Homilia - 15/01/2017 - Segundo Domingo do Tempo Comum
Em nossa vida, dependemos muito daquilo que os outros nos dizem. Quando se trata de comprar alguma coisa – mesmo um objeto de pouco valor – costumamos, antes de escolher a loja, pedir a um amigo ou conhecido um conselho. Se este nos recomenda uma pessoa ou um lugar, então vamos lá.
Quando se trata de escolhas mais importantes, como quando procuramos um empregado ou uma empregada doméstica que seja de confiança, não deixamos de buscar referencias de pessoas que realmente conhecem a pessoa indicada. E quando se trata de decidir os rumos de nossa vida? Qual é o amigo em quem confiamos, a quem pedimos uma orientação?
Os primeiros discípulos de Jesus encontraram uma testemunha de peso, um profeta: João Batista que lhes apontou o caminho a seguir. Não se arrependeram, e, muito tempo depois, deixaram registrada nos evangelhos esta experiência.
No Evangelho que acabamos de ouvir, João Batista aponta para Jesus e o chama de "Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo".
A festa do cordeiro, isto é, a Páscoa, era a maior festa da comunidade judaica. Para os judeus o cordeiro pascal era o que de mais sagrado existia no ritual religioso. O cordeiro era o símbolo da libertação do povo da escravidão.
Assim a expressão de João Batista, dizendo que Jesus era o Cordeiro de Deus, era o anúncio de uma mudança radical do sentido da festa religiosa dos judeus.
O cordeiro era o símbolo de libertação, Jesus Cristo seria o grande libertador, pois ele iria perdoar os pecados.
A festa de Natal, que celebramos poucas semanas atrás, poderá fazer-nos esquecer, que o Filho de Deus veio para nos salvar pela sua morte, pelo sacrifício de sua vida. Por isso nessa criança inocente se cumprirá a profecia de Isaias: “E agora o Senhor fala, ele, que me formou desde meu nascimento para ser seu Servo” (Is 49,5).
O evangelista João não tem dúvidas de que o “servo do Senhor”, que salva a humanidade, que a liberta dos pecados, é Jesus. “Eu vi e dou testemunho: Este é o Filho de Deus" (Jo 1,34).
Com esta mensagem foi concluído o Evangelho que ouvimos, hoje. Mas, por que João Batista tinha tanta certeza que Jesus, de fato, era o Filho do Deus? A resposta é muito clara. João Batista testemunha que viu o Espírito Santo descer sobre Jesus e permanecer em Jesus. Não apenas desce, mas permanece em Jesus. “Eu vi o Espírito descer, como uma pomba do céu, e permanecer sobre ele (Jo 1,32).
Ele, Jesus, veio para tirar o pecado do mundo e o pecado do mundo só pode ser tirado com a força de quem tem em si o Espírito de Deus. João Batista não fala de tirar os pecados do mundo, mas usa a expressão no singular: veio para tirar o pecado do mundo.
O pecado do mundo é força do mal, comandada pelo espírito do demônio. O pecado é aquele que apaga a luz divina no mundo, que escurece o mundo, escurece a vida das pessoas, fazendo-as caminhar nas trevas.
O pecado existe? Fato é que o mal está presente entre nós e dentro de cada um. O mal está no meio de nós, embora nas conversas de rua e nos meios de comunicação não o chamamos de pecado, mas de corrupção, falta de ética, violência, injustiça, fofocas e outros tantos nomes. Situações que se caracterizam como verdadeiras “estruturas de pecado”’. Estruturas que são um conjunto de fatores que levam a prejudicar o bem comum e se tornam para as pessoas e as instituições obstáculo difícil de superar. Aqui podemos destacar duas estruturas: a avidez do lucro pessoal (ganância) e a sede de poder. Para melhor caracterizar esses comportamentos pode-se juntar a expressão “a qualquer preço”. Essas atitudes “pecaminosas” se expandem e tornam fontes de outros pecados condicionando o comportamento humano. Medidas políticas ou judiciais são insuficientes para eliminar ou tirar “o pecado do mundo” ou “as estruturas de pecado”. Faz-se necessário voltar o olhar na direção daquele que passou à nossa frente, que existia antes de nós e que oferece mais do que água.
João Batista viu e deu testemunho, apontando para o Salvador. Permanece a urgência de, a partir da nossa fé, dar testemunho de Deus como indivíduos e como comunidade eclesial que segue a Jesus Cristo. Testemunhamos, com nossa vida renovada com o Espírito Santo, que Jesus venceu o pecado em nossa vida; que Cristo é a Luz do mundo.
Ao repetirmos, na celebração eucarística, “Cordeiro de Deus que tirais o pecado do mundo”, solicitamos que o Filho de Deus chegue com sua salvação para nós e para os confins do mundo.
Frei Gunther Max Walzer