Homilia - 08/04/2018 - Segundo Domingo da Páscoa
O evangelho nos fala de Tomé, que teve dificuldade de acreditar e precisou ver e tocar Jesus. Ver para crer continua sendo uma exigência muito forte nos dias de hoje, principalmente, quando o povo percebe que já foi enganado muitas vezes. É que o mundo está cheio de corrupção e de falta de ética, cheia e de discursos vazios que não convencem mais ninguém. Neste ano eleitoral, já podemos antecipar a reprise do velho filme: políticos bem arrumadinhos andando no meio do povo, beijando crianças e prometendo soluções para todos os problemas sociais. São amigos que não correspondem na hora da necessidade. São namorados que juram fidelidade e acabam decepcionando. “Ver para crer” diz a dona de casa diante ao propagandista de sabão em pó.
Ela também quer ver para crer se o sabão em pó OMO tira mesmo todas as manchas da toalha e da roupa. Depois de tanto engano, as pessoas, com razão, dizem que querem ver para crer.
Observando bem, todos nós somos descendentes de Tomé. Todos nós pertencemos à essa grande multidão de desconfiados. Passando pela Felipe Schmidt podemos observar as pessoas segurando sua pasta e sua bolsa com as duas mãos. Ninguém confia em ninguém. Pessimistas que somos, imaginamos que neste mundo só há ladrões e “trombadinhas”.
Somos filhos de uma época materialista e, em tudo, apelamos para os nossos olhos e os nossos dedos: “Se eu não enxergar, e se eu não puser o dedo, não acreditarei”. Estamos acreditando só naquilo que vemos com os olhos e tocamos com as mãos. “Eu sou igual a São Tomé! Só acredito vendo!”
Mas será que somos realmente como Tomé? Em que sentido?
Vejamos: Vivemos numa comunidade cristã. Os de fora só vão crer que a proposta dos cristãos é válida se enxergarem em nossa comunidade sinais de fraternidade, de perdão, de acolhimento, de partilha. Cantamos tantas vezes: “Onde há amor e caridade Deus aí está”. Com cristãos tristes, desanimados, desunidos ou indiferentes vai ser muito difícil convencer alguém que Jesus está no meio de nós.
No relato do evangelho de hoje, Jesus ressuscitado aparece aos seus amigos no primeiro dia da semana: é o domingo, que começa a ser o dia da reunião da comunidade. Ele aparece para enviar os discípulos em missão . A missão é a de continuar a tarefa do próprio Jesus. Eles recebem o Espírito Santo e o poder para prestar um serviço à causa da salvação: o poder de perdoar os pecados de quem quer ser perdoado. Fora deste perdão só estarão os que voluntariamente se colocarem no time “do contra”.
Não sei, se perceberam que as duas aparições acontecem no “domingo”, no “primeiro dia da semana“. Os discípulos de Jesus encontram-se reunidos em casa. O encontro com o Ressuscitado acontece no “Dia do Senhor”, aquele no qual, cada oito dias, a comunidade cristã é convocada para a celebração da Eucaristia. Quando todos os que creem estão reunidos, aí aparece o Ressuscitado. E o sacerdote saúda os fiéis com as mesma palavras que o Ressuscitado disse: “A paz esteja convosco!”
Tomé não fez a experiência do Ressuscitado porque estava ausente. Quem como Tomé não participa do encontro no “Dia do Senhor”, no domingo, - não pode ouvir a saudação do Ressuscitado e a sua Palavra, - não pode receber a sua paz e o seu perdão, - não pode experimentar a sua alegria e receber o seu Espírito. Quem, no Dia do Senhor, fica em casa, mesmo que fosse para rezar sozinho, pode, certamente, fazer uma experiência de Deus, mas acaba perdendo o mais importante, que é a presença do Ressuscitado na comunidade que trabalha em seu nome, levando adiante o projeto do Reino como Ele pediu.
De volta à comunidade, Tomé encontra Jesus e não precisa mais tocá-lo. Reconhece o seu Senhor e dá um belo testemunho de fé, dizendo: “Meu Senhor e meu Deus!”. Jesus diz que muitos serão felizes porque acreditarão sem ver. Sem ver o quê? Sem ver o próprio Jesus histórico, mas, com certeza, vendo os sinais da sua presença no meio da comunidade dos que creem.
As primeiras comunidades davam um tipo de testemunho muito concreto: união e partilha que não deixava ninguém passando necessidades. Foi vendo esses sinais nas primeiras comunidades que muita gente começou a crer.
A carta de João diz que a vitória que vence o mundo é a fé. A fé, no entanto, produz um novo modo de ver, traz uma nova escala de valores. Essa fé nos faz viver a partilha, mesmo quando a sociedade vive de acumular e explorar o próximo.
Mas, eu pergunto: É possível, para nós, nos dias de hoje, repetir a experiência que os apóstolos tiveram no dia da Páscoa e, também, “oito dias depois”? De que maneira?
E quem não encontra o Ressuscitado, o que fará? Vai precisar de “provas” para acreditar, de “provas”, que ele jamais vai conseguir.
Por isso, quando nos reunimos aqui no “Dia do Senhor”, não somos uma turma de saudosistas reunidos numa assembleia anacrônica e ultrapassada, não somos ritualistas cumprindo um preceito, mas somos uma comunidade de gente renovada por uma certeza absoluta: O Senhor está vivo. Ele está no meio de nós.
Cristo está no meio de nós, unindo-nos e reunindo-nos, dando-nos sua força, sua bondade, seu amor.
Cristo está no meio de nós e nos diz: “A paz esteja convosco”!
Frei Gunther Max Walzer