Homilia - 25/08/2019 - XXI Domingo do Tempo Comum
Todos nós sabemos que para estudar numa universidade o candidato tem de passar pelo vestibular. As provas são difíceis e exigem muito conhecimento e preparo dos alunos. Isso é necessário para selecionar os candidatos, pois o número das vagas nas faculdades é sempre limitado e os candidatos são sempre excedentes. Daí, quem não se esforça, dedicando-se com afinco nos estudos, nunca vai entrar numa universidade.
Coisa mais ou menos parecida acontece com o Reino de Deus: para entrarmos nele temos de nos preparar bem, nos esforçar, dedicar-nos às suas exigências. A grande diferença, porém, é que no Reino de Deus não há limites de vagas e nem precisamos pagar. É de graça!
É de graça mesmo?
O tema das leituras da liturgia de hoje é a “Salvação”.
A primeira leitura de hoje proclama que a salvação não é um privilégio de um povo ou de algumas pessoas. A salvação é universal e todos se reunirão numa só mesa como filhos do mesmo Pai. “E virei para reunir os homens de todas as nações e de todas as línguas; todos virão e verão minha glória” (Is 6,18).
A Carta aos Hebreus (2ª leitura) nos faça de Deus como um pai atento à educação de seus filhos e disposto de nos corrigir, porque quer o melhor para nós. "Filho meu, não desprezes a correção do Senhor. Não desanimes, quando repreendido por ele; pois o Senhor corrige a quem ama e castiga todo aquele que reconhece por seu filho. Estais sendo provados para a vossa correção: é Deus que vos trata como filhos. Ora, qual é o filho a quem seu pai não corrige? E verdade que toda correção parece, de momento, antes motivo de pesar que de alegria. Mais tarde, porém, granjeia aos que por ela se exercitaram o melhor fruto de justiça e de paz” Hb 12,5-11).
Há pessoas que se revoltam contra Deus, sem entender porque existe sofrimento. Na verdade, Deus não nos manda sofrimentos, nem mesmo aqueles que poderíamos chamar de “educativos”. A vida tem sempre muitos problemas a serem enfrentados, e, muitas vezes, o nosso sofrimento pode ser consequência de nossas escolhas erradas diante deles, ou de uma vida mal construída, onde o pecado lançou a raízes. Outros sofrimentos nos vêm da nossa própria condição de fragilidade, por sermos limitados e imperfeitos, e por estarmos expostos a situações que não controlamos, que superam nossa compreensão e nossa capacidade individual e mesmo coletiva.
Logo no início da parábola do Evangelho de hoje, encontramos uma pergunta dirigida a Jesus: “Senhor, é verdade que são poucos os que se salvam?” (Lc 13,23). Certamente, esta pergunta foi feita por alguém que estava preocupado de estar fazendo parte do grupo dos não-salvos. Podemos observar que Jesus não responde diretamente a pergunta. Ele nem diz que serão muitos nem que serão poucos... diz apenas que "façam o máximo esforço possível para passar pela porta estreita" (Lc 13,24). Em outras palavras: não se preocupe com quantos irão entrar, faça a sua parte!
“A porta é estreita”, diz Jesus.
Ele diz, ainda, que diante dessa porta há muita gente que tenta entrar, mas não consegue. Em seguida, o senhor fecha a porta e não deixa mais ninguém entrar. Os atrasados são despedidos de maneira brusca: é tarde demais! Podem ir embora, para longe de mim! Haverá choro e ranger de dentes!
Na parábola do Evangelho de hoje, a porta é imagem do Reino de Deus. Entrando por ela nos tornamos cidadãos do Reino de Deus.
É para ficar espantado! Ninguém esperava de Jesus uma resposta desta. Será que ele deixou de ser amigo dos publicanos e pecadores? Ele não é mais o mesmo que falava da ovelha perdida e do filho pródigo? Por quê agora bate a porta na cara daqueles que na terra o tinham convidado tantas vezes para jantar na casa deles? Além disso, que conselho estranho Jesus está dando aos discípulos: “Fazei todo o esforço possível para entrar pela porta estreita!”.
Para entrar no Reino de Deus, a condição é uma só: “procurai entrar pela porta estreita”. E como é possível passar por uma porta estreita? Há uma única maneira: tornar-se pequeno. Os grandes e os gordos não passam.
É isso que Jesus nos quer explicar: não podemos ser seus discípulos se não renunciarmos a ser grandes, poderosos, dominadores, se não nos tornarmos como crianças, isto é, servos de todos.
E Jesus se explica através de uma parábola.
Certamente, haverá muitas surpresas na porta do céu, para quem se considera juiz dos outros. Deus vê além dos rótulos e aparências, conhece o nosso interior.
Jesus diz que "virão homens do oriente e do ocidente, do norte e do sul, e tomarão lugar à mesa no Reino de Deus. E assim, há últimos que serão primeiros, e primeiros que serão últimos" (Lc 13,29-30). Os homens que virão do oriente, ocidente, norte e sul, são todos aqueles que não são judeus e estão espalhados pelo mundo. Somos os "últimos" a ter tomado conhecimento da mensagem de Deus, enquanto os que foram os primeiros a saber, poderão ser os últimos no Reino, ou até mesmo nem conseguir entrar, devido a prática da injustiça! Jesus é incisivo ao dizer que os injustos não serão reconhecidos pelo Pai.
Voltando à comparação com o vestibular, para ingressar no Reinos Deus, temos que fazer algo mais, preparando-nos bem. Como? Desenvolvendo nossos dons, as capacidades que Deus nos deu, aproveitando bem o nosso tempo, com responsabilidade, disposição. Nosso esforço é, segundo o ensinamento do Mestre Jesus, o amor aos nossos irmãos, traduzido na entrega sempre maior. Só assim conseguiremos passar no “teste” de Deus e entrar pela porta estreita essas são as verdadeiras credenciais para termos uma cadeira na mesa do Reino.
Ouvindo as exigências que o Senhor nos faz para podermos passar pela “porta estreita”, não podemos esquecer que no banquete eterno nos espera um Deus que é amor, um Pai misericordioso. Não podemos esquecer, também, que o Senhor Jesus vai à nossa frente, abrindo caminho para nós. Jesus mesmo disse: “Eu sou a porta. Quem entrar por mim, será salvo” (Jo 10,9).
Neste último Domingo de agosto, mês vocacional, comemoramos o “Dia do Catequista”. Como é importante o catequista em nossas comunidades! O serviço dos catequistas é uma das principais fontes de evangelização da Igreja. Torna-se ainda mais importante, nos dias de hoje, porque muitas famílias não plantam ou não tem sementes para plantar o Evangelho em suas casas. Por isso, são os catequistas que, não poucas vezes, semeiam as primeiras sementes da fé nos corações de crianças, adolescentes, jovens e adultos. São eles que mostram o caminho do Evangelho para passar pela “porta estreita”, como ouvimos no Evangelho. Aqui deixo um apelo para que os pais sejam os primeiros catequistas, semeadores das primeiras sementes da fé e do Evangelho.
Parabéns e muito obrigado aos catequistas de nossa comunidade. Amém!
Frei Gunther Max Walzer