Homilia - 16/12/2018 - Terceiro Domingo do Advento
A terceira vela que acendemos na coroa de Advento nos faz sentir a proximidade da festa da vinda do Senhor. “Alegrai-vos! O Senhor está próximo!”. Por isso, este domingo é chamado “Domingo da Alegria”. Daqui a nove dias celebraremos o Natal.
No entanto, devemos reconhecer que o Natal não é mais uma celebração só religiosa e cristã. O Natal tornou-se uma festa humana, universal, com uma vasta variedade de motivações e celebrações. As famílias reúnem seus membros em redor de uma mesa farta. Organizam-se campanhas em favor dos necessitados. As pessoas preocupam-se com presentes. É pena que o espírito de consumismo tenha invadido o coração da maioria das pessoas. Assim perdeu-se o sentido profundo do Natal manifesto na simplicidade e na pobreza de uma manjedoura em que nasceu Jesus. O Papai Noel roubou o verdadeiro sentido de Natal e se colocou no lugar do Menino Jesus deitado numa manjedoura. Lamentável!
De toda maneira, nós que somos cristãos devemos valorizar o verdadeiro sentido de Natal que se manifesta nos presépios, em nossas músicas natalinas, nas novenas nas casas, na leitura da Sagrada Escritura e na oração em família feita na hora da Ceia e na troca de presentes.
Natal é a Festa do Amor. Por quê?
Na primeira leitura, Deus faz uma declaração de amor a seu povo através do profeta Sofonias: “O Senhor, teu Deus exultará de alegria por ti, movido por amor” (Sf 3,17).
Preparar o Natal que vem chegando é tomar consciência deste Deus que nos ama. Acima da agitação e dos preparativos do Natal, muitas vezes meramente comercial, está esse amor que devemos comunicar e partilhar com os outros.
A Carta de São Paulo aos Filipenses retoma o tema da alegria de ter o Senhor tão próximo e tão interessado por nós: “Alegrai-vos sempre no Senhor; eu repito, alegrai-vos!” (Fl 4,4).
Vivemos num mundo cansado, desiludido e angustiado, e é, justamente, este mundo que precisa dessa alegria, dessa paz de Deus. Por isso, São Paulo nos diz: “Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças” (Fl 4,6).
A fé confiante em Deus é a fonte da alegria. São Paulo diz também que a alegria produz bondade, paz interior e serenidade. Ou seja, a alegria, que tem sua fonte em Deus, São Paulo diz que a alegria não promove a inquietação com nada, e que a alegria produz a bondade, nos faz ser bons, acolhedores, amáveis com os outros. Os rabugentos não são bons porque vivem sem paz interior, vivem tristes dentro de si. Por isso, a alegria, enquanto virtude é capaz de mudar nossas vidas. A alegria muda nosso comportamento.
A alegria é, portanto, um suporte espiritual e psicológico especialmente importante e necessário para os momentos desafiadores da vida. Alegria não entendida como euforia festiva, mas como suporte interior.
No Evangelho de hoje, vemos várias pessoas fazendo a João Batista uma pergunta muito simples, no entanto, importante: o que devemos fazer?
Todos nós, algum dia, já fizemos essa pergunta. João não dá uma resposta vaga, do tipo “façam o bem e evitem o mal”. As respostas podem ser aplicadas à situação concreta de cada um. Ele propõe o caminho da honestidade. João propõe a mudança de vida pessoal, a mudança nos relacionamentos sociais a partir da honestidade.
À multidão João Batista dá uma resposta que serve para todos: "Quem tem duas túnicas dê uma ao que não tem; e quem tem o que comer, faça o mesmo" (Lc 3,11). Portanto, a honestidade promove a solidariedade. Isso é básico, a partilha é fundamental para nos sentirmos família com os outros filhos de Deus.
Depois João Batista vai particularizando as orientações. Aos publicanos, cobradores de impostos diz que não cobrem mais do que o imposto prescrito, porque a falta de honestidade nesta área produz corrupção capaz de roubar todo um povo, como aconteceu no Brasil.
Aos soldados, que usam armamento, manda que não usem a violência e não compactuem com a injustiça.
Podemos imaginar que outras orientações João daria se vivesse hoje entre nós. O que será que ele diria aos políticos? Aos cientistas? Aos pais e professores? Aos funcionários e operários? Aos motoristas? Aos jovens?
Percebemos, no entanto, que João não cai na tentação de ter resposta para tudo, nem de se sentir simplesmente “o máximo”. Sente-se insignificante diante daquele que virá: “Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias” (Lc 3,16). Ele sabe que seu papel é apenas de preparar o povo para a chegada do Messias.
À pergunta “o que devemos fazer”, João Batista tem uma resposta e indicação diferente para cada um de nós. Você como pai ou como mãe, você casado ou solteiro, você aposentado ou profissional, qual é o compromisso novo que deve assumir no Reino de Deus? Você que é jovem, que está preocupado com o vestibular ou com o seu futuro, já descobriu o lugar de Deus em sua vida?
João Batista, certamente, quando fala em conversão e mudança de vida, não quer que a nossa conversão seja apenas da boca para fora ou de sentimentos. Ele pensa numa conversão que se realiza através de atos concretos, através de ações de honestidade.
Quem segue o Cristo não pode apenas se perguntar “em que devo crer?”. Cristianismo não é apenas “ter fé”. Cristianismo é vida, é ação.
Neste domingo, poucos dias antes de Natal, devemos perguntar: o que devo fazer para que Cristo possa nascer e estar presente em minha vida e na vida dos outros?
Frei Gunther Max Walzer