Homilia - 28/01/2018 - Quarto Domingo do Tempo Comum
“Ensinava como quem tem autoridade” e ”todos ficavam admirados com o seu ensinamento”.
Como definir a palavra “autoridade”?
Em geral, o termo refere-se às pessoas que governam ou que exercem o comando. A autoridade também corresponde ao prestígio ganho por uma pessoa ou organização graças à sua qualidade ou à competência numa determinada matéria ou área de especialidade: “O Dr. Lopes é uma autoridade no que diz respeito a cirurgias cardíacas”. A autoridade tende a ser associada ao poder do Estado. Os funcionários estatais têm a faculdade de mandar e de dar ordens, que devem ser acatadas desde que estejam em conformidade com as leis e as normas em vigor.
A autoridade é, portanto, uma forma de dominação. Quem não tem domínio não tem autoridade no exercício de sua função. Por exemplo, se a professora mandar os alunos calarem-se e que estes continuem a fazer barulho e a perturbar o bom funcionamento da aula, significa que a professora não está conseguindo exercer o seu poder de autoridade na suas funções de docência.
Isto quer dizer que, mais do que meros títulos ou fórmulas de cortesia, a autoridade é algo que se exerce, e não propriamente algo que se usa ou ostenta. Podemo-nos confrontar com o paradoxo de existir autoridade sem autoridade, como pode acontecer no caso do chefe de uma empresa cujos empregados não lhe obedecem. Em contrapartida, há certas pessoas que, embora não tenham quaisquer cargos formais, exercem a autoridade (como, por exemplo, um amigo que tem poder e influência sobre as nossas próprias decisões).
No evangelho: “Ensinava como quem tem autoridade” e ”todos ficavam admirados com o seu ensinamento”. Imagino que as pessoas ficavam presas a seus lábios e, espantadas, elas se perguntavam: Mas, não é ele o filho de José e Maria? Nós conhecemosbem a sua família. Todos admiravam seu ensinamento e percebiam que ele falava diferente dos escribas e dos doutores da Lei.
Jesus ensinando na sinagoga e com “tanta autoridade”! Quem foi que lhe tinha dado essa autoridade? Ele pregava uma nova doutrina? Não! O texto da Escritura que ele usava era o mesmo dos doutores da Lei. Mas, seu testemunho de vida era algo novo, algo que empolgava, que arrastava a pessoa.
E suas palavras não são só palavras bonitas que tocam o coração. Jesus é autêntico, pois sua palavra corresponde à ação e a ação corresponde à palavra. Jesus não vive com uma fachada, a pregação e a vida não ficam separadas, é ele, assim como ele é: Vive e ensina o Reino de Deus, por palavras e ações, ele é coerente. É por isso que os ouvintes reconhecem a sua autoridade, ao contrário dos doutores da lei.
Ao expulsar o espírito mau daquele homem Jesus provou a sua autoridade e a autenticidade da sua missão. Ele não fazia nada para se mostrar poderoso, contudo, refletia o poder que recebia do Pai. Diante dele, até os espíritos maus se rendiam e reconheciam a sua condição de Santo de Deus.
Esta autoridade vinha da coerência da sua vida, pois Ele vivia o que pregava e se mantinha fiel à vontade do Pai.
As obras que Jesus realizava naquele tempo, também hoje Ele as realiza, por meio de nós. Mesmo sendo pecadores(as) e limitados(as) nós podemos mostrar autoridade nas nossas ações e nas nossas palavras quando nós vivemos em conformidade com a vontade de Deus e seus ensinamentos. Tem autoridade quem vive coerentemente a sua fé.
E quem são os espíritos maus hoje?
Forcas demoníacas com certeza são: os sentimentos racistas que alimentam o ódio, a discriminação; são as injustiças contra os que são diferentes de nós; “demônios” são o vício da bebida e da droga, a ganância, a paixão sexual desenfreada e incontrolada.
Esses e outros demônios querem dominar a gente. Jesus quer libertar as pessoas e entra em conflito com os “demônios”. Mas a sua palavra é poderosa, e o milagre acontece porque ele fala com “autoridade”.
Onde estaria a autoridade que se opõe aos “espíritos maus”? Diz-se que, hoje, já não há autoridade na família, na escola, na comunidade, na sociedade. A palavra da Igreja ainda tem autoridade para desbancar os “demônios” que causam prejuízo às pessoas?
Não quero procurar culpados, apenas pergunto:
Será que a nossa mensagem é coerente com a nossa vivência do Reino de Deus?
Ou seja: não acontece também no nosso meio que acabamos a missa e logo depois comentamos a vida dos outros, a sua vida moral, o que faz ou não devia fazer. A nossa vida não está cheia de intrigas e fofócas, desconfianças em relação a tudo e a todos e tantas outras coisas que nos arrastam para bem longe da realidade do Reino de Deus?
Não nos enganemos: quando há uma discrepância entre o que Jesus proclama como Reino de Deus e a nossa mensagem, quando há uma discrepância entre as nossas palavras e as nossas ações, deixamos de ser coerentes. Assim pronunciamos, talvez, palavras bonitas, mas serão palavras ocas, palavras sem poder de transformação.
Eu tenho a impressão que isto infelizmente acontece muitas vezes na nossa vida e na vida da Igreja: somos incoerentes, pouco autênticos, há uma discrepância entre a palavra e a ação. E é assim que ficamos sem autoridade, que perdemos a credibilidade.
Que deixamos passar mais uma oportunidade de proclamar a Boa Nova do Reino de Deus. A culpa é nossa.
Como viver o evangelho no cotidiano?
O que dá sentido a nossa vida cristã é a coerência com o conhecimento que nós temos da proposta de Jesus e a sua missão que também é nossa.
Não podemos ficar de braços cruzados, a olhar para o céu, enquanto o mundo é construído e dirigido por pessoas que propõem uma lógica do egoísmo e de morte.
Diante do testemunho e anúncio dos valores do Evangelho temos a responsabilidade de lutar contra tudo aquilo que rouba a vida e a liberdade do ser humano. Temos que ser profetas e para isso temos o poder de mandar calar ao espírito mau em qualquer circunstância, como Jesus, somos chamados a apresentar ao mundo a Palavra de Deus e o anúncio de seu Reino. À medida que os ensinamentos de Jesus fizerem parte da nossa vida cotidiana, os espíritos maus não encontram mais espaço em nossa vida.
E, se muitas vezes, diante do nosso comodismo, assistimos a derrota das forças do bem, é porque nos falta o testemunho de um ensinamento novo, realizado por nós com autoridade.
Frei Gunther Max Walzer