Homilia - 17/01/2016 - 3º Domingo do Tempo Comum
No evangelho de hoje, encontramos Jesus na sinagoga de Nazaré lendo um texto de Isaías que ele apresenta como seu “programa de ação”. Por isso ele diz que nele se realiza o que a assembleia acabou de ouvir nas palavras do profeta. E o que é que diz o texto? Ele veio para curar corações, recuperar a vista dos cegos, libertar cativos e anunciar a boa nova aos pobres, ou seja, veio para que aqueles membros mais necessitados do corpo da humanidade fossem atendidos. Em outra situação, Jesus lembra que são os doentes que precisam de médico.
Encontramos no texto um detalhe muito importante: o início da pregação de Jesus é a presença do Espírito Santo em sua vida: “O Espírito do Senhor está sobre mim e me envia para libertar...”. Outro detalhe importante, para este tempo que estamos vivendo agora, é o anúncio do Ano Jubilar feito por Jesus no Evangelho, presente nas palavras: “para proclamar um ano da graça do Senhor”.
A celebração do Jubileu consistia para os judeus em uma comemoração de um ano que tinha um significado especial. A festa se realizava a cada 50 anos. Durante o ano os escravos eram libertados, restituíam-se as propriedades às pessoas que as haviam perdido, as dívidas impagáveis dos pobres eram perdoadas, as terras deviam permanecer sem cultivar e se descansava. Era um ano de reconciliação geral e de perdão. Na Bíblia, encontramos algumas passagens dessa celebração judaica (cf. Lv 25,8).
O Papa Francisco convocou a Igreja do mundo todo para um Ano Jubilar Extraordinário dedicado à Misericórdia. O Ano Jubilar ou, como dizemos nós, atualmente, Ano Santo, teve início no dia 08 de dezembro de 2015 e se concluirá no dia 20 de novembro de 2016, ou a Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo.
Após a leitura da apresentação oficial do Jubileu Extraordinário do Ano Santo da Misericórdia, sábado, na Basílica Vaticana, o Papa explicou por que decidiu antecipar em dez anos a convocação de um novo Jubileu.
O Papa foi objetivo e direto em suas palavras explicativas: tratou do essencial. "Simplesmente porque a Igreja é chamada, neste tempo de grandes mudanças, a oferecer mais vigorosamente os sinais da presença e proximidade de Deus", disse o Santo Padre.
“Decidi convocar um Jubileu Extraordinário que tenha o seu centro na Misericórdia de Deus. Será um Ano Santo da Misericórdia”, disse o Santo Padre ao anunciar a celebração. A proposta é viver a misericórdia no exemplo do Pai, que pede para não julgar e não condenar, mas perdoar e dar amor e perdão sem medida (cf. Lc 6,37-38).
Qual o significado da palavra “misericórdia”?
Quando falamos de misericórdia, no contexto do Evangelho que acabamos de ouvir, entendemos a necessidade de alimentar a esperança para que a vida não seja um peso a ser carregado, mas uma festa a ser vivida com alegria.
Ser misericordioso significa colaborar com o projeto divino para libertar quem vive aprisionado na vida pelo motivo que for. Libertar, por exemplo, tantas pessoas que vivem cegas porque são incapazes de ver um sentido para suas vidas; libertar tantas pessoas que vivem coxas, incapazes de caminhar na vida, libertar tantos oprimidos e deprimidos, incapazes de sentir o prazer e a alegria da vida. Ter misericórdia para com esta gente não significa ficar com pena deles, ter dó, mas estender uma mão libertadora para favorecendo-lhes a libertação e a vida plena.
O plano de Jesus pede que todos os marginalizados sejam incluídos na sociedade para usufruir daquilo que a sociedade oferece para o bem da vida de todos, especialmente a dignidade e a alegria.
O Ano Santo da Misericórdia está nos ajudando a entender que ser misericordioso não consiste somente cultivar conceitos emocionais abstratos de dó ou de pena, mas de viabilizar um projeto libertador que favorece a vida de todos, especialmente aquela dos oprimidos sociais. A boa nova de Jesus é um projeto, um plano prático para levar as pessoas a se reintegrarem na sociedade. Esta reintegração social é um gesto misericordioso por oferecer condições de viver dignamente a vida plena que ele veio trazer. Que o Ano Santo da Misericórdia nos torne mais misericordiosos, quer dizer, mais empenhados em dedicar a vida, para que a vida seja plena para todos, como é o desejo do próprio Deus.
Como podemos viver de maneira concreta o Ano Santo?
Uma maneira concreta para viver o Ano Santo é a prática das obras de misericórdia corporais e espirituais. O Papa Francisco expressou seu vivo desejo de que os cristãos reflitam essas práticas e despertem da indiferença diante da pobreza, já que “os pobres são os privilegiados da misericórdia divina”.
O convite é, portanto, de uma redescoberta das obras de Misericórdia Corporais e Espirituais;
São obras de misericórdia corporais: dar de comer aos famintos, dar de beber aos sedentos, vestir os nus, acolher os peregrinos, dar assistência aos enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos.
Obras de misericórdia espirituais são: aconselhar os indecisos, ensinar os ignorantes, admoestar os pecadores, consolar os aflitos, perdoar as ofensas, suportar com paciência as pessoas incômodas e rezar a Deus pelos vivos e defuntos.
Entre as graças disponibilizadas para o Ano da Misericórdia, destaque para o perdão concedido a quem cometeu aborto. “Decidi conceder a todos os sacerdotes a faculdade de absolver do pecado de aborto quantos o cometeram e, arrependidos de coração, pedirem que lhes seja perdoado”, escreveu Francisco.
O Papa não ameniza a gravidade do aborto e diz na carta que “o drama do aborto é vivido por alguns com uma consciência superficial, quase sem se dar conta do gravíssimo mal que um gesto semelhante comporta. “O perdão de Deus não pode ser negado a quem quer que esteja arrependido, sobretudo, quando com coração sincero se aproxima do Sacramento da Confissão para obter a reconciliação com o Pai”, acrescenta.
Resumindo: Que o projeto de Deus e o plano de açao de Jesus sejam nossos! É, através de nós, que Jesus age para cumprir a promessa divina. Ele nos dá o seu Espírito para que o nosso coração se liberte dos nossos egoísmos e de nossa vaidade, para que levemos aos pobres o apoio da nossa ajuda e da nossa partilha, aos cegos a luz da nossa amizade, para que os nossos dias sejam dias de felicidade para todas as pessoas que encontramos. Essa é a nossa missão de cristãos: que a Boa Nova tome corpo na nossa vida e sejamos discípulos missionários, para que a Palavra de Deus seja viva entre nós.
Frei Gunther Max Walzer