Homilia - 29/05/2016 - IX Domingo do Tempo Comum
Na quinta-feira passada, festejamos um dos maiores mistérios de fé, o mistério da presença real de Cristo na Eucaristia. Cada vez que nos aproximamos da mesa da Comunhão dizemos: “Senhor, eu não sou digno de que entreis na minha morada, mas dizei uma só palavra e eu serei salvo!”. Esta frase que, (pelo menos falo por mim), tantas e tantas vezes dizemos de forma rotineira, nos introduz no grande mistério de um Deus que se faz alimento para aqueles que Ele ama.
De quem é esta frase? Quando Jesus entrou em Cafarnaum, um centurião aproximou-se e pediu a cura do seu empregado. Afinal, quem era o Centurião? Centurião era um oficial do Império Romano, que comandava uma centúria (destacamento) de 100 soldados, semelhante a um capitão dos tempos modernos. O exército romano ocupava, no tempo de Jesus, a Judéia, portanto, os romanos eram “inimigos” dos judeus. Mas, com certeza, foi um homem bom, pois o texto diz que ele tinha muita afeição pelo seu servo, o que naquele tempo seria coisa rara. “Um oficial romano tinha um empregado a quem estimava muito” (Lc 7,2).
Este centurião teve muita humildade de orar pelo seu servo. Não quis tirar proveito de Jesus, apenas queria que ele curasse o seu servo querido.
Quantos de nós oramos pelos que trabalham conosco? Quantos poderiam honestamente dizer que oram pelas suas cozinheiras, lavadeiras e pelos seus zeladores ou balconistas? Quantos de nós oramos pelo futuro deles e de seus familiares?
Até os judeus se fazem de intermediários entre o centurião e Jesus, falam dele como um homem bom: “O oficial merece que tu lhe faças este favor, porque ele estima o nosso povo, e foi ele quem construiu a sinagoga”.
Os anciãos dos judeus convencem Jesus de tal modo que ele caminha com eles em direção da casa do centurião. Quando Jesus já estava perto da casa, o oficial mandou alguns amigos dizerem a Jesus: “Senhor, não se incomode, não entre em minha casa, pois eu não sou digno. Mas diga uma só palavra, e meu servo fica bom. Pois eu sei o que uma palavra é capaz de fazer quando a gente tem poder de mandar, sou militar!" E, Jesus cura o empregado à distância.
A atitude do oficial romano é exemplar. Um escravo dele estava à beira da morte. Achava ele que só Jesus podia fazer algo por ele e salvar a vida do seu escravo. Foi procurar Jesus e fez esta belíssima declaração de fé. Bastaria uma só palavra, e o servo ficaria curado.
O poder da Palavra: Deus, quando quis revelar-se ao mundo, se fez palavra e ela se fez carne e armou sua tenda entre nós. E sua palavra ganhou um nome: Jesus. A palavra é capaz de revelar os mistérios mais profundos, inclusive o mistério de Deus.
E, no entanto, quantas palavras são ditas e perdem ao vento e da qual ninguém mais acaba se lembrando. Uma palavra pode salvar uma vida, pode acertar o caminho de uma vida, mas, também pode ter o efeito contrário, pode destruir vidas. Poder falar é uma graça, mas quantas desgraças a palavra já espalhou!
Através da palavra nós nos comunicamos. Nosso corpo tem muitos membros. Todos são importantes. Cada membro faz a sua parte. Há um pequeno membro em nossa boca que se chama “língua”.
Há quem usa a língua para comunicar, bendizer e abençoar. Há quem usa a língua para desfazer, destruir e maldizer. Da língua nascem e são construídas as palavras que podem unir ou desunir.
Quantas línguas benditas, mas quantas línguas inúteis. São línguas provocadoras de guerras e discórdias. Guerras entre pessoas. Como seria melhor para muitas pessoas se a língua não existisse! Haveria menos mentiras. Haveria mais silêncio. Haveria mais entendimento. É melhor não falar do que falar destruindo.
Há um provérbio que diz: quem muito fala, muito erra. Acho este provérbio certo. Os fatos comprovam. Os fofoqueiros (uso de propósito o masculino, para não falar das mulheres fofoqueiras), são pessoas que falam demais, e porque falam demais, estão sempre em perigo de dizer mais coisas, e ali surge a fofoca. A fofoca é muito pior do que a poluição sonora que existe. Uma pessoa fofoqueira é pior que dez lambretas barulhentas. O barulho da fofoca não fica só nos ouvidos. Ele entra no coração e dói. Machuca muito.
Onde há muitas conversas, não há tranquilidade. As palavras são sempre espadas de dois gumes. Num momento ela pode ser um remédio e em outros e torna um veneno
O centurião acreditava no poder da Palavra de Deus, presente em Jesus. “Se disseres uma Palavra, meu servo ficará curado”. O centurião fez uma das mais bonitas profissões de fé na eficácia da Palavra do Senhor Jesus.
O que mais se destaca no Evangelho de hoje não é a cura do empregado do centurião, mas a admiração de Jesus por causa da fé deste estrangeiro. "Nem em Israel encontrei uma fé tão grande!” O oficial romano acredita mais em Jesus do que os judeus.
Como vai a nossa fé? Se Jesus lançasse seu olhar para nós, ele teria a mesma admiração pela nossa fé como a do centurião?
Com fé digamos juntos: “Senhor, eu não sou digno de que entreis em minha morada, mas dizei uma só palavra e serei salvo”.
Frei Gunther Max Walzer