Homilia - 11/10/2015 - 28º Domingo do Tempo Comum
Neste momento histórico do nosso país, momento de crise política, econômica e ética, as leituras da liturgia que acabamos de ouvir são muito apropriadas. Todos nós sabemos e estamos sentindo na pele a força violenta da crise. As crises têm uma ou várias origens, no entanto, podemos, facilmente, descobrir uma origem causada pelas pessoas que aderiram à idolatria do poder e do mercado, levadas pela ânsia da riqueza.
O início da crise que vivemos hoje no Brasil é ético; está na imoralidade de políticos e empresários que se deixaram cegar pelo egoísmo e preferiram cultuar a idolatria do mercado levados pela força da ganância.
Certamente, o país não se encontraria nesta crise sem precedentes, se os governantes agissem com a “sabedoria” de Salomão, como ouvimos na 1ª leitura.
Salomão herdara de seu pai Davi um reino imenso e escolheu a sabedoria, a capacidade de ouvir e o discernimento de poder ver as necessidades do povo.
Para o rei, a “sabedoria” tornou-se o valor mais apreciado, superior ao poder, à riqueza, à saúde, à beleza, a todos os bens terrenos (vs. 8 -10a).
O que é esta “sabedoria” de que aqui se fala? É, fundamentalmente, a capacidade de fazer as escolhas corretas, de tomar as decisões certas, de escolher os valores verdadeiros que conduzem o homem ao êxito, à realização, à felicidade.
A “sabedoria”, entendida assim, não afastou este rei dos outros bens… Pelo contrário, a opção pela “sabedoria” fê-lo encontrar “todos os bens” e “riquezas inumeráveis” (v. 11), pois a “sabedoria” está na base de todos eles. É ela que lhe permite gozar os bens terrenos com maturidade e equilíbrio, sem obsessão e sem cobiça, colocando-os no seu devido lugar e não deixando que sejam os bens materiais a conduzir a sua vida e a ditar as suas opções.
No contexto social que vivemos, o tema da riqueza está unido ao dinheiro, a bens de imóveis, a carros, a viagens caras, a empresas e empresários bem sucedidos. Está ligado também a coisas vistosas, bonitas, e até mesmo à beleza, como demonstra a indústria da moda, e está ligada ao lazer. A riqueza tornou-se ostentação e, algumas vezes, uma ostentação moralmente agressiva contra pessoas mais pobres.
Vivendo na mentalidade de riqueza que valoriza o dinheiro e os bens, é muito complicado ouvir, entender e assumir a proposta de Jesus.
O evangelo de hoje nos embaraça. Pois nós queremos como este jovem rico ser duas coisas ao mesmo tempo: rico e discípulo/a de Jesus. Não devemos, porém, amolecer este evangelo dizendo: “Isso é só para os religiosos que fizeram voto de pobreza.” Não, este evangelo è um questionamento para todos nós. Como lidamos com a nossa riqueza, com aquilo que nós temos à disposição. Jesus quer nos alertar por meio do diálogo com o jovem rico para o perigo que está em qualquer riqueza: que sempre quer ter mais. Assim, a riqueza se torna uma prisão, um deus ao qual servimos, mas o dinheiro e a riqueza não serve mais às pessoas.
Às vezes, me dá tontura na cabeça quando ouço os números da quantia de dinheiro que políticos e empresarios desviaram da Petrobrás e depositaram nas contas bancárias na Suiça ou o dinheiro que se paga nos contratos de jogadores nos clubes de futebol.
Os milhões e bilhões não dá nem para imaginar. Mas isto não é somente um problema dos super-ricos. A riqueza no sentido de Jesus não começa só com os milhões na conta bancária, mas em todo lugar onde eu tenho mais que eu preciso para uma vida responsável e para segurar o futuro. Neste ponto até muitos de nós estão questionados.
O jovem rico cumpre os mandamentos de Deus. Ele não deve questionar a si mesmo. Mesmo Jesus não questiona nada. Ele até está gostando dele. Jesus não despreza o jovem rico, mas ele o convida para algo maior. Aí o jovem rico vai embora. A sua riqueza era para ele importante demais de abrir mão de tudo isso. A sua riqueza se tornou uma prisão da qual ele não consegue mais se libertar. Jesus gostou dele e até ele, provavelmente, ficou triste porque o jovem rico não conseguiu se superar para seguir ele totalmente.
E Jesus fez uma grave admoestação: "Como é difícil os que têm riquezas entrarem no Reino de Deus!" (v. 23). E diante do espanto dos discípulos, completou ainda com mais veemência: "É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus!" (v. 25). Esta comparação é evidentemente figurativa. Quer indicar algo humanamente impossível.
Estas palavras assustaram profundamente os discípulos, que começaram a comentar: "Então quem se poderá salvar?" (v. 26). Mas Jesus, olhando bem para eles, disse:"Aos homens é impossível, mas a Deus não; pois a Deus tudo é possível" (v. 27). E isso mesmo que temos que aprender: só a força da graça de Deus - em certos casos, um verdadeiro milagre - é que consegue mudar a posição das pessoas fixadas e presas às coisas materiais. A riqueza pode fazer endurecer o coração das pessoas, pode matar a fé, o amor fraterno, a dedicação aos valores do espírito. O dinheiro torna árido o coração, fecha as pessoas no egoísmo, impede que elas se abram na direção de Deus e dos irmãos. Todo o mal-estar que reina no mundo pela má distribuição das riquezas vem daí. Os donos de riquezas querem ficar cada vez mais ricos. E acabam oprimindo os pobres, fazendo-os ficar cada vez mais pobres. Mas não faltam milagres da graça de Deus, abrindo o coração de detentores de grandes fortunas, transformando-os em benfeitores da humanidade, sobretudo pelo exemplo de sua pobreza abraçada pelo reino dos céus. Bastaria entre todos o exemplo luminoso do "poverello" de Assis.
O que fazer, então? A proposta de caminhar na vida está no Evangelho, o livro da sabedoria. Jesus, na Liturgia, é chamado de “sabedoria de Deus”, aquele que ilumina o caminho, aquele que é o caminho da vida. Se você ler e meditar o Evangelho, principalmente os ensinamentos de Jesus, perceberá que Jesus ensina a viver desapegado dos bens; não recrimina quem tem dinheiro, mas insiste em ter um coração de pobre, que significa, ter um coração livre, desapegado, capaz de viver sem esquecer quem precisa de ajuda, capaz de vender aquilo que se tornou peso e causa de tristeza.
Deixo uma pergunta para você: Que tipo de riqueza você busca; que tipo de riqueza você cultiva em seu coração? Medite a Palavra de Deus, principalmente o Evangelho, porque esta penetrará no teu coração e revelará se lá existem correntes ou ídolos que te impedem de ser livre. Amém!
Frei Gunther Max Walzer, Ofm