Homilia - 07/08/2016 - XIX Domingo do Tempo Comum
Na sexta-feira, 5 de agosto, os portões do mítico estádio do Maracanã se abriram para a cerimônia de início dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.
Os Jogos olímpicos, em sua versão primeira, eram uma celebração religiosa em tributo aos deuses e foram criados para promover a paz. Durante sua realização, todas as cidades deveriam interromper suas guerras. Já naquela época se entendia que o esporte inspira ações de tolerância, solidariedade, inclusão social, de educação e pacificação, tendo em vista a construção de uma sociedade mais justa.
O Papa Francisco, em sua tradicional audiência geral das quartas-feiras, enviou uma mensagem aos participantes e espectadores dos Jogos Olímpicos. Ele disse: "Diante de um mundo que está sedento de paz, tolerância e reconciliação, faço votos de que o espírito dos Jogos Olímpicos possa inspirar a todos, atletas e espectadores, a combater o bom combate e a terminar juntos a corrida, almejando alcançar como prêmio não uma medalha, mas algo muito mais valioso: a realização de uma civilização onde reine a solidariedade, fundada no reconhecimento de que todos somos membros de uma única família humana, independentemente das diferenças de cultura, cor da pele ou religião".
Ao mesmo tempo, o Papa Francisco enviou uma mensagem especial aos brasileiros: "E aos brasileiros, que com sua característica alegria e hospitalidade organizam a festa do esporte, desejo que esta seja uma oportunidade para superar os momentos difíceis e comprometer-se a trabalhar em equipe para a construção de um país mais justo e mais seguro, apostando num futuro cheio de esperança e alegria! Que Deus abençoe a todos!".
Um dos grandes desafios da realização dos Jogos Olímpicos é a segurança dos atletas e dos turistas que visitam Rio de Janeiro. E é para se preocupar mesmo com tantos atentados terroristas no mundo inteiro, tantos assaltos e tanta violência nas cidades do nosso país. O esquema de segurança para os Jogos Olímpicos será o maior da história do país, com 85 mil profissionais.
O evangelho de hoje traz uma comparação bastante atual: “Se o dono da casa soubesse a hora em que o ladrão iria chegar, não deixaria que arrombasse a sua casa. Vós também ficai preparados!”.
Cada vez mais andamos meio cismados com os perigos e ameaças que se apresentam, principalmente, nos grandes centros. Nosso temor nos torna mais vigilantes.
Quem já passou pela situação de ser assaltado vai entender o que Jesus está dizendo com estas palavras. Se você soubesse que seria assaltado naquele momento, teria tomado as providências para evitar o assalto, não é? Da mesma forma, Jesus pode voltar a qualquer momento... Onde e como Ele vai encontrar você?
Mais uma vez Jesus nos previne no evangelho de hoje, que devemos estar preparados porque não sabemos o dia nem a hora em que iremos embora desta vida. Para onde vamos? Só depende de nós. Porque o futuro nosso na eternidade está sendo traçado pelos passos que estamos dando neste exato momento de nossa vida.
O tema de hoje é a vigilância. Eu e você precisamos estar preparados, pois na hora em que menos pensamos, virá o Filho do Homem. Se você soubesse que hoje é o último dia da sua vida, o que você faria? Talvez diria: “Eu correria para a igreja a fim de fazer uma boa confissão”. Outros diriam: “Eu vou correr e perdoar todas as pessoas que me ofenderam; eu iria pedir perdão a todos aqueles que eu ofendi; eu iria repartir o que eu tenho a mais com os pobres. Faria o melhor dia da minha vida, iria amar a todos, perdoar a todos, servir a todos”.
O que nos impede, meu amigo, minha amiga, de fazer isso hoje, mesmo sabendo que talvez hoje não seja o último dia da nossa vida?
Fazer assim é estar preparado. Vivamos buscando fazer o bem, buscando amar a todos, buscando perdoar a todos, lutar pela verdade, lutar pela justiça, cuidar de quem sofre, amar os mais pobres, socorrer os necessitados, consolar os aflitos. É assim que o Senhor quer encontrar você na sua segunda vinda.
O discípulo de Jesus vive numa contínua espera do Senhor que vem. Essa, porém, é uma espera ativa e responsável e não significa resignação ou passividade, mas é serviço. Quem escolhe a inação ou se envereda pelo caminho do mal corre o risco de ser excluído do Reino.
Não posso deixar de mencionar a mensagem do Papa Francisco dirigida aos jovens na Jornada Mundial da Juventude realizada em Cracóvia na Polônia. Na Vigília no Campus Misericordiae, Francisco disse: “Estamos hoje aqui por causa de Jesus Cristo. Foi ele quem os chamou e vocês responderam; deixaram seus lares e seus afazeres, enfrentaram viagens longas peregrinações cansativas durante esses dias. Vocês são maravilhosos! É por ele que vieram aqui!”.
E Francisco perguntou, em tom provocador: “Vocês querem viver em profundidade ou se contentam em viver pela metade? Busquem sempre Jesus Cristo, caminho, verdade e vida.
O papa Francisco pediu a uma multidão de jovens que “não sejam substitutos” na vida e que não “vegetem” comodamente no sofá da vida”. Francisco criticou os sedentários e afirmou que as pessoas vieram ao mundo “para deixar uma marca”.
“O tempo que estamos vivendo hoje não necessita de jovens-sofá, mas de jovens com sapatos, melhor ainda, com as chuteiras calçadas. Só aceita jogadores titulares na quadra, não há espaço para substitutos”, convocou Francisco. Segundo o papa, é fácil “confundir felicidade com sofá” ou passar os dias em frente ao computador, em uma situação de comodidade “longe dos medos”.
“É desolador ver certos jovens que já parecem velhos aos 20 anos de idade, ou que entregam os pontos, antes mesmo de terem iniciado a partida!”
E convidou os jovens a sonharem alto, a não deixarem que seus sonhos sejam roubados por quem lhes quer “vender” ilusões e modelos apenas confortáveis de vida. Há quem não goste do jovem questionador, cheio de iniciativas, que busca, deseja abrir caminho e assumir sua vida. E perguntou de novo, para desafiar os jovens, que seguiam atentos suas palavras: “Vocês querem que outros decidam sobre seu futuro? Sim ou não?”.
E um coral de centenas de milhares de vozes respondeu uníssono: Não!
Essa resposta era sincera, pois foi precedida por uma caminhada de cerca de 10 km, do centro de Cracóvia até o Campus Misericordiae, com mochila pesada às costas, debaixo do sol escaldante de verão e com o programa de dormir ao relento sobre a relva, debaixo das estrelas, ali mesmo, após a vigília, que precedeu a conclusão da Jornada. Eram jovens valentes e muito dispostos a abrir caminho, a descer da poltrona, a unir-se à multidão de peregrinos, em busca de algo importante. Sua resposta, portanto, era coerente e generosa. Esses jovens não querem ser meros expectadores, mas protagonistas da vida que passa!
No início do evangelho de hoje, ouvimos Jesus dizer a seus discípulos: ”Não tenhais medo, pequeno rebanho, pois foi do agrado do Pai dar a vós o Reino”.
Francisco referiu-se aos obstáculos que os jovens precisam enfrentar na vida, entre eles, o medo e a sensação de impotência diante dos grandes problemas do mundo: “O medo paralisa e contagia as boas disposições, tirando-lhes o vigor; o medo produz o fechamento em si mesmo, o desperdício de energias, a sensação de derrota... Não cedam ao medo, mas tenham a coragem de encarar a vida e de assumir o seu papel!” E referiu-se aos que querem impor medo aos outros pelo preconceito ou pelo terror, criando um clima de desconfiança geral: “Não cedam ao medo! Seria a vitória de quem lhes quer tirar o protagonismo!”.
O Papa falou das ilusões que se vendem facilmente aos jovens: “Muitos tentam preencher seu coração com respostas falsas, com alienações, que tiram a sua vida ou a fazem ficar sem valor”. E referiu-se à “canábis” – maconha, e ao uso de drogas... Também mexeu com os jovens que perderam toda fibra e são vítimas do consumismo e do uso obsessivo das mídias sociais... “Não percam suas vidas, vocês valem muito! Deus os ama infinitamente, acreditem nisso!”
As mensagens do Papa orientaram os jovens para a experiência da misericórdia de Deus, que conhece cada um de nós pelo nome e compreende nossas fraquezas e também nossa generosidade. E Francisco convidou os jovens a praticarem a misericórdia todos os dias.
A vigilância cristã foi comparada à dos servos à espera do Senhor que chega para sua festa de núpcias. Quanto mais tarde for, maior a necessidade de manter-se atentos. O Senhor poderá chegar a qualquer momento. E não ficaria satisfeito se os servos estivessem dormindo e não lhe abrissem a porta. Mas, se ao chegar, os encontrar acordados, convidá-los-á para participar do banquete e ter a honra de serem servidos pelo próprio patrão.
Frei Gunther Max Walzer