Homilia - 21/07/2019 - XVI Domingo Comum
Sempre mais encontramos em nossa sociedade pessoas angustiadas e “estressadas”. Muitas pessoas, há meses ou anos, estão em busca de um emprego e não encontram nada. Outras pessoas, ao contrario, porque nunca estão satisfeitas com o que têm e se deixam levar por uma preocupação doentia de consumismo e de acúmulo de bens materiais. Há, também, pessoas que se dedicam, de tal forma, ao trabalho, com um espírito exagerado de competitividade e de perfeccionismo, que não encontram mais tempo para a esposa, os filhos, os amigos, nem mesmo para si mesmas, até que um dia “estouram” e caem no esgotamento ou na depressão.
Assim, observamos pessoas que se deixam absorver de tal forma por suas tarefas profissionais que nem enxergam mais o que se passa ao lado. É claro que todos nós temos deveres a cumprir, e devemos cumpri-los bem. Mas nem sempre temos que ser apenas eficientes; “há um tempo para tudo debaixo do céu” – diz a Bíblia. Há tempo de trabalhar, há tempo de conversar, há tempo de ouvir, de sonhar, tempo de só olhar e deixar o coração passear pelas coisas, paisagens, pessoas. Não somos máquinas produtivas, somos seres animados pelos afetos, pelo gosto gratuito de brincar, de receber amigos, de cantar, ouvir música... tudo aparentemente inútil, mas humanamente indispensável.
Em muitas pessoas, falta tempo também para Deus ou a Ele recorrem só em algum momento de aflição ou de doença.
Na primeira leitura, encontramos Abraão receber três visitas misteriosas. A hospitalidade, naquela época, era um dever sagrado. Receber hóspedes dá trabalho: Abraão manda vir água para lavar os pés das visitas, manda fazer pães e matar um bezerro.
Abraão se sente alegre e honrado por poder receber bem os hospedes.
Todos nós temos essa experiência da alegria de preparar a casa para receber visitas que valorizamos. Que trabalho dá fazer um almoço ou janta! E com que satisfação o fazemos! Que coisa boa é pôr na mesa a melhor toalha, caprichar na comida e na sobremesa para receber gente que faz bem, ao nosso coração!
O texto bíblico dá a entender que Abraão estava recebendo o próprio Deus.
Na segunda leitura, vemos como Paulo fala do seu ministério. Ele acolheu, profundamente, uma pessoa: recebeu Jesus em sua vida, a ponto de se sentir um com Ele como colaborador: “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja” (Col 1,24). Existe uma relação íntima entre Jesus e sua Igreja, da qual Paulo faz parte.
Paulo diz que foi constituído ministro para anunciar a Palavra de Deus em favor do povo. “Fui constituído ministro, em virtude da missão que Deus me conferiu de anunciar em vosso favor a realização da palavra de Deus” (Col 1,25).
O Evangelho de hoje nos leva a fazer uma reflexão sobre o acolhimento. Em meio à rejeição dos religiosos judeus, Jesus encontra um oásis de repouso na casa de Lázaro, Marta e Maria. Os três irmãos moram no povoado de Betânia, a poucos quilômetros de Jerusalém, e é ali que Jesus costuma repousar em suas viagens.
Vemos que Jesus fica contente recebendo atenção. Mas Marta também quer atenção está trabalhando pelo conforto de seu hóspede, quer ser reconhecido no seu trabalho. Faz como tantas vezes fazemos nós: dizemos “Fulano está à toa, não faz nada...”, mas o que queremos de fato dizer é: “Vejam como eu me esforço... Será que eu não mereço um elogiozinho?”.
Não sejamos demasiadamente rigorosos com Marta: é humano ser reconhecida. Mas Jesus diz que isso não é muito bom: ela acaba inquieta, preocupada com muitas coisas... As coisas podem até ser necessárias: quem recebe um hóspede deve alimentá-lo, oferecer-lhe uma casa bem cuidada. O que não é bom é a inquietação, a preocupação que atrapalha o gosto do convívio amigo.
Não nos deixemos absorver por preocupações que, por vezes, não merecem nossa atenção, nem tampouco boa parte do nosso tempo. Na sociedade de hoje, dificilmente temos tempo para ir a um lugar tranquilo para rezar, orar, para nos reabastecer. Para não cairmos no ativismo vazio, temos que abrir espaços interiores mesmo em meio à agitação e ao tumulto.
Reparemos que Jesus não está fazendo comparações e dizendo a Marta que seu serviço não seja importante, mas apenas está dizendo que ela perdeu parte importante de sua vida: o cultivo da vida espiritual. Maria sentou-se aos pés de Jesus, não para descansar e sim para melhor escutá-lo. Quando sentamos para escutar as leituras e a homilia, o fazemos não para descansar e sim com a finalidade de melhor escutar e meditar.
Da celebração de hoje, o que levamos para nossa vida?
Para os cristãos, a hospitalidade é uma virtude. Hoje talvez falaríamos mais de “acolhida”. Como acolhemos as pessoas, sejam aquelas que nos visitam como aquelas por nós visitadas. Temos tempo para elas? Temos verdadeiro interesse por aquilo que nos falam? Sabemos escutar os problemas que gostariam de nos confiar?
Há muita gente que sofre de solidão. São os idosos deixados sozinhos, são as esposas enganadas pelos maridos, são os jovens que não sabem como encarar um futuro incerto, são até muitas crianças que sofrem rejeição e não têm capacidade de analisar e contar o que está acontecendo.
A acolhida é ótima para o acolhido e para quem acolhe. O domingo é o Dia do Senhor é também o dia do descanso, dia para dar tempo para escutar a Palavra do Senhor na missa, para se encontrar com a família e os amigos, dia para a pessoa se encontrar consigo mesmo.
Frei Gunther Max Walzer