Homilia - 18/11/2018 - XXXIII Domingo do Tempo Comum
Os meios de comunicação social, o noticiário de TV e manchetes de jornal sobre catástrofes, guerras, assaltos, massacre e morte de tantas pessoas inocentes deixam o mundo todo consternado e amedrontado.
O pior, talvez, sejam as ameaças do futuro. Muitos cientistas nos falam de sérias crises econômicas, fome generalizada, o buraco do ozônio que está aumentando devido à poluição e vamos ter o “efeito estufa”.
Nossa geração é uma geração insegura, que tem muito medo: medo de ficar sem emprego, medo dos jovens diante de um futuro inseguro, medo das pessoas de morrer de câncer ou de enfarte, medo da depressão, medo de assalto, medo do além, medo da morte. Os países têm medo uns dos outros, os governos têm medo das massas empobrecidas, os ricos têm medo de tudo, as empresas de segurança ganham fortunas, instalando alarmes nas casas e carros. Olhando toda essa confusão, podemos dizer como muita gente diz: “É o fim do mundo”.
A primeira leitura e o evangelho de hoje falam do fim do mundo, usando imagens de grandes fenômenos cósmicos para falar de tribulações, dificuldades, tempos difíceis, coisas terríveis que a humanidade tem conhecido em todas as épocas.
“Depois daqueles dias de sofrimento, o sol ficará escuro, e a lua não brilhará mais. As estrelas cairão do céu, e os poderes do espaço serão abalados” (Mc 13,24).
Qual é o sentido destas palavras?
O sentido é: “despertar”, “acordar quem está dormindo”, como ouvimos na 1ªleitura do profeta Daniel: “Muitos dos que dormem no pó da terra, despertarão, uns para a vida eterna, outros para a ignomínia, a infâmia eterna” (Dn 12,2).
A Palavra deste domingo, portanto, quer nos acordar para enxergar a realidade das coisas que um dia acabará.
Uma coisa é certa, o fim do mundo acontece para cada um de nós na hora da morte. A morte nos ensina que tudo é passageiro. E quando Jesus nos fala da “grande tribulação, o sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” ele nos quer chamar atenção que não nos apeguemos aos bens perecíveis, que são frágeis e passam logo.
Atrás destas “quedas” e transformações, profetizadas por Jesus com palavras duras, encontramos declarações de esperança e salvação. É como se Deus estivesse dizendo: “Não tenham medo! Por pior que esteja a situação, tenham esperança! Eu estou vendo! Eu quero salvar!”
O profeta Daniel fala que “muitos dos que dormem no pó da terra despertarão para a vida eterna”. O profeta Daniel está dizendo que a morte não vence os que estão com Deus.
Já o Evangelho diz que Jesus virá para reunir os eleitos de Deus: “Vereis o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos aos quatro cantos da terra e reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra” (Mt 13,26-27).
Qual seria, então, a mensagem dos textos da liturgia deste domingo? O que deve cair?
Sabemos que ainda não chegou a hora de as estrelas, o sol e a lua despencarem do céu. Mas há algo que deve cair, deve ser remodelado ou apagado. Se, por enquanto, não irão cair as estrelas do céu, é certo que devem cair o nosso orgulho e as nossas falsas seguranças.
Se, por enquanto, o sol está longe de escurecer, é certo que devem sumir para sempre os tronos abusivos erguidos pelos mais fortes sobre as costas dos mais fracos. Deve sumir tudo aquilo que construímos à revelia da justiça, da fraternidade, do amor e de todos os mandamentos de Deus.
E se, por enquanto, nem a lua irá perder seu brilho, é certo que deve chegar ao seu fim o egoísmo, que nos torna insensíveis ao problema do irmão que passa fome ou que está doente, irmão marginalizado ou abandonado na rua, do irmão que clama por seus direitos mais elementares.
Jesus Cristo libertador nos quer libertar do medo. O medo pode ser a pior força que nos oprime. O Evangelho é a mensagem que nos tira o medo, que faz superar o medo: o medo do além, da morte, da insegurança, do poder e da natureza.
“Passarão o céu e a terra – diz Jesus – mas as minhas palavras não passarão”. Quais são as palavras que não passarão? São as palavras do amor e solidariedade, da doação e fraternidade. Estas palavras superam o fim da vida e do mundo. A palavra “AMOR” não terá fim.
Ainda que passem as novelas da TV que mostram um amor efêmero, o amor conjugal e fraterno nunca saem da moda. Ainda que não haja mais como manter um carro do ano, nunca eu serei dispensado de visitar um irmão doente ou necessitado. Ainda que fechem todos os supermercados, jamais eu poderei fechar a minha mão para o pobre.
O que Jesus ensinou e mostrou, sempre terá sentido. É a “aplicação” mais segura que existe. Se aplico minha vida neste sentido, posso dormir tranquilo. O que Jesus ensina não é roído pela inflação.
Garantida está a certeza do amor de Deus que nos oferece a reconciliação, garantidos estão os critérios do Reino de fraternidade e justiça pelos quais vale a pena gastar a vida, garantida está a esperança de um final feliz para a humanidade.
E o fim do mundo é para quando? As advertências de Jesus são para todos os tempos: todo dia é dia de estar em dia com Deus. A sabedoria popular alerta: O futuro a Deus pertence. Esta é uma grande verdade! Se o nosso futuro está nas mãos de Deus, está bem entregue. Então, o mais inteligente é viver cada dia como se fosse, ao mesmo tempo, o primeiro e o último de nossa vida.
Por quê como o primeiro? Para começarmos novos projetos sem o peso de frustrações e pecados passados, para começarmos com confiança em Deus e contando com sua misericórdia.
Por que como o último? Para não deixarmos para amanhã todo o bem que podemos fazer hoje.
Frei Gunther Max Walzer