Homilia - 24/07/2016 - XVII Domingo do Tempo Comum
Novamente, uma cidade vive momentos de terror e medo quando, ao final da tarde desta sexta-feira, um homem disparou sobre as pessoas que encontrou à porta de um McDonald’s, depois dentro do centro comercial Olympia em Munique na Alemanha. Nove, incluindo vários adolescentes, acabaram por morrer.
Este é o segundo ataque na Alemanha no espaço de uma semana. Esta segunda-feira um afegão de 17 anos atacou os passageiros de um trem com um machado e uma faca na Baviera. Dias depois este ataque foi reivindicado pelo ISIS.
Sempre de novo, ataques terroristas abalam a Europa e outras partes do mundo causando inúmeras mortes e feridos. O papa Francisco, em várias ocasiões, condenou o fundamentalismo, terrorismo, as guerras e os corruptos. Os terroristas até pensam agir em nome de Deus, querem morrer mártires para merecer o céu. Será que eles rezam? Sim, rezam! Mas são orações que nos escandalizam. Aquele jovem afegão de 17 anos deixou uma carta de despedida para o pai onde dizia: "E agora reza por mim, para que me possa vingar nestes infiéis, e eu vá para o céu". Fato chocante, oração mais chocante ainda!
Parece que as orações podem revelar desejos íntimos, projetos de vida. Mas, a Deus não se pode esconder nada. E o que pedimos a Ele é certamente algo que tem importância para nós.
No entanto, são sempre coisas boas que pedimos na oração? Pedimos de forma egoísta, às vezes até mesquinha? Ou pedimos o que é realmente bom não somente para nós, mas para todos os que vivem perto de nós, por aqueles que sofrem, pelas grandes causas da justiça e da paz, do amor e da fraternidade?
O evangelho de hoje é certamente uma bela lição sobre a oração. Aliás, nasce em resposta a um pedido de ensinamento: “Senhor, ensina-nos a rezar”.
Rezar! Meu Deus, como é difícil! Deveria ser extremamente fácil! Quando falamos às crianças, dizemos que rezar é falar com Deus e, ao mesmo tempo, ensinamos certas fórmulas incompreensíveis que, muitas vezes, estragam a própria “fala” com Deus.
Falar com Deus! Então, em primeiro lugar, Deus deve ser alguém para nós. Não uma ideia vaga e impessoal. Os apóstolos se entusiasmaram quando viram Jesus rezar. Era completamente diferente das preces feitas nas sinagogas e no Templo. Deus, no Antigo Testamento, era muito mais um Deus distante, enquanto Jesus nos apresenta um Deus que está perto de nós, um Deus que é Pai.
Jesus ensina a rezar. Jesus apresenta a oração que tão bem conhecemos, o Pai Nosso. Esta oração é um resumo genial do que podemos pedir a Deus.
Esta oração começa bendizendo o Nome de Deus, como uma profissão de fé. Declaramos que seu nome é Santo, e não podemos duvidar disto. Ele está acima de tudo quanto existe no céu e na terra. E é no céu e na terra que a sua vontade deve ser realizada.
Podemos e devemos pedir o pão de cada dia, mas antes precisamos pedir ao Pai que seu Reino se realize entre nós, o reino do amor, da justiça, da paz, da fraternidade.
Além de pedir pão, devemos pedir o perdão do Pai, assim como nós devemos perdoar, pois somos devedores uns dos outros do amor fraterno, sempre muito difícil de praticar. Sem perdão, não é possível haver amor!
Tudo o que pedimos podia ser resumido no final: não ceder à tentação e ficar livre do mal. Tudo o que Deus mais quer é que a gente resista às tentações e que o poder do mal seja vencido. Nós pedimos e Deus é o primeiro a “torcer” para que a gente consiga tudo o que estamos pedindo.
“Pedi e recebereis!” – diz Jesus.
Jesus afirma categoricamente: devemos pedir com a garantia de receber. Tanto é certo que ele recorda que Deus é Pai, e um pai não engana seu filho. Será que todos nós estamos convencidos dessa afirmação?
Quanta gente se queixa: “Fiz novenas e promessas, pedi e rezei, mas não consegui o que pedi. Onde está a verdade da palavra de Jesus?”. “Pedi e recebereis, batei e a porta será aberta...”.
Não devemos nos esquecer de que a oração, para ser válida, supõe que o plano de Deus se concretize. Antes de tudo, vale o projeto divino! Jesus pede ao Pai para livrá-lo da cruz e não é atendido, porque o plano de Deus era diferente. No Pai-nosso rezamos pelo Reino de Deus, não pelo reino nosso: “Venha a nós o Vosso Reino”. Rezamos: “Seja feita a Vossa vontade” e não a nossa. O Pai-nosso é modelo de qualquer oração.
Nossa oração deve ser perseverante e confiante. Deus nunca fecha a porta para a nossa prece. Deus não tem “horário de expediente” nem protocolo. Não digamos que não recebemos o que pedimos. O fato de podermos conversar com o Pai já é uma alegria imensa. Pedir o pão de cada dia já não é um relacionamento muito familiar com o nosso Deus Pai? E pedir desculpa a Ele não é igualmente uma atitude bem filial?
Por que não agradecemos ao Pai do Céu, que sabe nos dar tantas coisas boas, em vez de ficarmos como crianças emburradas, porque o pai as proibiu de brincar na rua quando estava chovendo?
A primeira leitura reforça a convicção de que podemos conversar com Deus, insistir em nossos pedidos, até “pechinchar” podemos.
Quem conhece os orientais, mesmo os que vivem entre nós, sabe que o preço do vendedor pode ser 100 Reais, depois de uma boa conversa, a gente consegue a mercadoria por 20 ou 25 Reais. A conversa de Deus com Abraão é um exemplo dessa “pechincha”. Mas o que está em jogo é algo seríssimo: a vida de uma cidade e de sua população. Pela maldade de alguns, Deus destruirá a cidade: não seria justo, diz Abraão. Mas quantos justos são necessários para salvar a cidade inteira? 50, 40, 30, 20, 10: é pena que Abraão não tenha ido mais longe. No fundo, Deus salvou o mundo porque encontrou um só homem realmente santo e justo, Jesus de Nazaré.
Não se podem ouvir essas leituras de hoje sem que a nossa confiança em Deus Pai seja enormemente reforçada. E se tivermos algum momento de desespero ou aflição, deveríamos voltar a elas e pedir a Jesus que interceda junto do Pai, que nos faça experimentar a força e a verdade destas suas palavras.
Não basta pedir com confiança. É preciso também pedir “coisas boas” como aquelas que Jesus sugere: o Espírito Santo, a glória de Deus, a vinda de seu Reino de amor e de paz, o alimento para todos, o perdão de nossas faltas e a capacidade de perdoar as dos outros, a força contra tentações e perigos...
Se, realmente, pedirmos com sinceridade, se, realmente, desejarmos o que estamos pedindo a Deus, também estamos dizendo que o nosso compromisso é fazer tudo o que está ao nosso alcance para que se realize o que pedimos. Oração e compromisso nosso andam sempre juntos, de mãos dadas.
Continuemos pedindo ... e recebendo.
Frei Gunther Max Walzer