Homilia - 04/08/2019 - XVIII Domingo Comum
Vivemos preocupados com a segurança. E é para se preocupar mesmo com tantos atentados terroristas no mundo inteiro, tantos assaltos e tanta violência nas cidades do nosso país. Até em nossa cidade, vivemos preocupados com a nossa segurança. Mas esta preocupação, facilmente, pode se tornar uma obsessão. Quem ganha muito com isso é a indústria de trancas, cercas elétricas, alarmes e cadeados. E todos nós sabemos que não existe segurança perfeita e total. Nem é preciso aparecer um ladrão para roubar o que é nosso: um fracasso nos negócios, desemprego, doença... e lá se vai toda a nossa economia.
Até nas relações afetivas, as pessoas procuram segurança: são os amigos sempre desconfiados, os namorados, as noivas, as esposas que ficam fiscalizando o parceiro ou a parceira, querendo saber aonde foram, com quem estavam... Penso, no entanto, o afeto e o amor verdadeiro não precisam ser vigiados. E, se não é de confiança e se precisa ser vigiado, nem vale a pena continuar com esse relacionamento.
Aí surge a pergunta: que tipo de conquistas na vida serão mesmo seguras e valerão a pena?
Muitas pessoas colocam sua preocupação principal nas riquezas e posse de bens materiais. As leituras de hoje alertam que a importância da vida humana está em outros valores. De que adianta ser uma das pessoas mais ricas do mundo, se ninguém leva nada para o túmulo? Qual é o lucro de um político que acumula bens através de roubo e corrupção? Que vantagem tem um banqueiro que lucra com a exploração de semelhantes?
As leituras de hoje começam com o Eclesiastes, da literatura chamada “sapiencial” da Bíblia. A literatura sapiencial trata de quê? Ela observa a vida e faz deduções sobre o melhor jeito de viver, até nos assuntos corriqueiros do dia a dia.
A primeira frase do texto de hoje costuma ser traduzida como “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. Vaidade talvez não seja a palavra mais exata. O autor quer falar de “coisas vazias”, que não levam a nada, que parecem valer alguma coisa, mas são decepcionantes. Começa falando de tanto que as pessoas gastam suas forças e energia trabalhando para depois nem aproveitarem todos os frutos. Ele quer dizer que certa ânsia de acumular bens e patrimônio, mesmo honestamente, pode não dar uma satisfação correspondente ao esforço despendido.
Vemos gente que dorme mal porque se preocupa com a proteção dos bens que tem em excesso. Vale a pena viver assim? Ou será, como diz o Eclesiastes, “vaidade das vaidades”?
“Buscai as coisas do alto” diz a Carta aos Colossenses na segunda leitura. Paulo está recomendando outro tipo de riqueza: aquela que os ladrões não podem roubar, que não ocupa espaço na mala, que sempre nos acompanha porque faz parte de nós. O valor dessa riqueza está no fato de ela nos constrói como pessoas.
Muitas vezes, na Bíblia, vemos os termos “terrestre” ou “as coisas do mundo” em oposição aos valores do Reino de Deus. Será que tudo que é da terra é ruim? Aqui mesmo, na segunda leitura, Paulo usa assim a palavra “terrestre”. Logo a seguir, porém, ele explica o que entende por “coisas terrenas”: devassidão, impureza, maus desejos, cobiça... Ele está se referindo àquilo que estraga a vida que Deus quer que a gente viva neste mundo. No sentido empregado por Paulo, deixar as coisas terrenas não é fugir do mundo e ficar rezando na igreja: é abandonar o que nos puxa para o mal.
O Evangelho tem um recado claro. É inútil ajuntar tesouros para si mesmo e não ser rico para Deus. Começa por uma briga de irmãos, sobre a partilha da herança. Brigas de herança são, por sinal, muito comuns em todos os lugares. Jesus se nega a resolver o problema da herança dos dois irmãos. Mas, ele aproveita para dizer que a vida não é assegurada pelos bens. Quantos conflitos seriam evitados se, em casos semelhantes, as pessoas tomassem consciência que o valor da vida humana é outro. O que faz a diferença, para a pessoa, não é a casa, nem o terreno, nem o carro, nem a conta bancária. Nada disso!
Então Jesus conta uma parábola. E poderia concluir que qualquer semelhança não é mera coincidência. Um homem já muito rico, ao fazer uma grande colheita, preocupa-se com a grande sobra, e planeja lucrar ainda mais para poder descansar, comer, beber e regalar-se. Ora, quantas outras possibilidades ele teria para aplicar os seus ganhos. A época de Jesus, por certo, não era diferente da nossa, e os próprios operários daquele ricaço continuavam na carência. Famintos e miseráveis multiplicavam-se à volta de Jesus. Em quem o rico pensa? Só em si próprio, infelizmente. Pura ganância!
Então vem a surpresa. Na verdade, é a única certeza que o ser humano carrega consigo. Nessa mesma noite, que pode ser uma noite qualquer, Deus chama você de volta. E os bens que você acumulou, para quem ficarão?
O povo diz: “Desta vida não se leva nada”. Não se leva nada mesmo que se possa guardar no cofre do banco, mas se leva, exatamente, a vida que foi vivida e o que nela foi construído. Também é isso que fica de lembrança naqueles que amamos e naqueles que admiram qualquer coisa que tenhamos realizado, qualquer qualidade que tenhamos desenvolvido.
O Evangelho de hoje é um convite a buscar nesta vida as coisas que, verdadeiramente, contam e podem ser um tesouro que conta para Deus.
O mês de agosto é o Mês Vocacional. Neste Domingo comemora-se o Dia do Padre. O motivo porque é dia 4 de agosto é a memória litúrgica de São João Maria Vianey, padroeiro dos padres e dos párocos.
A figura do Cura d’Ars, como também é conhecido São João Maria Vianey, é uma personificação da Palavra deste Domingo. Foi um homem que abandonou todo tipo de busca da vaidade humana, renunciou totalmente a tudo que pertence à terra e, para isso, viveu na simplicidade da pobreza. Um homem totalmente despojado de tudo, voltado unicamente para as coisas de Deus, para a "vida escondida com Cristo, em Deus".
Este é o modelo de vida que a Igreja propõe ao padre. Uma imagem desafiadora, é preciso reconhecer, mas necessária para nosso tempo histórico.
Rezemos pelas vocações sacerdotais com fervor e com confiança, não só pelo aumento das vocações, mas, principalmente, pela qualidade santificante e santificadora dos vocacionados que já vivem o sacerdócio.
Frei Gunther Max Walzer