Homilia - 23/09/2018 - XXV Domingo do Tempo Comum
Quem é o ou a maior, mais forte, mais rápido, mais bonito? A luta pelos primeiros lugares determina muitas vezes a vida e o julgamento das pessoas. Na sociedade competitiva, em que vivemos, o que importa é ser “o maior”.
O que nos leva a querermos ser sempre o melhor, o maior entre aqueles que convivemos?
Desde pequenos nos passam a ideia de que, se não tivermos beleza, inteligência, riqueza, simpatia, nunca conseguiremos sucesso na vida. Na escola somos motivados a ser o melhor da turma; temos que nos esforçar para passar no vestibular entre os melhores; no trabalho, a fazer de tudo para termos cargos melhores; na política, de modo particular nesta época antes das eleições, os candidatos dizem sempre que farão as coisas melhores do que os concorrentes. Podemos continuar a fazer uma grande lista de competições que nos acompanham no dia-a-dia.
Na maioria das vezes fazemos o melhor para agradar alguém, para se sentir bem diante dos outros ou para ser “adorado”. Quando nossas atitudes estão centradas em nossa exaltação, o espírito cristão desaparece, tornando-se apenas uma bela fachada em nossa vida, ou uma moldura que colocamos para parecermos mais bonitos com o titulo de cristão. Querer ser o maior é querer ser como Deus.
Esta sede de querer ser famoso, querer ter poder está muito presente na Bíblia. Hoje, Dia Nacional da Bíblia, é esta mesma Bíblia que mostra o confronto entre a lógica humana do poder, do querer aparecer e ser famoso, e a lógica divina, que não se caracteriza pela fama, pelo poder, mas pelo serviço, como acabamos de ouvir no Evangelho.
No Dia Nacional da Bíblia, podemos perceber como a Bíblia é atual, como a Bíblia ilumina nossa realidade social. A leitura da Carta de Tiago torna-se atualíssima: "Onde há inveja e rivalidade, aí estão as desordens e toda espécie de obras más. (...) De onde vêm as guerras? De onde vêm as brigas entre vós?” (Tg 3,16).
Gostaríamos de não sentir inveja, ódio, ciúme, porém são sentimentos que fazem parte de nossa vida. Mas podemos agir ou não segundo esses sentimentos. Depende do que está no centro de nossa vida. A 2ª leitura nos confirma que onde há inveja e rivalidade, certamente, estão as desordens e as obras más. Quanto mais se faz o mal, mais ele domina. Uma guerra, uma briga só atrai outra, pois despertam o sentimento de vingança. É a sede do poder — de todo tipo de poder, do poder econômico, do poder da fama — que provoca ciúmes, invejas, discórdias.
Domingo passado acompanhamos a revelação messiânica de Jesus seguida de uma afirmação sobre a sua morte: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos... deve ser morto e ressuscitar depois de três dias” (Mc 8,31). Na passagem de hoje, Jesus ensina novamente aos seus discípulos enquanto caminham para atravessar a Galileia. As palavras parecem se repetir: “O Filho do homem vai ser entregue... Mas três dias após a morte ele ressuscitará" (Mc 9, 31). Jesus insiste e mais uma vez não é compreendido. Os discípulos parecem não prestar atenção no que Jesus estava falando, pois discutiam pelo caminho outro assunto.
Parecia natural, pois a expectativa deles não é a mesma de Jesus. Eles esperam um messias com pompa e glória e assim, aquele que é “o maior” poderá estar numa posição de destaque diante do povo.
Eles eram homens muito simples e rudes. O pior era que tinham grosseiros ciúmes e ambições a respeito dos lugares que iriam ocupar no Reino que Jesus anunciava. Aliás, desse Reino tinham ideias muito confusas. Um dia a mãe de João e Tiago pediu ao Mestre que Ihes desse um lugar de honra no seu reino, fazendo-os sentar um à sua direita e outro à sua esquerda. Traduzindo isso em termos de hoje, queria mais ou menos que um fosse o ministro da justiça e outro o ministro da economia.
Essas preocupações e discussões sobre lugar no reino aparecem muitas vezes entre eles.
Porém Jesus, atento às intenções deles, desmascara-os dizendo-lhes: “Se alguém quiser ser o primeiro, que seja o último de todos e aquele que serve a todos!” (Mc 9,35).
E completou com um gesto simbólico. Tomou uma criança, colocou-a no meio da roda, e disse: "Quem receber a um destes pequeninos em meu nome, é a mim que recebe; e quem recebe a mim, não é a mim que recebe, mas àquele que me enviou" (Mc 9, 36 e 37).
Naquele tempo a criança não valia muita coisa, pois não era nem contada. Acolher uma criança significa acolher o menor como se ele fosse o maior, como se fosse o próprio Jesus. E hoje são muitos os irmãos que são como as crianças, excluídos da sociedade: doentes, pobres, anciãos, mulheres... Na lógica do mundo o que importa é ser “o maior” sem se importar com “o menor”, na lógica de Deus só se é “maior” quando se importa com o “menor”.
A mensagem do Evangelho é esta: Não procurar os primeiros lugares, não alimentar a ambição do prestígio, do dinheiro, da fama, da dominação dos outros. Pôr-se a serviço de todos, sobretudo dos mais pequeninos. Bem diferente dessa sociedade em que vivemos mergulhados! Mal se encontra alguém que, ao escolher uma profissão, esteja pensando em servir à comunidade. A lei que impera é a ambição do dinheiro, dos cargos honrosos, do prestígio e do fazer carreira. Dificilmente se encontrará um político que, ao disputar eleições, tenha em mira o bem público, o serviço do país. O que se encontra é quase sempre o jogo das ambições em benefício pessoal. Donde nascem com frequência as eleições maculadas pelo peso do dinheiro. Tudo isso está infinitamente longe do Evangelho!
É preciso olhar o exemplo de nosso divino Salvador, que fundou a Igreja com sua palavra e com seu sangue. Ele, que era Deus verdadeiro, não se apegou ciosamente a sua dignidade divina. Esvaziou-se de sua grandeza, e se fez servo, obediente até à morte. E deixou para nós sua grande lição da noite da última ceia. Depois de lavar humildemente os pés a seus apóstolos, disse-Ihes: "Eu vos dei o exemplo, para que, assim como eu fiz, vós também façais" (Jo 13,15).
Mesmo fora do cristianismo, os sábios descobrem o valor do serviço. Como disse o poeta hindu Tagore: "Dormi e sonhei que a vida era alegria. Acordei e vi que a vida era serviço. Servi e descobri que o serviço era alegria".
Discípulo de Jesus é quem imita Jesus, ou seja, quem se dispõe a servir o próximo, que não ambiciona os primeiros lugares, quem lava os pés do irmão. É quem faz as pequenas coisas com grande amor, como dizia Madre Teresa de Calcutá.
Dirijamos um olhar sobre nossas famílias: - há divisões, conflitos… ciúmes… separações… Por quê? Quando um ganha, os dois perdem!... Não há vencedores...
Dirijamos um olhar sobre nossas comunidades: - Também há discussões, críticas, ambições, rivalidades.
- Por quê? Onde está a raiz de tudo? Não é por causa do desejo consciente ou inconsciente de ser o MAIOR? E por causa da busca de cargos, títulos, honrarias, elogios, poder?
Na comunidade cristã, quem são os primeiros?
As palavras de Jesus são claras: "Quem quiser ser o primeiro, seja o último e o servo de todos".
Na comunidade cristã, a única grandeza é a grandeza de quem, com humildade e simplicidade, faz da própria vida um serviço aos irmãos.
Na comunidade cristã não há donos, nem grupos privilegiados, nem pessoas mais importantes do que as outras, nem distinções baseadas no dinheiro, na beleza, na cultura, na posição social... Na comunidade cristã há irmãos iguais, a quem a comunidade confia serviços diversos em vista do bem de todos.
Aquilo que nos deve mover sempre e em tudo é a vontade de servir e de partilhar com os irmãos os dons que Deus nos concedeu.
Frei Gunther Max Walzer