Homilia - 28/08/2016 - XXII Domingo do Tempo Comum
Quase sempre quem se supervaloriza acaba menosprezando os outros. Daí nasce muita coisa ruim: orgulho, mania de grandeza, soberba, ostentação, autopromoção, arrogância. Levados ao extremo essas atitudes chegamos à tirania, ao autoritarismo, ao despotismo e à ditadura. Tudo isso implica na negação do outro, os demais ficam sem chance de mostrar o que são e os valores que têm, porque, de antemão, já são descartados como “sem importância”. Não têm vez nem voz. Nossa sociedade está cheia de casos assim. A Palavra de Deus, hoje, nos provoca a fazer uma revisão dessas atitudes.
Na primeira parte do Evangelho, Jesus faz menção à escolha dos lugares. Jesus foi convidado por um fariseu para almoçar. Ele observou que os convidados se apressavam para ocupar logo os lugares mais importantes à mesa, próximo ao dono da casa. Achavam-se mais importantes que os outros. Não pensavam que podia chegar um convidado mais importante do que eles e o dono da casa lhes pedir que cedessem o lugar a esse convidado.
Onde nos sentamos, quando somos convidados para uma festa? A resposta não é simples, porque existe, em nossos dias, uma cultura de supervalorização de quem está em destaque. É a chamada cultura das celebridades, que elogia, bajula e reverencia quem é famoso, quem tem dinheiro, quem é artista, quem está na mídia. Tem-se a impressão que famosos e famosas são pessoas com um grau de importância maior que o comum dos mortais. Quem assume esta cultura, gosta de escolher os primeiros lugares, porque ali é admirado, bajulado, elogiado, é servido. Mesmo quem não é famoso busca este tipo de coisa: quer ser fotografado perto de algum famoso, alguns copiam o estilo de vestir, imitam o penteado, transformam famosos em ídolos... É para esse comportamento que Jesus pede atenção: não busquem os primeiros lugares, porque um dia alguém te “desbancará” e a decepção será grande.
É preciso entender o ensinamento de Jesus. Ele não está desmotivando o sucesso na vida da gente, mas as aspirações que vivem em nosso interior.
A humildade, dizia a 1ª leitura, pauta-se pela modéstia, pela simplicidade, pelo respeito ao outro. O orgulhoso, continua a 1ª leitura, é alguém que se isola; vive sozinho no seu mundo e aspira, deseja ser bajulado. Quando alguém o tira de seu lugar de prestígio, perde o sentido e a vontade de viver. A vida desaparece para ele.
Enfim, Jesus nos convida à virtude da gratuidade, “quando deres um almoço ou um jantar, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos”.
As categorias “pobres” e “aleijados” têm aqui um significado especial: os pobres nunca são convidados porque não podem retribuir. Em outras palavras, o pobre não dá retorno. Também hoje muitos pensam que os pobres não têm com que contribuir na sociedade. Só dão despesa, são incapazes de construir um projeto alternativo de sociedade, não sabem lidar com o poder. No máximo, os pobres são vistos como mão de obra barata, massa de manobra, força de trabalho, geradores de lucros e fonte de votos nas eleições...
Hoje, os relacionamentos são quase sempre feitos em vista do proveito próprio, do interesse. Quando damos algo a alguém que nada pode nos dar em troca talvez o façamos com gratuidade, pois se damos apenas para aliviar a nossa consciência também não é um gesto gratuito. Escolher os pobres sem segundas intenções é uma opção. Essa foi a opção preferencial de Deus.
Já os aleijados nunca são convidados porque, além de incapazes também como os pobres, são considerados impuros. Sugerir que o fariseu convide pessoas deficientes é uma proposta totalmente revolucionária para os seus padrões. Jesus mostra, assim, que a sua avaliação das pessoas segue outros critérios, valorizando exatamente aqueles que são excluídos pela sociedade.
As relações sociais hoje não são muito diferentes das da época de Jesus. A ganância, o poder, a busca dos primeiros lugares estão presentes nas relações religiosas, políticas, econômicas etc. Até mesmo em nossas comunidades eclesiais corremos o risco de querer os primeiros lugares, as melhores funções, os melhores ministérios. E depois de tê-los nos acharmos melhores do que outros. Na política é a mesma coisa. Quantos candidatos que aparecem nestes períodos de eleições, numa guerra de palavras e promessas pelos primeiros lugares, até o ponto de enganar aqueles que apenas têm o voto para dar em troca de algo. E quando chegam a ocupar seus lugares se esquecem destes “crucificados da história”, pois o centro de sua missão é o dinheiro e não a vida para todos.
Mas, então, o que significa não ocupar o primeiro lugar? Não significa, certamente, enterrar os próprios talentos, fugir das responsabilidades. Não! A menos que sejamos impedidos, devemos fazer com que frutifiquem ao máximo. Temos que dar o nosso melhor para o bem dos outros, não, porém, para nos sentirmos melhores que os outros. Fazer-se humilde significa libertar-se da ânsia da estima e do reconhecimento humano e ter a consciência de que cada um de nós tem valor para Deus. A verdadeira humildade é esta verdade, esta serenidade. O Santo Cura d’Ars dá seu testemunho: “eu recebi duas cartas muito fortes, uma me dizia que eu era um grande santo, outra que eu era um hipócrita. A primeira não me acrescentou nada, a segunda não tirou nada de mim, diante de Deus somos aquilo que somos e nada mais”.
Neste domingo celebramos o “Dia do Catequista”. A catequese é um dos ministérios mais importantes que temos na Igreja. Por meio dele, homens e mulheres de idades diferentes, se dispõem a transmitir o Evangelho e os princípios da fé cristã a crianças, jovens e adultos. Iluminados pela Palavra deste domingo, percebe-se claramente que o catequista é alguém que não escolhe os primeiros lugares, mas o último. O que significa escolher os últimos lugares? No tempo de Jesus, nos últimos lugares da mesa ficavam aqueles que serviam os outros; era o local dos servidores. Este foi o local escolhido por Jesus que, como ele dizia, “não veio para ser servido, mas para servir”. O catequista é alguém que exerce seu ministério pelo serviço. Alguém que dedica, gratuitamente, momentos de sua vida a serviço do Evangelho, para que seus catequizandos aprendam a sentar-se à grande mesa da vida como servidor. O serviço do catequista é um serviço feito na gratuidade. Nenhum deles é pago para exercer o ministério da catequese. É assim que cada catequista coloca em prática o ensinamento de Jesus, dedicando gratuitamente seu tempo para que crianças, adolescentes e adultos possam encontrar o caminho na vida no Evangelho. É por isso que, hoje, queremos — e mais que isso — precisamos ser agradecidos a Deus pelos nossos catequistas. Agradecemos a Deus, e dizemos nosso “obrigado” a cada um deles, rezando ao Senhor, para que os recompensem porque na mesa da vida, eles escolheram ser servidores do Evangelho que oferece a vida em abundância. Amém!
Frei Gunther Max Walzer