Homilia - 29/04/2018 - Quinto Domingo da Páscoa
Ao nos criar como seres humanos, Deus nos fez seres que se relacionam. Em outras palavras, somos seres capazes de nos relacionar uns com os outros e, certamente, o relacionamento mais sublime é o relacionamento do amor.
No entanto, o contrário está acontecendo em nosso país e no mundo. A violência está aumentando cada vez mais. O noticiário só fala em violência no Rio de Janeiro, Ceará e Pará. A violência atinge a todas as pessoas, mas sobretudo as mais necessitadas e pobres. A violência está presente no mundo inteiro.
Novas violências aconteceram na Nigéria central. Dois sacerdotes católicos e pelo menos 16 fiéis foram mortos no dia 24 deste mês, pela manhã da terça-feira, em um ataque armado contra a igreja de um vilarejo. Homens armados entraram em ação logo depois da celebração da Missa na paróquia de St. Ignatius, que pertence à diocese de Makurdi. Segundo fontes locais, algumas casas também foram incendiadas.
Na sexta-feira, dia 20 deste mês, no México, o Pe. Juan Miguel Contreras García, 33 anos, foi assassinado ao término da celebração da Eucaristia na Paróquia São Pio de Pietrelcina, na localidade de Tlajomulco, no Estado de Jalisco. No dia 25 de abril foi encontrado na cidade de Cuernavaca, Morelos, o corpo do idoso sacerdote Moisés Fabila Reyes (83 anos), que fazia parte do clero da arquidiocese da Cidade do México, e exercia seu ministério na Basílica Nacional de Guadalupe. É o terceiro sacerdote assassinado só no mês de abril.
Quando vai terminar a violência? É a paz e o amor que o ser humano deseja e só com ele pode ser feliz.
Já falamos mais vezes de Deus que é a fonte de todo amor. O amor é divino, ultrapassa tudo o que podemos imaginar.
Jesus nos veio revelar este amor de Deus e nos convida a participar dele. Somos chamados a entrar na intimidade do amor de Deus. Com Cristo amamos o Pai. Somos amados pelo Pai em Cristo. Assim participamos da circulação do Amor, o Espírito Santo.
A comparação com a videira de que Jesus nos fala nos faz pensar:
Jesus reunido com seus discípulos, compara a relação que há entre eles a uma videira. Jesus é o tronco; os seus discípulos são os ramos; o Pai é o agricultor que cuida da videira. Ele corta os ramos que não produzem frutos; ele poda os que dão frutos para que deem mais ainda.
Quando ficamos unidos ao tronco, Cristo, a seiva da vida e do amor pode circular em nós; podemos participar do amor do próprio Deus.
Jesus é bem claro. Para isto devemos ficar unidos a ele; permanecer nele. Jesus está falando da sua comunidade, de nós todos unidos a ele. Cada ramo está ligado a Jesus e recebe a sua seiva, o amor divino, o Espírito Santo. Mas esta relação não pode ser vista de modo individualista: Jesus e eu. É uma visão de conjunto, todos nós estamos unidos entre nós e com o tronco, Jesus. Assim somos responsáveis pela comunidade de Jesus. Todos nós estamos ligados ao único tronco.
É importante observar que os ramos se entrelaçam de tal modo que é difícil distingui-los separadamente. Embora não sendo exatamente iguais, em Cristo são acolhidos igualmente (Gl 3,28). Todos contribuem para alimentar com sua seiva o conjunto (a comunidade).
Quais são os frutos que os ramos devem produzir?
A segunda leitura (1Jo 3,18-24) explica quais são estes frutos: “Não amemos só com Palavras e de boca mas com ações e de verdade!”. Portanto, São João, explica bem claro que não se pode amar somente com palavras e da boca para fora, com canções ou discursos que falem do amor, pois a intimidade com Jesus, quando é sincera, produz frutos, produz ações, atitudes concretas.
Às vezes falamos palavras bonitas, mas que não resultam em atos de amor. As palavras até podem ser falsas, usadas para bajular, para obter proveito. Quando a palavra “amor” é sincera, ela produz frutos, que são: perdão, paz, solidariedade.
Os textos da liturgia de hoje nos favorecem fazer uma reflexão da nossa vida cristã a partir de coisas concretas, de frutos que produzimos, daquilo que fazemos como cristãos. Hoje, Jesus deixa bem claro que ser cristão não se limita a ficar rezando, participar de louvores e conhecer trechos da Bíblia. Isso não diz nada se o Pai não for glorificado com frutos de vida nova, vindos da ressurreição do Senhor. A autenticidade da vida cristã, portanto, é medida pelos frutos. Cristão verdadeiro é aquele que é discípulo de Jesus e produz frutos; aquele que não produz nada é chamado por Jesus de “galho seco”, um inútil; serve para ser queimado ou jogado no lixo. Eis, portanto, uma oportunidade para avaliar como somos cristãos, se produzimos frutos do Evangelho ou não.
No pensamento de João, o amor está no centro. João refere-se, em primeiro lugar, ao amor dentro da própria comunidade. É uma linguagem carinhosa, afetiva, de família. Devemos amar-nos uns aos outros, assim como Jesus nos amou.
Conhecemos a bela canção de quinta-feira santa: “Onde há amor e caridade, Deus aí está”.
De fato, podemos afirmar que Deus está presente nas famílias, na sociedade e em qualquer lugar onde se vive o amor.
Frei Gunther Max Walzer