Homilia - 03/06/2018 - IX Domingo do Tempo Comum
Leis mais leis! Quantas leis! Muitas leis não servem para nada, e se não servem para o bem das pessoas, para que servem? Muitas leis até dificultam a convivência humana. Há leis que favorecem apenas alguns interessados, às vezes até provocam a transgressão proposital de “aproveitadores”.
As leituras de hoje nos falam de uma Lei Mosaica que tinha uma finalidade específica: recordar e festejar a libertação realizada por Javé da escravidão do Egito. “Lembra-te de que foste escravo no Egito e que de lá o Senhor teu Deus te fez sair com mão forte e braço estendido. É por isso que o Senhor teu Deus te mandou guardar o sábado“ (Dt 5,15).
Na sua origem, portanto, a Lei Mosaica tinha como finalidade permitir que as pessoas se alegrassem, descansassem e comemorassem a própria liberdade. Infelizmente, porém, na época de Jesus, os guias espirituais do povo, os fariseus e escribas, distorceram o sentido do mandamento e inventaram inúmeras e complicadas normas. Haviam elaborado uma lista de 39 ações proibidas, e cada uma delas tinha um sem-número de normas minuciosamente especificadas. Era proibido ajudar um doente, acender o fogo, preparar comida. Lembremos o escândalo provocado por Jesus quando curou um paralítico no dia de sábado e mandou carregar seu colchão. Assim o sábado se tinha transformado num dia de angústia e medo de transgredir uma dessas normas.
E Jesus, como se posicionava diante desse mandamento?
O Evangelho de hoje nos apresenta um episódio que provoca uma séria discussão que termina com a frase: “O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado” (Mc 2,27.
Com essa afirmação Jesus lembra, antes de tudo, que o sábado foi instituído para trazer alegria para o homem, e não para escravizá-lo com imposições absurdas.
A Igreja, já desde o início celebra o dia seguinte ao sábado como o Dia do Senhor (“dies domini”), ao qual deu o nome de “domingo”. Neste dia se comemora a Ressurreição do Senhor, fato fundamental e básico da nossa fé.
Durante muito tempo, uma grande maioria de cristãos viu no domingo apenas o frio cumprimento da “lei”. Simplesmente se guardava o domingo e se ia à missa neste dia porque existia uma lei da Igreja que obrigava...
Hoje, vivemos numa outra situação. Já na sexta-feira ou no sábado, quando as pessoas se despedem uma da outra, é bastante comum dizer: "Bom final de semana!". Não se diz mais "Bom domingo", como antigamente. Para uma grande maioria, o importante não é mais o domingo. O mais importante é o final de semana e não o domingo.
O domingo é um dia de folga, com início já na sexta à noite. Dia de lazer. Dia próprio para passear, viajar, visitar amigos e parentes, brincar, ir à praia, fazer uma pescaria. Dia próprio para dormir um pouquinho mais, assistir a um jogo de futebol, comer num restaurante etc. Tanta coisa se faz no domingo, ou melhor, no final de semana.
Para outros, mesmo sendo o dia próprio do lazer, o domingo também não deixa de ser um dia de trabalho. Certas necessidades do mundo de hoje obrigam pessoas a trabalharem nesse dia. Nos serviços de transporte, nos hospitais, em grandes indústrias, etc. Outras pessoas, devido ao sufoco econômico que passam, aproveitam a folga do domingo para fazer algum biscate. Outras aproveitam a folga para construir ou reformar a casa, participar de algum mutirão... E assim por diante.
O Concílio Vaticano II diz: “Nesse dia, os fiéis devem reunir-se a fim de que, escutando a palavra de Deus e participando da Eucaristia, recordem a paixão, a ressurreição e a glória do Senhor Jesus e deem graças a Deus”.
O que se nota, desde os tempos dos Apóstolos, é que o ponto central do domingo não é o simples 'descanso' mas a missa. É um dia destinado à fé e à piedade, ao encontro com Deus e com os amigos, à renovação do espírito e ao descanso físico.
O papa emérito Bento XVI disse que o domingo é o "Dia do Senhor", denunciou que este dia se transformou em "fim de semana" na sociedade ocidental, e afirmou que, embora o tempo livre seja necessário, "se não tiver um centro, que é o encontro com Deus, acaba sendo um tempo perdido".
São João Maria Vianney dizia: "Um Domingo sem Missa é uma semana sem Deus".
Precisamos redescobrir o valor do domingo em nossa vida. Nossa época é de muita comunicação, mas de pouca comunhão. A corrida pela vida, as preocupações econômicas, as ambições, a busca de prazeres, levaram o homem ao isolamento e à vida egoísta.
Com certeza, se começarmos a semana com o encontro com o Senhor, se o primeiro dia da semana começar com a bênção de Deus, os demais dias da semana serão dias de paz, de amizade, de esperança, de alegria e felicidade.
Frei Gunther Max Walzer