Homilia - 28/06/2015 - Solenidade São Pedro e São Paulo
Celebramos hoje a festa dos apóstolos Pedro e Paulo. É uma celebração antiquíssima, anterior à festa do Natal. Os dois apóstolos são as duas colunas da Igreja, mártires da Igreja primitiva, exemplos de seguimento de Jesus para nós.
Festejando São Pedro e São Paulo, nós nos perguntamos, afinal, quem eram esses dois apóstolos.
Aí temos primeiro o Pedro. Seu nome original é Simão. Era um filho do campo; foi simples pescador do lago da Galiléia. As narrativas bíblicas descrevem Pedro com um temperamento impulsivo até colérico. Chamado por Jesus, ele quer seguir o seu Senhor até a morte, mas aí ele mostra a sua fraqueza. Pedro foge e trai o seu Senhor mais tarde. Há muita boa vontade nele, mas também muita fraqueza humana. Mas é por isso que ele é tão simpático para nós. Porque ele é tão humano. Dois sentimentos e duas atitudes aparentemente contraditórias: tudo ou nada, entusiasmo e compaixão; avançando com o coração na mão e quebrando a cabeça na parede. Ele mostra fraqueza, cai e aprende a levantar de novo. Esse caráter de Pedro também existe em cada um de nós – talvez também em você? E justamente a este Pedro diz Jesus: “Tu és Pedro, a pedra, e sobre esta pedra quero edificar a minha Igreja...”
Se nos Evangelhos Pedro negou Jesus diante de uma empregada, nos Atos dos Apóstolos, encontramos um outro Pedro. Agora ele enfrenta multidões e as maiores autoridades do povo. Ele se entrega totalmente à Igreja, entrega-se totalmente a Jesus Cristo e ao Evangelho. É preso, humilhado, apanha, sofre, morre por Jesus, morre como Jesus numa cruz. Talvez, seu último pensamento terá sido: “Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu Te amo!” (Jo 21,17).
E Paulo, quem era? Ele é de Tarso na costa do mar mediterrâneo; seu nome era Saulo; de profissão confeccionava tendas e era profundo conhecedor da lei judaica, fervoroso judeu e cidadão romano; inteligente e eloquente; agia mais com a cabeça do que com o coração; chegou a ser quase fanático em sua perseguição aos cristãos. Jesus vai tirá-lo da sua posição orgulhosa mais ou menos com 28 anos quando ele cai do cavalo na estrada de Damasco.
Ele ouve a voz: “Saulo, Saulo, por que me persegues?” – “Quem és tu, Senhor?” pergunta ele. “Eu sou Jesus, é a mim que tu persegues”.
Paulo se torna o grande pregador do Evangelho, o grande missionário dos gentios. Paulo se torna um apaixonado por Jesus Cristo: “Eu vivo, mas já não sou eu que vivo, pois é Cristo que vive em mim” (Gl 2,20).
Uma tradição romana do primeiro século conta que Pedro morreu crucificado de cabeça para baixo, e foi sepultado na colina do Vaticano, onde hoje está a grande Basílica de São Pedro.
Paulo teve a cabeça decepada e foi sepultado fora da cidade onde, hoje, se ergue a imponente Basílica de São Paulo, fora dos muros.
Tendo morrido mártir em Roma, como Paulo, e tendo sido Jerusalém arrasada pelos romanos, a Igreja de Pedro se tornou o centro e a cabeça da comunhão entre as Igrejas.
Por isso, o dia de hoje se tornou o dia do Papa. Devemos ter a consciência de que, para participar da verdadeira Igreja de Cristo, devemos estar em comunhão com aquele que exerce hoje o ministério de Pedro, o Papa, o bispo de Roma.
Como veem os católicos o Papa Francisco? O que ele diz de si mesmo?
As palavras dirigidas aos bispos na viagem ao Brasil, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, expressam bem a maneira de ser do Papa Francisco. Vendo o que ele disse, nessa e em outras ocasiões, podemos traçar o perfil de seu estilo pastoral. “O bispo deve guiar, que não é o mesmo que dominar".
E acrescentou: “Os Bispos devem ser Pastores, próximos das pessoas, pais e irmãos, com grande mansidão: pacientes e misericordiosos. Homens que amem a pobreza, quer a pobreza interior como liberdade diante do Senhor, quer a pobreza exterior como simplicidade e austeridade de vida. Homens que não tenham “psicologia de príncipes”.
Sabemos que nossa Igreja não é invenção humana, nossa Igreja foi instituída por Jesus Cristo, e por isso nada poderá prevalecer contra ela. Temos consciência, sim, de que ela também é pecadora, mas isto por nossa culpa, não por causa do seu fundador. Se a Igreja é santa, é por causa de Cristo, se ela é pecadora, é por nossa causa.
Atualmente, muitos escândalos são amplamente divulgados pela imprensa. Todos nós nos sentimos atingidos e, com razão, ficamos perplexos e tristes por atos inadmissíveis praticados por padres. Sabemos que formamos um só corpo. Quando um membro está doente, é todo o corpo que sofre. Mas é preciso lembrar que a nossa Igreja é mais que pessoas frágeis que a compõem. Ela está edificada sobre a rocha firme de Cristo e do testemunho dos apóstolos.
Sejamos fiéis discípulos e missionários de Jesus Cristo! Oxalá, um dia possamos dizer como São Paulo: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé. Agora está reservada para mim a coroa da justiça, que o Senhor me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que esperam com amor a sua manifestação gloriosa”.
Frei Gunther Max Walzer, Ofm