Homilia - 18/09/2016 - 25º Domingo do Tempo Comum
Quase todos os dias, nestes últimos meses, explode na imprensa um novo caso de corrupção. Diante de tantos escândalos a grande tentação é achar que ser desonesto é normal. A corrupção está ficando tão comum na sociedade, que muitos já nem se importam mais com o mal que ela provoca, prejudicando o desenvolvimento e a economia do país e prejudicando, principalmente, a grande maioria dos cidadãos.
É impressionante a esperteza de corruptos e corruptadores que criam os caminhos mais sofisticados para se apoderar do dinheiro público por meio de fraudes ou para sonegar impostos, prejudicando os cidadãos honestos. Nunca eu imaginava a existência de tantas “ Notas frias”, superfaturamentos, “laranjas”, empresas “fantasma”, remessas de dinheiro (milhões) para contas nos “paraísos fiscais”.
Enganar o povo parece ser um hábito antigo.
Na primeira leitura, o profeta Amós clama, indignado, contra gente que no dia santo louvava ao Senhor e no dia seguinte adorava as balanças para roubar no peso dos produtos que vendia. É bom reparar que não se tratava do tipo de ladrão que assalta a gente no meio da rua e acaba fichado na polícia. Eram senhores aparentemente respeitáveis, conhecidos praticantes da religião, que guardavam o sábado e participavam das festas religiosas. Mas quando se tratava de lucro, valia a esperteza e não a Lei de Deus. E num instante sabiam inventar modos de conseguir o que queriam, para isso eram muito inteligentes.
Atualmente, temos outras maneiras espertas de obter mais lucro no que seria justo, não se trata apenas de falsificar o peso das mercadorias. Porém, se o profeta Amós vivesse hoje, teria muitos motivos para ficar indignado.
O profeta fala de gente que comprava a simpatia dos pobres com presentes e lhes vendia o refugo do trigo.
Amós diz que Deus está atento a todas essas manobras desses atos que lesam o próximo. Neste ano eleitoral, será que acabaram coisas parecidas como dar “presentes” e outros pequenos “favores” esbanjando simpatia e fazendo promessas, para receber votos?
A corrupção é antiga. Já existia, talvez em menor escala, no tempo de Jesus. O curioso é que Jesus pega um desses “casos de polícia” de seu tempo, uma fraude que ganhou fama pela esperteza de um administrador corrupto e o transforma numa parábola.
O caso é a respeito de um administrador desonesto que roubava do patrão. Quando ficou sabendo disso, o patrão resolveu mandá-lo embora e lhe deu poucos dias para prestar contas. Depois, estaria na rua, sem indenização, sem nada. Então o administrador pensou: “O que vou fazer? Trabalhar com a enxada? Não tenho forças! Pedir esmola? Tenho vergonha!”. Preocupado com seu futuro, o homem acabou achando uma saída inteligente para garantir o sustento depois de perder o cargo: faz abatimentos clandestinos nas dívidas dos funcionários, esperando a gratidão dos endividados, que depois o receberiam em suas casas. Não é exatamente um primor de comportamento honesto. Mas Jesus usa este homem como exemplo. Diz que o patrão admirou sua esperteza. O que está sendo elogiado não é a desonestidade, é a esperteza, a capacidade criativa, a imaginação inteligente que busca uma solução para um impasse. E onde Jesus queria chegar com isso?
Jesus observa algo que nós todos já reparamos: os filhos deste mundo são mais espertos, inventivos, engenhosos do que os filhos da luz. Quem quer levar vantagem se mexe, inventa, descobre caminhos, não descansa enquanto não consegue. Na hora de ganhar dinheiro não se brinca no serviço. Na hora de servir ao Reino, porém, muitas vezes somos pouco criativos, fazemos as coisas pela metade, não colocamos a inteligência funcionando sempre a pleno vapor. Falta-nos, frequentemente, a eficiência que depende de empenho, de investimento sério na nossa própria formação. Falta, também, a audácia de criar caminhos novos. Será que o trabalho do Reino de Deus não mereceria de nós a mesma criatividade e competência que buscamos ter em outros terrenos? É claro que não se trata de um “vale tudo”; ninguém está dispensado de agir dentro da ética, nem mesmo com o objetivo de servir a uma boa causa. Mas estamos sendo tão eficientes quanto possível?
Para evitar quaisquer dúvidas sobre a posição de Jesus, o Evangelho afirma que não se pode servir a dois senhores; é preciso escolher qual é o nosso valor absoluto: Deus ou o dinheiro?
Se é Deus, mudam as prioridades, a direção dos esforços, os investimentos em tempo e energia. Com Deus, também, é preciso não esquecer os limites éticos da nossa criatividade; os fins não justificam os meios. Não se pode servir a Deus passando por cima das leis que ele nos deu.
Mas chega o dia, mais cedo ou mais tarde, em que devemos prestar contas de nossa administração. E o que vamos responder quando nossas contas não estão em ordem? Podemos até admirar no Evangelho a “habilidade” do rapaz que procura safar-se, mas que, afinal, não tem uma saída honrosa.
Prestar contas! Devemos nos lembrar de que todos os dons recebidos servem apenas se usarmos em benefício do irmão e da comunidade. Nada é propriedade particular. Ninguém é dono de sua vida, do tempo, nem da inteligência, das qualidades ou dos bens. Assim, na prestação de contas, nunca se pede apenas a devolução simples e pura daquilo que se recebeu. Todos somos obrigados a produzir, todos devemos construir, não apenas deixar de destruir. Existe também o pecado da omissão.
Podia ter feito e não o fiz!
Podia ser santo, mas sou medíocre.
Podia ser apóstolo, mas vivi como aposentado!.
Podia ser cooperador, mas fiquei na arquibancada como espectador!
Enquanto o mundo não muda, nós cristãos podemos e devemos fazer a nossa parte. Esta é a nossa missão!
Frei Gunther Max Walzer