, os adultos sabiam dar conselhos, e que eles mesmos sabiam melhor para onde ir. Parece que os jovens não sabem para onde se voltar. Será que os pais perderam a autoridade? Não é possível que os jovens sejam piores que os de antigamente.
Mas, não vejo apenas os jovens sem direção; esmo nós adultos estamos inseguros. Qual é a direção de nossa vida? Onde você quer chegar? Onde fica o porto final de minha viagem no mar da vida? Onde fica o terminal de ônibus que conduz meus sentimentos e minhas ações?
Vejo as pessoas tontas, andando pelas ruas, levantando de manhã e se dirigindo ao trabalho, voltando à noite, cansadas e debulhando os problemas que enfrentaram, todas as coisas que não deram certas...
Vejo as pessoas lutarem para amontoar riquezas, sonhando com uma segurança econômica, gastando sua saúde e tempo em coisas muito passageiras...
Vejo pessoas que preferem viver na solidão, preferem fechar-se em si mesmas para não serem incômodo para ninguém e para não serem incomodadas....
Onde as pessoas querem chegar com tudo isso? Com o vai-e-vem de todo dia, com os anos que passam, com o físico que se gasta? Qual é a direção de tudo isso?
Diariamente vejo gente perdida. Gente se perguntando: que sentido tem minha vida? Para que estou vivendo?
Diariamente escuto gente dizendo: “Não me entendo mais... Não sei mais o que fazer com minha vida... Estou confuso e perdido... Já não sei mais nada...” E assim perderam a direção, perderam o caminho, ou andam em caminhos sem saber aonde chegar. Isto leva muita gente a consultar ciganas, adivinhos, Pai de Santo, horóscopos..
É necessário buscar a direção da vida. Os amigos podem ajudar. Os livros de auto-ajuda podem auxiliar. Os psicólogos podem indicar direções. Porém, o caminho cada um tem que escolher. Não sabemos o que vai acontecer no dia de amanhã, mas podemos ter a certeza de saber com quem andamos...
Alguém um dia mandou as pessoas pararem um pouco e começou a ensinar: “Eu sou o caminho... quem me segue não anda nas trevas...”.
A pessoa de Cristo é o caminho. Jesus não nos diz o que vai acontecer amanhã. Suas palavras são a luz que ilumina o caminho e, assim, temos a certeza que não nos vamos perder. Suas palavras são o caminho. Caminho que se chama amor, perdão, luz, amizade, unidade, diálogo, compreensão e compaixão.
Se conseguirmos transmitir às crianças e aos jovens não só a ideia de que Jesus nos ama, mas se conseguirmos fazer sentir, também, o calor desse amor e dessa compreensão do Senhor, que ficou “com compaixão por eles, pois estavam como ovelhas sem pastor, creio que os jovens, e nós mesmos recuperaremos a confiança na vida de que precisamos.
Sigamos em frente no caminho que toma a direção do amor a Deus e aos irmãos.
Frei Gunther Max Walzer