Homilia - 12/11/2017 - XXXII Domingo do Tempo Comum
“Fiquem vigiando, porque vocês não sabem qual será o dia e a hora”, assim termina o texto do Evangelho que acabamos de ouvir.
Iniciamos o mês de novembro. Confiamos na misericórdia de Deus e cremos que nossos falecidos se encontram com Ele, num grande e eterno abraço de amor. Celebramos, também, a festa de Todos os Santos. Cremos que eles já alcançaram sua meta final e estão participando do banquete celestial.
Estamos nos aproximando do final do Ano Litúrgico com o convite para celebrar e a refletir sobre o final dos tempos. Não queremos fazer uma reflexão catastrófica, mas uma reflexão repleta de esperança que coloca uma questão essencial para nossas vidas: qual é o sentido da minha existência? Para que vivemos? Qual o sentido da minha vida? O salmista convida-nos a pensar a vida como uma busca de Deus: "desde a aurora ansioso vos busco". Desde o início de minha vida, eu sou um buscador de Deus.
Busco a vida plena, busco a vida que tenha sentido, busco o amor, busco o perdão para os meus erros, busco o abraço que me conforta e me diz que sou amado. Tudo isso são passos que nos colocam em caminhos que buscam Deus. Todos somos buscadores de Deus "como terra sedenta e desejoso de água", cantava o salmo responsorial.
E como mostramos essa sede? Estamos interessados em nosso próprio crescimento na fé? Ou temos uma religião de devoções superficiais, interesseiras? Não basta ter uma vaga vontade de andar nos caminhos de Deus, lembrar dele de vez em quando.
Dois textos de hoje têm imagens bonitas da busca de Deus. A primeira leitura fala de gente que madruga para ir em busca da Sabedoria (que é a inspiração do próprio de Deus) e, ao fazer isso, a encontramos sentada à porta. Ou seja, a se a gente busca Deus com seriedade ele vem ao nosso encontro. O texto é uma explicação de como Deus vem ao nosso encontro com sua sabedoria, propondo que a acolhemos para que nossa vida possa ter sentido.
Nossa vida, diz São Paulo, na 2ª leitura, não termina na morte e, muito menos, se reencarna. É uma vida que se torna plena graças a Ressurreição de Jesus, porque viveremos para sempre em Deus. No entanto, o que nos leva para a vida eterna tem que começar a ser construído aqui. A ressurreição é uma glorificação que Deus vai fazer de tudo de bom que construímos aqui. Por isso nos preparamos para a ressurreição a todo momento, em cada boa obra, em cada gesto de caridade.
O evangelho continua nos alertando sobre a urgência de estar preparado. Como já mencionamos outras vezes, as parábolas sempre usam imagens fortes e impressionantes para realçar a mensagem central. Esta mensagem encontramos, hoje, no fim do texto: “Vigiai, pois não sabeis o dia, nem a hora”. Estas palavras referem-se à segunda vinda do Senhor.
Para esta vinda do Senhor, Jesus conta a parábola das dez moças que estava esperando o noivo e se preparando para a festa. Havia ali algumas moças sem responsabilidade, mal preparadas. O noivo atrasou (quem atrasa hoje, para tristeza nossa, são as noivas!). O óleo das tochas acabou. Metade das moças ficou sem luz, pois, não levaram vasilhas com óleo de reserva. Não deu outra: as moças ficaram de fora, pois as prudentes não deram óleo e o noivo não as deixou entrar. Perderam a festa!
O que diria você de alguém que não enche o tanque de gasolina para poder voltar para casa depois de uma festa? Ou não coloca um dinheirinho no bolso para comprar a passagem de volta?
Quem são as dez moças? É a comunidade cristã, a Igreja que espera a volta do seu Senhor.
Na parábola, algumas moças estão de prontidão, pensam nas coisas essenciais. As outras descuidadas preocupam-se com o vestido, com as joias, com os perfumes, com o penteado, e, por fim, esqueceram-se da coisa mais importante: do azeite.
Acontece também em nossos dias: na nossa comunidade há pessoas que perdem o rumo pensando só em coisas fúteis e secundárias (festas, prazeres, diversões...) e não se dão conta de estarem perdendo um tempo valioso.
Alguém pode pensar que seja suficiente um bom sentimento, um bom pensamento no fim da vida, para deixar tudo em ordem. Uma vida mal usada não se reconstrói no último minuto. Naquela hora ninguém nos poderá emprestar uma parte de sua vida (é este o sentido do azeite que é negado pelas moças prudentes).
A festa de bodas, símbolo usado na parábola, refere-se ao encontro com Deus depois da morte. Como ninguém sabe o dia da morte, a hora da preparação, de acender a lâmpada da conversão, é sempre agora.
Deixar de fazer o bem para “qualquer dia” é correr o risco de que isso fique para “o dia de São Nunca”. Estar de lâmpada acesa é prestar atenção ao que acontece, ver as oportunidades que estão à nossa volta, para não pecar por omissão. O pecado mais comum não é o ato de prejudicar alguém, é a indiferença, é andarmos tão centrados em nós mesmos que não enxergamos os outros.
As imagens fortes que Mateus usa pretendem nos alertar a respeito da seriedade com que se deve avaliar escolhas que fazemos na vida. Cada momento é precioso e deve ser usado para o único objetivo que no final dá valor à vida: o amor, a doação de si ao irmão.
Ainda quero lembrar a mensagem do evangelho do domingo passado: O critério de julgamento não é religioso, é social. Jesus não pergunta que Igreja frequentamos, em que movimento participamos, quantos exercícios de piedade e devoções praticamos, quantos amigos padres tivemos... Pergunta, sim, se fomos solidários com os menos favorecidos da sociedade. Escutemos as palavras de Jesus: “Estive nu e me vestistes, estive com fome e me destes de comer, estive doente e preso e me visitastes, eu era estrangeiro e refugiado e me acolhestes”.
“Fiquem vigiando, porque vocês não sabem qual será o dia e a hora”, assim termina o texto do Evangelho.
Frei Gunther Max Walzer