Homilia - 25/10/2015 - 30º Domingo do Tempo Comum
Comemoramos no dia de hoje o DIA NACIONAL DA JUVENTUDE. Sempre que falamos em juventude, logo a gente liga à palavra “juventude” a palavra “futuro”. A gente diz que “a juventude é o futuro da Nação”, “o futuro pertence à juventude”, ou “esse jovem tem futuro”, quando um jovem tem sucesso no estudo ou na profissão.
Como será o futuro da juventude?
O Evangelho de hoje fala da cegueira. Estamos num contexto social, no qual a crise produz cegueiras. Uma delas é considerar que a agressividade e a violência sejam as únicas formas de resolver os problemas. Outra é entrar em processo de desalento e, a exemplo de Bartimeu, o cego do Evangelho, ficar sentado à beira do caminho esmolando recursos em troca de votos. Outra cegueira é aquela da raiva diante da impotência de poderes que arrogantemente se distanciam do povo e do povo se aproximam de quatro (agora cinco) em quatro anos. Assim,do ponto de vista psicológico, a crise pode conduzir a duas cegueiras extremas: aquela violenta e agressiva e aquela da insensibilidade social, que produz a inércia e aceitação passiva, considerando até mesmo que esta seja a vontade divina.
A primeira leitura nos fala de um povo que sofre devido à mentira, à arrogância de seus líderes. Um povo que se tornou vítima da idolatria do poder e do dinheiro, da parte de seus dirigentes. É neste contexto que Jeremias profetizava para seu povo.
O que profetiza? A necessidade de não perder a esperança em Deus e suplicar a salvação do povo (1ª leitura).
Ouvimos no Evangelho o episódio da cura do cego de Jericó. O evangelista Marcos não está só contando um episódio de um milagre; ele quer comunicar algo mais aos seus leitores com a história do cego.
O cego Bartimeu estava sentado à beira da estrada, ele conhecia as suas deficiências: ele não enxergava, não podia ver nada.
Quem são os cegos de hoje?
Cegos são muitos cristãos, porque não enxergam a realidade ou veem a realidade através de um filtro do seu eu, isto é, só enxergam aquilo que lhes convém. Muitas coisas erradas acontecem e não enxergamos ou não queremos enxergar.
Também, temos cegos à beira do caminho da Igreja: gente que vem à Igreja, participa, sai da missa e continua tudo como era antes. Não percebem que há um caminho que está sendo proposto no Evangelho por Jesus. É gente que pensa que o suficiente é vir à missa aos domingos, gente que não sabe o que a Igreja diz sobre a vida, a família, a solidariedade, a justiça social.
Outro aspecto do Evangelho de hoje chama a nossa atenção: o cego grita e alguns querem que ele fique quieto.
É a turma do “deixa disso”, a turma do “não adianta”, a turma do “é assim mesmo”, a turma que deixa o povo cego, ignorante.
É a turma que critica a confissão, porque a considera antiquada; critica a caridade para com os pobres, porque dizem que está se ajudando a vagabundagem e a preguiça.
Queriam que ele se calasse. Isso pode acontecer conosco. Quando começamos a nos perguntar pelo caminho certo da vida, surgem as vozes que nos querem desanimar, nos querem fazer desistir, são os próprios familiares, são vizinhos, amigos de festa, os que continuam nas trilhas da corrupção, os que gozam de nossa participação ativa na Igreja, dizendo que religião é coisa das mulheres, ou os que põem mil defeitos nos padres e na Igreja.
Mas o cego não desanima, ele gritou; e ao mandarem calar-se, gritou mais alto ainda: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” E Jesus o chama. Aí não dá mais para segurá-lo. Ele vai a Jesus: ele grita, joga fora a capa, dá pulos.
E o milagre acontece. “A tua fé te curou”.
O cego recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho. O cego curado é modelo do discípulo que precisa ver direito quem é Jesus, precisa conhecer bem o que ele propõe, para depois seguir com ele pelo caminho, mesmo que esse caminho passe pela cruz. Só se torna discípulo de Jesus aquele que quer ver, quer conhecer; é andando com Jesus que a vista vai clareando ao longo da estrada da vida.
Toda doença necessita de um tratamento. O oculista é Jesus. Os óculos para corrigirem o defeito da vista é a fé. É assim que curamos a nossa miopia e conseguimos ver mais longe, para além dos horizontes humanos.
O milagre que o Evangelho de hoje conta não e apenas um fato sensacional, no estilo do “Fantástico”. É um desafio para nós.
Será que nós já percebemos a nossa própria cegueira? Será que não sou também um Bartimeu sentado à beira do caminho da vida que comete sempre os mesmos erros, um cego pedindo esmolas, sempre dependendo dos outros, dependendo das coisas materiais, ou que está numa dependência de determinados hábitos.
Mas, quem sabe, nós, talvez, precisamos de alguém - como aqueles que se aproximam de Bartimeu-, para nos dizer: “coragem, levanta-te, ele te chama”.
O encontro com Jesus não deixa o Bartimeu numa situação confortável. Antes ele estava sentado; agora ele deve levantar-se e caminhar.
Quem se aproxima de Cristo não vai se deparar com uma vida fácil, confortável, privilegiada. A luz que Bartimeu recebeu o obriga a rever muitos hábitos, muitos comportamentos, muitas amizades. Cristo questiona a maneira de administrar a própria vida, o próprio tempo, os próprios bens.
Resumindo:
1º - Precisamos perceber a nossa própria cegueira e precisamos ouvir o clamor dos cegos que querem enxergar, em vez de silencia-los.
2º - Quem quer ver melhor a vida tem que se envolver, sair da passividade.
3º - Para seguir Jesus temos que enxergar bem seu projeto de vida que Ele nos propõe: uma vida de doação e de serviço.
Frei Gunther Max Walzer