Homilia - 10/01/2016 - Batismo do Senhor
Hoje celebramos a festa do Batismo do Senhor. Em nosso calendário, esta festa fica bem próxima da festa de Natal; na realidade, há entre os dois acontecimentos um espaço de mais ou menos 30 anos. Com o Batismo, Jesus começa o período de três anos de vida pública. Começa sua atividade de missionário e evangelizador. Vai pregar a Boa Nova do Evangelho.
Diz o Evangelho que o povo estava na expectativa da vinda do Messias, isto é, daquele que deveria chegar para tirá-lo da opressão política e religiosa. O povo pensava que pudesse ser João Batista que conclamava o povo a se converter e voltar para a justiça de Deus.
João Batista reage, afirmando, categoricamente, que não era ele: “Eu batizo vocês com água”, diz ele, “mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias.”
Na verdade, o Messias já estava ali no meio daquela multidão, mas incógnito, misturado no meio do povo. Ninguém sabia. Junto com o povo, ele também mergulha na água como sinal, não de uma “conversão”, mas de uma “missão”.
Foi ali, no Batismo no rio Jordão, que tudo começou. Por isso, desde o seu Batismo, tudo que Jesus fez, tudo que lemos e ouvimos no Evangelho, é Jesus que está realizando sua missão sob a ação do Espírito de Deus que nele vive.
Nosso Papa emérito, Bento XVI, ao visitar a vila onde nasceu, ficou durante um instante rezando ao lado da pia batismal e disse: “Aqui tudo começou”. Ele lembrou que sem o Batismo não seria sacerdote e papa, nem cristão.
Esta festa de hoje nos faz pensar no nosso batismo.
Nosso batismo também foi o início de nossa missão como seguidores e seguidoras de Jesus Cristo. O sacramento do Batismo nos faz filhos de Deus e irmãos de Jesus e, com isto, irmãos de todos. O batismo nos faz membros da comunidade de Jesus, da Igreja.
Diz o Evangelho que, quando Jesus foi batizado, “o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma visível, como pomba” e do céu ressoou uma voz dizendo: “Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer”.
Foi isto que aconteceu no nosso batismo e acontece em cada batismo. O Espírito Santo desce sobre o batizado, ou seja, a força viva e pessoal do amor divino e, ao mesmo tempo, o Pai eterno olha para o seu novo filho e diz: “Tu és o meu filhinho em ti ponho o meu bem-querer”.
Quanto Deus nos ama! Não nos falta às vezes a consciência deste amor de Deus? Deus Pai nos ama com a mesma intensidade e plenitude com que ama seu Filho.
Amar a Deus não é uma atitude abstrata ou mental.
Assumindo nosso Batismo é buscar a mesma coerência entre as palavras e a prática de Jesus. Como batizados temos de viver como discípulos de Jesus
Muitos cristãos interpretam o que estou falando com uma única atitude para ser cristão: rezar, orar, ser bom. Está certo! Para nos tornar discípulos de Jesus precisamos ser bons e rezar.
O batismo é um compromisso com a vida, com a construção do Reino de Deus, com a vivência em comunidade. O batizado que se afasta da Igreja, da vida comunitária, tem o certificado de batismo, mas não é cristão. É a sua vivência que o define como filho de Deus, como cristão batizado, vivendo em comunidade. Fora dela o batismo é apenas um gesto externo, mas que não é vivido na sua plenitude. Precisamos com urgência resgatar o sentido do batismo, para sermos instrumentos na construção do Reino de Deus. Para sermos sal, fermento e luz na sociedade.
Viver o batismo hoje significa ser profetas, Eanunciadores dos valores do Evangelho, dessa Boa Nova de Jesus Cristo, onde todos sejam incluídos e merecedores de uma vida digna.
Anunciar Jesus Cristo para o mundo de hoje, tão carente de modelos, é simplesmente imprescindível. Os jovens, de modo geral, buscam tantos outros modelos, e acabam se perdendo, se esvaziando e perdendo o sentido de suas vidas. Quando um jovem encontra Jesus Cristo, muda radicalmente a sua vida. O papa Francisco, na sua passagem pelo Brasil (Jornada Mundial da Juventude), propôs claramente Jesus como o caminho, a verdade e a vida, para todos, mas falando especialmente para os jovens. Quando um jovem se identifica com a proposta de Jesus, sua vida muda radicalmente e ele encontra um sentido profundo para a sua existência.
Além do anúncio, a atitude do profeta é a denúncia daquilo que vai contra os valores do Evangelho. Um batizado não pode compactuar com as corrupções, com os desvios, demonstrando essa sua denúncia através de palavras e também de ações. Às vezes ela se percebe no jeito de ser do cristão, que vive a partilha, a solidariedade, sendo justo e honesto em suas ações. Um cristão desonesto, que passa os outros para trás sem escrúpulos, tem apenas o papel de batizado. Ser cristão é ser o diferencial nesse mundo de tantas corrupções, desvios, mentiras, sobretudo no mundo da política. A nossa vida de batizados só encontrará sua razão de ser, através da vivência dos valores do Evangelho e da indignação daquilo que vai contra essa proposta evangélica. Essa é a atitude profética, a primeira missão de todo batizado.
Viver plenamente o nosso batismo é colocar a nossa vida à disposição dos outros. Sermos sinais de esperança, de coragem, mesmo que isso exija muito sacrifício. Jesus deu a vida para nos salvar. Como é bom ser bom; como é bom fazer o bem; nunca nos cansemos do bem. Devemos nos cansar do mal, da inveja, do ciúme, da depressão, da calúnia, isso sim, mas do bem realizado, jamais devemos nos cansar e desistir de fazê-lo.
Esta é a missão dos batizados e é nossa contribuição que podemos oferecer na construção do Reino de Deus.
Frei Gunther Max Walzer