Homilia - 28/07/2019 - XVII Domingo Comum
Às vezes, achamos incômodo quando nos pedem favores. Há pedidos, porém, que embora nos encham de trabalho, temos o maior gosto de atender. Imagine um filho já adulto, casado com filhos, dizendo à mãe: “Dá para fazer aquele bolo de chocolate dos meus aniversários de criança? Quero passar para os meus filhos essa boa lembrança”. A mãe até pode resmungar um pouco, e dizer: “esse menino gosta de dar trabalho até com esse tamanho”, mas, no fundo do coração, a mãe estará feliz porque o filho reconhece seus talentos de cozinheira, guardou da infância as boas lembranças que ela sempre quis que ele guardasse... E, neste momento, está lhe dando uma oportunidade de mimá-lo de novo!
Namorados, amigos, avós gostam de que as pessoas queridas peçam o que eles sabem fazer de melhor. Aliás, gostar de alguém traz junto uma vontade de presentear, seja com objetos, seja com atitudes que tragam satisfação à outra pessoa.
Também há pedidos que nem mesmo uma avó muito amorosa fica contente em atender: são aqueles que trazem prejuízo a quem pede, os que não são para o bem daqueles que amamos. Não são só as crianças pequenas que, às vezes, pedem o que é prejudicial. Muito adulto não avalia as consequências do que deseja e pede.
As nossas orações contêm pedidos que fazemos a Deus. E o que pedimos a Ele é, certamente, algo que tem muita importância para nós. Jesus nos ensina que podemos pedir com confiança, até com insistência, até ficarmos “chatos”. Ele atenderá como um Pai, nos dando coisas boas.
Mas, são boas as coisas que nós pedimos na oração? Essa é a questão! Pedimos de forma egoísta, às vezes, até mesquinha? Ou pedimos o que é realmente bom não somente para nós, mas para todos os que vivem perto de nós, para aqueles que sofrem, pelas grandes causas da justiça e da paz, do amor e da fraternidade?
A primeira leitura reforça a convicção de que podemos conversar com Deus, insistir em nossos pedidos, podemos até pechinchar.
O pessoal de Sodoma e Gomorra tinha exagerado nos pecados. A coisa está escandalosa e Deus diz a Abraão que vai tomar providências para acabar com o abuso. Abraão entendeu que acabar com o abuso significa acabar com as pessoas que abusavam.Ele tem parentes em Sodoma. Tenta um acordo com Deus: se houver 50 justos não seria possível poupar a cidade? Deus concorda e Abraão começa a negociar (pechinchar) descontos na quantidade de justos: se forem 45? E 40? E 30? E 20? E 10?
Abraão na ousa pedir menos de 10: talvez ele mesmo achasse que já tinha pedido demais... Ainda não sabe que tudo o que Deus quer é salvar, e que um dia vai ser capaz de salvar a humanidade inteira, não por causa de 10, mas pelo ato redentor de 1.
É isto que nos afirma Paulo na Carta aos Colossenses. Para salvar não apenas duas cidades, mas a humanidade inteira, não precisou para isto de dez justos: bastou um só. Antes que nós tivéssemos como pedir alguma coisa, Jesus, o Filho de Deus encarnado pede por nós. E não só pede, mas nos dá a sua vida para nos abrir o caminho de salvação. “Deus vos trouxe para a vida, junto com Cristo, e a todos nós perdoou os pecados” (Col 2,13).
Jesus não perdoou este ou aquele pecador. Jesus veio para garantir vida plena sem fim para todos os que quiserem aceitar seu projeto de fraternidade.
No Evangelho de hoje, os discípulos pedem a Jesus que os ensine a rezar. Jesus apresenta a oração que tão bem conhecemos, o “Pai Nosso”. Jesus lhes oferece um modelo de oração no plural: Pai NOSSO, DAI-NOS... Se ninguém está autorizado a ser egoísta em atuação alguma, menos ainda isso deve acontecer na oração. Deus nos quer como família, todos atentos às necessidades dos outros.
O exemplo que Jesus dá logo depois vai na mesma direção: alguém bate na porta do amigo no meio da noite pedindo pão, mas não é para si, é para o hóspede que acaba de chegar e tem fome.
Se Deus quer nos atender, por que precisamos pedir?
Jesus disse em outra ocasião que não precisamos multiplicar palavras porque Deus sabe o que precisamos antes mesmo de pedirmos (Mt 6,7-78). Mas sempre mandou rezar e aqui insiste na oração perseverante, até importuna, quase para, como diz o povo, “vencer pelo cansaço”.
Hoje é o dia de nos perguntarmos seriamente como estamos rezando? O que estamos rezando? A quem estamos rezando? Quando rezamos. Por que rezamos?
Será, que, mesmo querendo ser perdoados, livrados de todo mal, alimentados pelo pao de cada dia, é o Espirito Santo que pedimos em nossas orações? Será que não ficamos a determinar o nosso futuro, informando a Deus o que desejamos que Ele faça?
Alguém poderia objetar: Deus não precisa de “informações”, nem de “insistências”. Por que lembrar a Deus o que estamos passando? Ele sabe tudo!
Realmente, não é Deus que precisa ser lembrado, mas somos nós que precisamos ser lembrados. Ao rezar, dizendo a Deus nossos problemas, dificuldades e alegrias, nos colocamos no colo de Deus e temos a certeza de não estarmos órfãos neste mundo complicado.
E, se nesse pedido nos acostumamos a incluir os outros, vamos também plantar em nós uma consciência solidária que é uma vacina contra a indiferença e acomodação de quem acha “natural” o sofrimento alheio.
Jesus nos diz: “Pedi e recebereis”. Portanto, nenhuma prece deixa de ser ouvida. Nem sempre acontece logo o que queremos. Às vezes, somos apressados e não compreendemos o tempo do Senhor. Ele tem o tempo certo para tudo, precisamos saber esperar confiantes, perseverantes.
A oração de Abraão ilumina nossa vida, especialmente, quando estamos desanimados, desesperados e chegamos a pensar que mais nada é possível fazer.
Às vezes achamos que a oração de petição é uma oração egoísta. Certo que não podemos ser “pedinchões”, entretanto, até quando estamos agradecendo, de certa forma, também pedimos. Quem agradece, é porque gostou. Se gostei, agradeço, e a pessoa que me deu aquilo que gostei sabe que no fundo estou pedindo ou, ao menos, aceitando mais. Não é assim com o elogio que se faz da sobremesa, por exemplo.
A oração nos faz mais felizes! Experimentemos e façamos da nossa vida uma oração!
Sem oração, como será a nossa vida? Nós nos desesperamos, nós nos perdemos, nós caímos.
A oração nos dá luz, nos dá uma força nova, enche a nossa vida com sentido.
Hoje é o dia de nos perguntarmos seriamente: como estamos rezando. O que estamos rezando? Quando rezamos? Por que estamos rezando?
Frei Gunther Max Walzer