Homilia - 28/10/2018 - XXX Domingo do Tempo Comum
Minha reflexão destacará duas palavras: esperança e iluminação. A esperança está descrita na 1ª leitura, na bela profecia de Jeremias, conclamando o povo que vivia exilado e prisioneiro a se alegrar porque um novo tempo estava despontando. Trata-se de uma convocação para deixar a terra do exílio, deixar atitudes escravizadoras para iniciar um caminho de retorno à liberdade.
A iluminação nos vem do Evangelho, porque os filhos de Deus precisam enxergar bem, pois, Deus quer que sejamos capazes de ver, sair da beira da estrada e escolher um caminho mais construtivo.
A profecia de Jeremias é dirigida a um povo que vive no exílio e que sofre porque se tornou vítima da idolatria do poder, da parte de seus dirigentes. É, mais o menos, o mesmo contexto que vivemos agora no Brasil, com a crise provocada devido à idolatria do poder ligada à idolatria do dinheiro. Alguns poucos avarentos do povo, compactuados com políticos desonestos e ajudados por marqueteiros mentirosos, jogaram o país numa crise terrível, na qual todos sofrem, especialmente os mais pobres.
O que Jeremias profetiza? A necessidade de não perder a esperança em Deus e suplicar a salvação do povo (1ª leitura).
Neste dia da eleição de nossos dirigentes políticos, estamos aqui reunidos nesta Celebração Eucarística, para incentivar a esperança, convidando todos a se unirem em prece para o bem do povo. Uma súplica que acompanha o mesmo desejo do salmista: “Mudai a nossa sorte, ó Senhor”, para que o choro e o sofrimento de milhares de famílias sejam transformados em serenidade, em paz e em alegria (Salmo Responsorial).
Ouvimos no Evangelho o episódio da cura do cego de Jericó. O cego Bartimeu estava sentado à beira da estrada, ele conhecia as suas deficiências: ele não enxergava, não podia ver nada.
Quem são os cegos de hoje?
Cegos são muitos cristãos, porque não enxergam a realidade ou veem a realidade através de um filtro do seu eu, isto é, só enxergam aquilo que lhes convém. Muitas coisas erradas acontecem e não enxergamos ou não queremos enxergar.
Bartimeu representa tantos irmãos e irmãs que não veem as enganações, as maldades, as injustiças. Falácias e “fakes news” que os deixam cegos para a vida e presos à margem do caminho. São os nossos excluídos, que vivem sem poder caminhar nas estradas da vida. Quantos de nós, por exemplo, estavam cegos diante de promessas políticas mentirosas porque não víamos as falcatruas e a corrupção que existia por traz de tantas promessas.
Também, temos cegos à beira do caminho da Igreja: gente que vem à Igreja, participa, sai da missa e continua tudo como era antes. Não percebem que há um caminho que está sendo proposto no Evangelho por Jesus. É gente que pensa que o suficiente é vir à missa aos domingos, gente que não sabe o que a Igreja diz sobre a vida, a família, a solidariedade, a justiça social. Há gente que não sabe que em Roma, no dia de hoje, foi encerrado o Sínodo dos Jovens.
Outro aspecto do Evangelho de hoje chama a nossa atenção: o cego grita e alguns querem que ele fique quieto.
É a turma do “deixa disso”, a turma do “não adianta”, a turma do “é assim mesmo”, a turma que deixa o povo cego, ignorante.
É a turma que critica a confissão, porque a considera antiquada; critica a caridade para com os pobres, porque dizem que está se ajudando a vagabundagem e a preguiça.
Queriam que ele se calasse. Isso pode acontecer conosco. Quando começamos a nos perguntar pelo caminho certo da vida, surgem as vozes que nos querem desanimar, nos querem fazer desistir, são os próprios familiares, são vizinhos, amigos de festa, os que continuam nas trilhas da corrupção, os que gozam de nossa participação ativa na Igreja, dizendo que religião é coisa das mulheres, ou os que põem mil defeitos nos padres e na Igreja.
Mas o cego não desanima, ele gritou; e ao mandarem calar-se, gritou mais alto ainda: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!” E Jesus o chama. Aí não dá mais para segurá-lo. Ele vai a Jesus: ele grita, joga fora a capa, dá pulos.
E o milagre acontece. “A tua fé te curou”.
O cego recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho. O cego curado é modelo do discípulo que precisa ver direito quem é Jesus, precisa conhecer bem o que ele propõe, para depois seguir com ele pelo caminho, mesmo que esse caminho passe pela cruz.
Só se torna discípulo de Jesus aquele que quer ver, quer conhecer; é andando com Jesus que a vista vai clareando ao longo da estrada da vida.
Toda doença necessita de um tratamento. O oculista é Jesus. Os óculos para corrigirem o defeito da vista é a fé. É assim que curamos a nossa miopia e conseguimos ver mais longe, para além dos horizontes humanos.
O milagre que o Evangelho de hoje conta não é apenas um fato sensacional, no estilo do “Fantástico”. É um desafio para nós.
Será que nós já percebemos a nossa própria cegueira? Será que não sou também um Bartimeu sentado à beira do caminho da vida que comete sempre os mesmos erros, um cego pedindo esmolas, sempre dependendo dos outros, dependendo das coisas materiais, ou que está numa dependência de determinados hábitos e vícios.
Mas, quem sabe, nós, talvez, precisamos de alguém - como aqueles que se aproximam de Bartimeu -, para nos dizer: “Coragem, levanta-te, ele te chama”.
O encontro com Jesus não deixa o Bartimeu numa situação confortável. Antes ele estava sentado; agora ele deve levantar-se e caminhar.
Quem se aproxima de Cristo não vai se deparar com uma vida fácil, confortável, privilegiada. A luz que Bartimeu recebeu o obriga a rever muitos hábitos, muitos comportamentos, muitas amizades. Cristo questiona a maneira de administrar a própria vida, o próprio tempo, os próprios bens.
“Bartimeu começou a ver de novo e foi seguindo Jesus pelo caminho” (Mc 10,52).
Quem é iluminado pelo Evangelho se aproxime dos “cegos” e lhes diga: coragem, levanta-te, Jesus te chama. Amém!
Frei Gunther Max Walzer