Homilia - 05/08/2018 - XVIII Domingo do Tempo Comum
O mês de agosto é o “Mês Vocacional”. Não é um mês de homenagens, mas de orações pelas vocações. Neste 1º Domingo de agosto, rezamos pelas vocações sacerdotais, vocações de jovens capazes de deixarem tudo por causa do Reino. Vocações que se coloquem a serviço do povo, mostrando com palavras e exemplos, que Jesus alimenta nossas vidas com o pão de sua Palavra e o pão que nos leva à vida eterna.
É este o pão que procuramos?
Procuramos pão para a vida, pão que alimente a vida. O pão não é apenas um símbolo da vida, é a própria vida com a qual nos alimentamos. No pão está a vida e, por isso, negar o pão é negar a vida, negar a possibilidade de viver. Entende-se que quando o pão começa a faltar, aparece o desespero, cresce a angústia, aumenta o medo de perder a vida; aparecem protestos e reclamações, com ouvimos na primeira leitura. A comunidade dos filhos de Israel começou a murmurar contra Moisés e Aarão, no deserto, dizendo: - Quem dera que tivéssemos morrido pela mão do Senhor no Egito, quando nos sentávamos junto às panelas de carne e comíamos pão com fartura. Por que você nos trouxe a este deserto para matar de fome toda esta gente?
De onde surgem as reclamações do povo que caminhava no deserto? Da falta de pão, do medo de morrer de fome no deserto.
A narrativa do Êxodo retrata duas verdades: o medo humano da falta de pão e a misericórdia divina que socorre as pessoas ameaçadas pela fome. Deus ouve a oração reclamadora do povo, diante do medo de morrer de fome. A resposta divina é: - Eis que farei chover para vós pão do céu. (...) Isto é o pão que o Senhor vos deu como alimento.
Que tipo de pão procuramos? Procuramos pão, procuramos vida?
Não é segredo para ninguém que vivemos numa sociedade que supervaloriza os bens materiais. Muitos pensam que possuindo este carro, tendo aquele tipo de casa, usando esta ou aquela roupa viverão realizadas. A mentalidade do mundo é esta, mentalidade marcada pelo ter, pelo possuir, pela exibição, pela ânsia que fomenta a necessidade de aparecer, de ser visto e admirado.
Diante de tal realidade, a 2ª leitura incentiva-nos a não modelar nosso caráter e nossa personalidade com a mentalidade do mundo. Ao contrário, Paulo incentiva a despojar-se desta mentalidade: - Não continueis a viver como vivem os pagãos, ... Renunciando à vossa existência passada, despojai-vos do homem velho, que se corrompe sob o efeito das paixões enganadoras, e renovai o vosso espírito e a vossa mentalidade.
Comecemos a viver com outro Espírito. Este outro Espírito, nada mais é que o Espírito Santo. É a presença do Espírito divino em nós que ilumina e ajuda a entender o que é melhor para a vida humana. Podemos ter bens, mas o Espírito divino ajuda-nos a viver de modo despojado, sem colocar nos bens o sentido último da vida.
Um incentivo para não viver de acordo com a mentalidade “materialista” do mundo está no Evangelho. E aqui, temos um dado interessante. O povo foi à procura de Jesus e, assim que o encontrou perguntou: “Mestre, onde estavas?” É a pergunta de quem está à procura, de quem busca, de quem procura. Tal procura acontece logo depois da multiplicação dos pães, Jesus percebeu que vinham a ele não por causa de sua nova proposta de vida, mas por causa do pão.
“Vocês estão me procurando porque vocês comeram os pães e ficaram satisfeitos e não porque entenderam os meus milagres”. Esta é a queixa de Jesus: “Vocês me procuram só por causa da comida” (Jo 6,26). Isso é que é falar claro. Sabemos que o mundo está cheio de gente que procura o Cristo só por causa de interesses materiais.
No Evangelho de hoje, Jesus reorienta o sentido da busca. Deixa claro que não devemos buscar Jesus por causa dos milagres, não devemos buscar Jesus somente por causa do pão material, mas buscá-lo porque ele tem uma proposta capaz de dar à vida presente um sabor de eternidade. Dentro do contexto comercializado que vivemos, sabemos que até mesmo Jesus é transformado em mercadoria, com promessas de milagres e de sucesso financeiro. Hoje, contudo, Jesus alerta para tais propagandas e insiste: “Não me busquem pelos milagres, mas porque eu posso dar um sentido para viver”.
A multiplicação dos pães levou muita gente a identificar Jesus com uma espécie de “milagreiro”. As pessoas confundiram as coisas, pensando que Jesus fosse uma ótima solução para conseguir de maneira fácil o pão de cada dia. Ou seja, quando sentissem fome, era só recorrer ao “milagreiro” e não precisavam mais trabalhar para produzir e partilhar os alimentos.
Aí Jesus aponta para o alimento que merece ser procurado porque não estraga nunca. Esse pão é diferente do maná que o povo comeu no deserto (Êx 16,12-15).
E, novamente, as pessoas começaram a confundir as coisas. Pensavam, “se a gente come um pão que ‘dura para a vida eterna’, logo, não haverá necessidade de trabalhar”. Foi com essa ideia na cabeça que eles pediram, inocentemente, a Jesus:
”Senhor,dá-nos sempre deste pão!” (Jo 6,34). Aí, Jesus falou bem claro: “Eu sou o pão da vida. Aquele que vem a mim não terá mais fome, e aquele que crê em mim não terá mais sede”.
O que significa essa frase misteriosa de Jesus? Jesus está dizendo que, antes de mais nada, é preciso que o procuremos. Jesus nos está dizendo hoje, que o procuremos sua pessoa, seu projeto de vida, seu Reino. Isso sempre deve estar em primeiro lugar em nossa vida.
Muitas pessoas vão à procura de sinais, de milagres, de curas. Assim como a multidão, muitas vezes buscamos a Deus com algum interesse, pois herdamos uma religiosidade que afirma que Deus nos dá coisas em troca de nossa fé, de nossos pedidos, de nossas orações e não queremos olhar o seu amor gratuito. Se Deus nos ama gratuitamente não precisa de nada em troca para nos amar. A maior prova de amor ele nos deu quando nos deu o seu próprio Filho, o pão que não perece e que dá vida ao mundo.
Jesus é o verdadeiro pão do céu, ele mesmo se faz alimento. O pão antigo perecia, precisava ser consumido no mesmo dia. O novo pão é para sempre: “quem se alimenta dele não terá mais fome”.
É isto que acontece em cada celebração eucarística. E é para isso que o Senhor Jesus nos deu o sacerdócio para poder se tornar um alimento do cotidiano do povo.
Como já foi anunciado no início da celebração, o mês de agosto é dedicado à oração pelas vocações. Não é um mês de homenagens, mas de orações pelas vocações. Neste 1º domingo de agosto, rezamos pelas vocações sacerdotais.
Mas, afinal, em que consiste o valor da vida sacerdotal?
São Francisco de Assiste teve esta concepção de um sacerdote: “Se pelo caminho encontrar um anjo e um sacerdote, cumprimente primeiro o sacerdote. O anjo é apenas um servo de Deus; o sacerdote representa o próprio Deus”.
Qual seria a importância do sacerdote?
Quando se pensa... que nem os anjos, nem os arcanjos podem fazer o que um sacerdote faz...
Quando se pensa... que Nosso Senhor Jesus Cristo, na última ceia, realizou um milagre maior que a criação do Universo, ao transformar o pão e o vinho em seu Corpo e Sangue para alimentar a nós pecadores e que o sacerdote é capaz de repetir este milagre todos os dias.
Quando se pensa... no outro milagre que somente o sacerdote é capaz de realizar: perdoar pecados pois o que ele liga no confessionário, Deus, obrigado por sua própria palavra, o liga no céu e o que ele desliga, no mesmo instante o desliga Deus.
Quando se pensa... que um sacerdote não é apenas um símbolo, nem sequer um embaixador de Cristo, mas é o próprio Cristo quem está ali, repetindo o maior milagre de Deus...
Quando se pensa... que um sacerdote é mais necessário que um presidente, mais que um senador, mais que um banqueiro, mais do que um médico e mais que um professor, porque sem sacerdote não existe Igreja.
Quando se pensa... que o mundo morreria da pior fome se chegasse a lhe faltar esse pouquinho de pão e esse pouquinho de vinho.
Quando se pensa... que isso pode acontecer porque estão faltando vocações sacerdotais.
Rezemos para que muitos jovens coloquem sua vida a serviço do povo, mostrando-lhes, que Jesus alimenta nossas vidas com uma vida plena de sentido e de alegria.
Frei Gunther Max Walzer