Homilia - 05/11/2017 - Solenidade de Todos os Santos
Há poucos dias celebramos o Dia dos Finados, quando recordamos todos nossos irmãos falecidos. Lembramo-nos, com muito carinho e, quem sabe, muita saudade, dos nossos falecidos. Visitamos os cemitérios, levamos flores, rezamos por eles. O “Dia dos Finados”, apesar da tristeza da separação que sentimos, é, de certo modo, um dia feliz. Confiamos na misericórdia de Deus e cremos que nossos falecidos se encontram com Ele, num grande e eterno abraço de amor.
Hoje, a Igreja celebra a “Festa de Todos os Santos”.
Todos os santos... Quantos são?
Só Deus sabe, mas deve ser muito mais do que costumamos pensar. A Igreja proclama alguns para servirem de inspiração à caminhada da fé dos cristãos, mas nunca teve a pretensão de fazer lista completa. Na verdade, ela diz que alguns são santos, mas não afirma que este ou aquele não é.
O trecho do Apocalipse que acabamos de ouvir fala de uma multidão incontável: “Vi uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e que ninguém podia contar” (Ap 7,9).
Todos os santos... Quem são?
As primeiras comunidades cristãs chamavam santos todos os seus membros. Chamados à santidade, de fato, somos todos nós, cada uma a seu jeito e dentro de suas possibilidades, que são maiores do que a gente imagina porque, além de sermos obra de Deus, a graça do Senhor nos acompanha.
Apesar de todas as desgraças que lemos todos os dias nos jornais e vemos na mídia, existe muita generosidade e santidade no mundo, em vidas simples, discretas e em outros que aparecem um pouco mais. O bom não costuma ser notícia, a não ser em casos mais heroicos. Se não houvesse uma enorme maioria de pessoas boas, honestas, fieis à própria consciência, ficaria impossível até andar na rua, porque não haveria policia que desse conta de nos proteger.
Todos os santos... Por onde passa o caminho para ser santo?
As chamadas "Bem-aventuranças" que temos ouvido no Evangelho não são outra coisa, a não ser um "roteiro", um "mapa" que nos indica o caminho seguido pelos santos, e que nós temos de seguir.
As bem-aventuranças são um resumo do jeito de viver que nos faz ser santos e felizes:
“Bem-aventurados os pobres no espírito”. E quem são esses pobres? É o desocupado, o desabrigado, o faminto ou o mendigo? Será que Jesus quer exaltar a miséria? Pobre pode ser você que é médico, operário, agricultor, estudante, idoso, moço, artista, político, empregada doméstica, dona de casa. É você se sabe ler as “bem-aventuranças” de uma maneira nova, quem consegue dar uma nova versão.
Quem, em vez de ler “bem-aventurados os pobres em espírito”, lê: “Santos são os que se comprometem com o pobre”, santos são os que sabem partilhar os alimentos, a ciência, a alegria, o seu tempo e a sua vida. Este entendeu melhor as palavras de Cristo dirigidas a uma sociedade fascinada pela riqueza.
“Bem-aventurados os aflitos”. Como podem ser felizes as pessoas que choram? Quem na vida nunca sentiu tristeza, angústia e dor, nunca conhecerá a força da consolação. Ao invés, podem ser bem-aventurados e santos aqueles que têm a capacidade de se comover, a capacidade de sentir no coração a dor existente em suas vidas e na vida dos outros. Estes serão santos!
“Bem-aventurados os mansos”. Quantas vezes somos impacientes, ficamos nervosos, sempre prontos para nos lamentar! “Somos exigentes com os outros, mas quando cabe a nós, reagimos levantando a voz, como se fôssemos os patrões do mundo, enquanto na realidade somos todos filhos de Deus”, frisou o Papa Francisco.
Este é o caminho do Senhor: o caminho da mansidão e da paciência. Jesus percorreu esta estrada: desde pequeno suportou a perseguição e o exílio, e depois, de adulto, as calúnias, as armadilhas, as falsas acusações no tribunal, e tudo isso ele suportou com mansidão. Suportou até mesmo a Cruz por amor a nós.
“Os puros de coração” são os que não têm duas caras, são os que sabem descobrir e valorizar o lado bom que há em cada pessoa, são as pessoas sinceras e leais.
“Bem-aventurados os misericordiosos”. Santos são aqueles que sabem perdoar, que têm misericórdia para com os outros, que não julgam tudo e todos, mas buscam se colocar no lugar dos outros. O perdão é algo que todos nós precisamos, ninguém está excluído. Por isso, no início da missa reconhecemos o que somos, pecadores. Não é uma maneira de dizer, uma formalidade: é um ato verdadeiro. Se sabemos perdoar os outros somos bem-aventurados.
“Bem-aventurados os que promovem a paz”. Olhemos o rosto daqueles que semeiam discórdia e ódio: são felizes? Aqueles que buscam sempre as ocasiões para enganar, aproveitar-se dos outros, são felizes? Não, não podem ser felizes. Aqueles que a cada dia, com paciência, buscam semear a paz, estes são artesãos da paz, de reconciliação. Estes são bem-aventurados e santos, porque são verdadeiros filhos de nosso Pai do Céu, que semeia sempre e somente a paz, que mandou seu Filho ao mundo como semente de paz para a humanidade.
E, finalmente, Jesus diz que “são bem-aventurados e santos aqueles que sofrem perseguição por causa do Reino”.
Quem conhece um pouco de história, sabe que os primeiros cristãos foram perseguidos, assassinados, jogados às feras, queimados vivos por causa da sua fé.
Ainda há perseguição dos cristãos no mundo atual?
Publicação de uma estatística: O número de cristãos perseguidos no mundo é de 150 milhões. Há muitas outras estatísticas, terríveis e dramáticas, nas páginas do “Livro Negro da Situação dos Cristãos no Mundo”.
A perseguição entre nós não acontece desse modo, mas está presente de modo sutil. A sutileza consiste em destruir os valores cristãos, como por exemplo, o conceito de família. Diariamente, novelas e programas de auditório de opinião pública, trazem temas com a finalidade de comprovar que os valores cristãos precisam ser destruídos. Isso está presente em debates sobre aborto, ideologia de gêneros, a própria sexualidade...
A perseguição até pode acontecer na vida pessoal de cada um de nós. Podemos ser malvistos ou criticados porque nos engajamos numa causa nobre. Jesus nos convida à alegria e à exultação. Não só alegrar-se, mas alegrar-se e exultar porque teremos uma grande recompensa no céu. Jesus está dando a receita para que a agressividade de quem nos ataca não entre em nosso coração, não seja capaz de tirar de nós a alegria, quer dizer, a paz interior.
Como vemos, para Jesus a santidade é algo ao alcance de todos.
Frei Gunther Max Walzer