Homilia - 16/10/2016 - 29º Domingo do Tempo Comum
Inicio com uma pergunta que me deixou inquieto enquanto preparava a celebração: — será que temos necessidade de rezar hoje em dia, como Jesus fala no Evangelho quando mostra a necessidade de rezar sempre, nunca desistir?
Antigamente, a oração tinha sentido, mas hoje, com o avanço da medicina, da tecnologia, de tantas maravilhas da ciência... Ainda existe a necessidade de rezar? Muita gente não acredita no valor da oração. Acha que rezar é perder tempo. Por outro lado, há gente que, ao contrário, só gosta de rezar. Não faz mais nada. Há quem reza por necessidade, porque está no sufoco, e há gente que reza por costume. Há quem só sabe pedir e nunca agradecer. E há quem só sabe repetir fórmulas e nunca reza espontaneamente com suas próprias palavras. Há pessoas que rezam automaticamente, pronunciam as palavras enquanto, muitas vezes, estão fazendo outra coisa ou têm o pensamento longe.... Uns acham que a oração é uma fórmula mágica para resolver problemas.
As leituras de hoje nos falam da necessidade da oração. Na primeira leitura, vemos o Povo de Deus numa batalha. O chefe, Moisés, está no alto da montanha, sempre animando os israelitas na luta. O povo olha para Moisés, confia nele, luta e vai vencendo. Mas a batalha é longa. Moisés já está cansado e não consegue mais manter os braços erguidos. O que fazer para manter sempre erguidos em oração os braços de Moisés? Aarão e Hur encontraram a solução: fizeram Moisés sentar numa pedra e eles, um à direita e outro à esquerda, sustentaram os braços de Moisés. Assim permaneceram até a noite, até os israelitas vencerem os inimigos.
O que nos ensina esta narrativa? Muita gente consegue vencer na vida, porque tem um Aarão e um Hur ao lado para manter os braços erguidos quando o cansaço e o desânimo começam a chegar. Todos nós precisamos às vezes de alguém que nos sustente e todos nós podemos ser necessários para erguer os outros.
Mas o episódio narrado na primeira leitura de hoje nos quer ensinar uma coisa muito importante ainda: nos ensina que, para atingir objetivos que vão além das nossas forças, precisamos orar sem cessar.
A segunda leitura de hoje é uma palavra de encorajamento para alguém que está perdendo a coragem. É um apelo a prosseguir lutando, evangelizando, acreditando que a Palavra de Deus tem a sua eficácia: cedo ou tarde ela produzirá efeito na vida de quem a ouve.
A viúva no Evangelho de hoje nos é mostrada por Jesus como exemplo de quem não desanima, de quem insiste até o fim. Ela estava perdendo a batalha contra seu adversário, porque o juiz da cidade não queria julgar o seu caso. A viúva tinha tudo par desistir da sua luta. No entanto, ela insistia em pedir que o juiz fizesse o que era seu dever de fazer: julgar o caso dela, resolvendo o seu problema.
A viúva insistiu, e o juiz acabou resolvendo o problema dela, levado não por uma consciência de fazer o que é necessário e justo, mas somente para se ver livre da importunação dela. Jesus, então, compara esse juiz com Deus, ressaltando a diferença: se um perverso como esse acabou atendendo ao pedido da viúva, quanto mais Deus, que é bom e justo, “não faria justiça aos que clamam noite e dia”?
Isso não significa que Deus nos atende simplesmente para “se ver livre de nós”, como fez o juiz com a viúva. Jesus ressalva duas características essenciais de Deus: ele é bom e justo.
De tudo que refletimos hoje, podemos tirar para a nossa prática de oração estas lições: rezar é necessário não apenas para que Deus veja que somos piedosos, mas sim para que ele perceba quem estamos tentando contato e procurando entrar em sintonia com Ele. A sintonia com Deus não se dá com as palavras, quer sejam próprias e espontâneas, quer sejam formuladas por outros, mas sim com o coração e com a vida.
Mesmo quando rezamos sozinhos, individualmente, nossa oração só atingirá o coração de Deus se ela for expressão da busca do bem comum, e não uma simples satisfação da nossa vontade pessoal, muitas vezes bastante mesquinha. Nem sempre o que pedimos coincide com os planos de Deus. Ele é quem sabe o que convém nos dar.
Hoje celebramos o Dia Mundial das Missões. Nessa data, somos chamados a refletir sobre nosso posicionamento missionário. Recebemos a incumbência de continuar a obra de Jesus no mundo, segundo o mandato de Cristo: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a todas as criaturas”. Precisamos repensar a nossa vocação missionária como verdadeira Igreja, cuja função no mundo é a evangelização.
Nossa posição, muitas vezes, é cômoda, de cristãos domesticados, “paroquializados”; estamos acostumados a ficar com o mínimo, somos adeptos da “lei do menor esforço”. Temos diante de nós o desafio da fé: passar à geração do presente o recado de que vale a pena de anunciar a Boa Nova e arriscar tudo pelo Reino.
Como cristãos somos chamados a repensar a nossa vocação missionária e nossa corresponsabilidade na evangelização no mundo inteiro. O Dia das Missões é, em primeiro lugar, viver intensa e fraternalmente, sem limitações de fronteiras, raças e culturas, a alegria de sermos todos filhos de Deus, num verdadeiro espírito de solidariedade espiritual e humana.
Para que serve a coleta deste domingo? O objetivo é apoiar iniciativas de solidariedade e cooperação missionária, por meio de projetos de subsídios econômicos para comunidades, paróquias, dioceses, seminários, em âmbitos locais, regionais e nacionais.
“Todas as dioceses do mundo fazem esta coleta. É a hora do gesto concreto para as Missões em todo o mundo. Reunidas estas ofertas, elas formam o Fundo Universal para as Missões, administrado pela Congregação para a Evangelização dos Povos”.
Frei Gunther Max Walzer