Homilia - 21/07/2015 - Missa de Santo Antônio
Que situação complicada. O evangelho de hoje nos fala dos parentes de Jesus. Eles se dirigem a Cafarnaum para buscar Jesus e querem levá-lo para casa. Por quê?
Eles têm seus bons motivos para estarem preocupados. Já se passaram alguns meses desde que ele abandonou a família e começou a andar pela Galiléia, anunciando o Reino de Deus. Em Nazaré chegaram notícias contraditórias sobre a sua atividade: alguns falam com entusiasmo a respeito dele, outros levantam duram críticas.
Jesus amava sua família. Sua mãe e irmãos lhe eram muito queridos, e eles todos o amavam com muito amor. E olhem só que, lá pelas tantas, aquele rapaz já maduro, até então um pacato carpinteiro, começa a pregar coisas diferentes, estranhas. E o pior: as multidões o ouvem, o seguem, ficam fascinados por ele. A família fica alarmada. Teria ele alguma perturbação, um ataque de loucura? O remédio é ir atrás. Falar com ele. Buscá-lo.
Ao chegarem em Cafarnaum, encontram Jesus que já está morando numa nova casa e está falando para um grupo de pessoas que já forma a sua “nova família”.
“Enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do lado de fora, procurando falar com ele”.
Então Jesus teve irmãos? Para evitar qualquer dúvida, temos que entender a Palavra “irmão”. A palavra “irmão”, em hebraico “ah”, indicava vários tipos de parentesco; podia ser sobrinho ou primo por exemplo. A bem da verdade dos evangelhos, não se tem nenhum conhecimento de que Jesus tenha tido irmãos carnais. Pelo contrário, eles nunca aparecem e, ao longo dos séculos, nenhum autor sério interpreta diferentemente o que estou afirmando. Só as más intenções de algumas seitas modernas ainda contradizem esta Tradição, mais pelo motivo de não aceitarem a virgindade de Maria.
Agora quero voltar ao texto do evangelho.
“Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?”. E Jesus responde: “Aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”.
Neste momento Jesus rompe os laços puramente sanguíneos para trocá-los por outros ainda mais fortes e mais densos. Eram os laços da fé, a comunhão total com o Pai do céu. Com isso, os antigos laços de família não se limitariam mais a pessoas com o mesmo sobrenome. Pelo contrário, iam estender-se a todos que tivessem o mesmo nome: o nome do Pai, o nome do Filho e o nome do Espírito Santo.
Todos nós somos parentes de Jesus, pertencemos à sua família, na medida em que nossa vida é a realização da vontade e dos planos de Deus a nosso respeito.
E qual é a vontade de Deus a nosso respeito? Vivemos em tempos difíceis. Ninguém mais tem tempo para nada, e menos ainda para parar para ouvir a voz de Deus. Depois de certas frustrações da vida, as pessoas lançam sobre o Senhor suas revoltas.
Quantas vezes ouvimos: “Preciso saber qual é a vontade de Deus em minha vida”; “Deus não olha para mim”; “O que Deus quer de mim?”; “Por que o Senhor não realiza os meus sonhos?”; “Onde está Deus?”. Questionam, mas não refletem sobre a maneira como vivem, sobre os erros, sobre a falta de fé, sobre a falta de obediência à voz divina, que fala em nosso interior por meio da nossa consciência, da leitura da Bíblia, do que acontece à nossa volta.
Por isso é preciso estarmos atentos, controlar a nossa ansiedade, acalmar o nosso coração por meio da oração, ouvir a Deus, obedecê-Lo e ser feliz cumprindo sempre e em primeiro lugar a vontade d'Ele, a qual nem sempre agradará o nosso coração.
Por causa do nosso egoísmo, muitas vezes, sofremos, porque insistimos em fazer a nossa vontade achando ser o melhor para nós. Agindo assim, acabamos desviando-nos das graças reservadas para a nossa vida. O Senhor nos criou e sabe o que é melhor para nós. Por outro lado, é preciso também dar passos concretos em direção à vontade divina, sinalizada para a nossa vida. Por exemplo, diante de um desemprego, não batermos às portas das empresas, espalharmos currículos, anunciarmos para os outros que estamos precisando de uma oportunidade, ou seja, se não irmos à luta nada vai acontecer.
O evangelho de hoje é um chamado para refletir: não é suficiente fazer parte da “família de Jesus" na aparência, não basta ter o certificado de batismo.
É preciso estar sempre atento às palavras de Jesus e praticá-las. Fazendo a vontade de Deus, Jesus nos diz: “você é meu irmão, você é minha irma!”.
Frei Gunther Max Walzer