Homilia - 10/06/2018 - X Domingo do Tempo Comum
Cada vez mais nos perguntamos: Que mundo é este? Parece que vivemos num mundo e numa sociedade onde vale tudo: corrupção em quase todas as instituições, quantas injustiças, violência crescente nas cidades, ruas, e até nas escolas e nos estádios de esporte, quanta mentira e quanta morte na vida social e profissional!
A Liturgia deste Domingo nos conduz a uma reflexão sobre o pecado, especialmente sobre suas consequências. Os males que sofremos são consequência do pecado?
O tema “pecado” está cada vez mais diluído em nossos conceitos atuais. Existe, inclusive, uma repulsa com relação ao pecado, no sentido de considerar o pecado como algo demodè, que não pertence mais ao mundo atual.
Nós nos questionamos: Esse mal que vemos, todos os dias, esses males que tornam sombrio o nosso mundo, essa nossa “casa”, vêm de onde? O mal vem de Deus ou vem do homem?
A Palavra de Deus responde: o mal nunca vem de Deus… Deus criou para nós um “paraíso”, criou-nos para a vida e para a felicidade e deu-nos todas as condições para que tenhamos uma vida de felicidade, de realização plena.
A 1ª leitura relata o diálogo entre a mulher e a serpente tendo como fundo o simbolismo da árvore do bem e do mal e a tentação humana de prescindir de Deus. Adão e Eva fizeram uma escolha. Escolha errada!
Portanto, a resposta para a origem do mal é: na história humana, o homem que Deus criou livre e feliz fez escolhas erradas. As opções erradas do homem introduziram na comunhão do homem com Deus e com o resto da criação fatores de desequilíbrio e de morte (Gn. 3,1-7).
Diz a 1ª leitura, que a consequência do pecado na vida humana é uma situação de medo, de nudez e de fuga. Quem vive no pecado vive fugindo, vive se escondendo por se sentir desnudado de vida.
Adão representa essa sociedade que está mergulhada no egoísmo e na auto-suficiência. A resposta de Adão mostra, igualmente, uma sociedade que quebrou a sua unidade e se instalou no pecado da corrupção, na falta de solidariedade, no ódio e da violência. Escolher caminhos contrários aos de Deus não pode senão conduzir a uma vida de ruptura com Deus e com os outros irmãos.
Qual seria a solução para mudar tudo isso?
São Paulo, na segunda leitura, coloca como saída dessa situação abandonar o antigo Adão, abandonar o homem velho e escolher um novo modo de viver. Deus se coloca a favor do homem na luta contra o mal. Deus não quer ver o homem destruído pelo mal, ao contrário, o quer restaurado pelo bem. Paulo confirma isso com um incentivo: “por isso não desanimemos” na luta contra o mal, que parece nunca terminar.
No Evangelho de hoje, encontramos uma proposta para extinguir o mal: pertencer à família de Jesus. Quem pertence à família de Jesus vive fazendo a vontade do Pai, acolhe, e se deixa conduzir pelo Espírito de Deus.
Encontramos Jesus de volta em Cafarnaum. Ali ele está seguro e rodeado pela multidão. A sua casa é o local onde se reúnem os sofredores de toda a espécie e ele está sempre pronto para atendê-los.
Junto daqueles que precisam de Jesus, estão também os doutores da Lei que vieram de Jerusalém para confirmar os boatos sobre o que ele faz e porque é tão popular. Os doutores da Lei ou escribas são especialistas em interpretar as leis, para dizer o que se pode ou não fazer, e chegam ali para condenar Jesus.
Naquele momento estão reunidos dois grupos que não concordam com o que Jesus está fazendo: os seus parentes e os fariseus. Mas qual era a preocupação dos seus parentes? Jesus praticava atos e falava coisas que desobedeciam as normas e costumes da época, por isso, pensavam que ele estava ficando louco, por estar colocando a sua vida em risco. Eles não entendiam que a Boa Nova exigia uma postura nova também! Jesus não pactua com o mal, e tem a missão de libertar todas as pessoas de qualquer tipo de opressão que as exclui da vida social e religiosa.
Os doutores da Lei diziam que Jesus estava possuído por Belzebu, o pior dos demônios, e que agia em nome dele.
Jesus, então, faz duas comparações ao responder a acusação feita: o reino dividido e o homem forte. A primeira refere-se ao absurdo de expulsar demônios pelo poder do demônio, pois assim Satanás estaria destruindo a si mesmo. Quanto à segunda comparação, Jesus afirma que o príncipe dos demônios (homem forte) está amarrado, ou seja, enfraquecido diante da prática de Jesus de expulsar demônios, e que assim, o Reino de Deus está ocupando o lugar do reino de Satanás.
Jesus afirma, ainda, que eles estão pervertendo a ação de Deus, ao afirmarem gravemente que o bem realizado por Jesus é obra do demônio. Esta acusação é a maior ofensa que eles poderiam fazer contra o Espírito Santo que é quem age em Jesus curando os doentes, afastando os demônios e operando os milagres.
Continuando a cena, Jesus declara quem é a sua verdadeira família, composta por todos aqueles que com Ele comungam da mesma fé, seguem seus ensinamentos e partilham do amor ao Pai e aos irmãos.
Com a expressão, “quem faz a vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”, Jesus não desconsiderou sua Mãe, pelo contrário, a elevou, pois ninguém mais do que ela fazia a vontade do Pai! Maria se colocou como serva de Deus, desde o anuncio de que ela seria a mãe De Jesus! "Eis aqui a serva do Senhor, faça em mim, segundo a Sua vontade"!
No final da oração do “Pai Nosso”, fazemos o pedido: “Livrai-nos do mal”! Jesus veio para acolher e unir as pessoas de boa vontade. Quem dispersa, divide, tumultua, engana, quer lucrar e levar vantagem, este sim, é o demônio. Jesus quer a unidade. “Este é o meu mandamento, que vos ameis uns aos outros”, e ainda: “Nisto todos conhecerão que vós sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros”.
Jesus nos mostra quem faz parte da sua família: aquele que faz a vontade do Pai. Se fazemos a vontade do mal, se vivemos no pecado e concordamos com o pecado, não pertencemos à família de Jesus. Se vivermos fazendo a vontade do Pai somos membros da família de Jesus e viveremos longe do mal, da maldade e do pecado.
Frei Gunther Max Walzer