Homilia - 05/01/2020 - Epifania do Senhor
Acabamos de celebrar as grandes festas do final do ano 2019: Natal e Ano Novo. Festas de muita luz e muito brilho. Nossa cidade está cheia de luzes, a ponte “Hercílio Luz” com novo brilho. As propagandas, através dos anúncios luminosos, oferecem, muitas vezes, uma felicidade ilusória. A televisão é outra que não economiza as luzes da publicidade ilusória, oferecendo produtos que prometem a satisfação de necessidades não sempre reais. Todos nós sentimos que a verdadeira Luz do Natal é bem outra.
A festa de hoje, Epifania (manifestação do Salvador), popularmente, é conhecida como Festa dos Santos Reis ou “Folias dos Reis”. Em muitos lugares os cantores, com suas violas e tambores e também enfeitados, saem pelas ruas, saudando com alegria o Menino Jesus que nasceu. Na liturgia da festa de hoje enfocamos a visita dos magos a Jesus, recém-nascido em Belém, seguindo uma luz (estrela).
O Evangelho, que acabamos de ouvir, foi escrito pelo evangelista Mateus muitos anos depois da morte e ressurreição de Jesus. Já se sabia que muitos judeus não aceitaram Jesus como o Messias prometido. Muitos “gentios” ou “pagãos” tinham aderido a Jesus, principalmente depois do bonito trabalho feito pelos apóstolos e por São Paulo e seus companheiros. O evangelista Mateus coloca no início da vida de Jesus esta situação, a aceitação ou não-aceitação de Jesus.
Os primeiros capítulos do Evangelho de Mateus querem mostrar esta realidade.
O textos do Evangelho fala de Magos do Oriente, sábios (não reis). Eles não são do povo de Israel, nem conhecem as Escrituras israelitas. Nunca ouviram falar da promessa feita aos pais do povo. Com certeza tampouco conheciam o Deus de Israel. Apenas perceberam que algo grandioso aconteceu naquele momento da história, porque viram uma estrela diferente.
Os magos, com seu conhecimento limitado, a partir da observação do céu partiram em busca de algo novo que eles não conheciam. A orientação pelas estrelas era uma prática comum no oriente, de onde nos vem os signos dos horóscopos e do zodíaco, e o nome de muitas constelações.
Os Magos foram a Jerusalém à procura do “rei dos judeus” (titulo messiânico) para prestar-lhe homenagem. O rei Herodes, ouvindo isso, reuniu os Sumos Sacerdotes e doutores da Lei e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias. “Na cidade de Belém, no território de Judá”, responderam. “Será um Chefe e Pastor do Ovo de Israel, como está escrito no Livro Sagrado”. Essa resposta revela que os Sacerdotes e doutores da Lei, os líderes religiosos do povo de Israel, conheciam bem as Escrituras. Mas, apesar disso, eles não acreditavam, nem foram atrás do Messias recém-nascido, não aceitaram Jesus. Eles representam, assim, aqueles que recusaram a mensagem cristã, a começar pelos próprios líderes do povo de Jesus.
Os Magos continuaram sua busca e, tendo encontrado o Menino.“E a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar onde estava o menino” (Mt 2,7).
Partiram sem saber que o resultado de sua busca daria numa pobre estrebaria onde se achava uma pobre mulher com uma criança no colo. Mas ali estava ninguém menos que o Rei dos judeus!
O verdadeiro Rei de Israel se encontrava numa simples manjedoura, nos braços de sua pobre mãe e ao lado do humilde José. Uma criança pobre e frágil não parecia ser a manifestação mais apropriada da salvação que Deus traria a Israel, mas foi ali que, na humildade de uma criança, Deus se manifestou.
Essa narrativa dos Magos deve ser interpretada não como um simples acontecimento histórico, mas como uma síntese da caminhada dos povos não-judeus que acolheram a luz do anúncio cristão e se encontraram com Jesus, pela adesão à fé na comunidade do Messias.
Quando o Evangelho de Mateus foi escrito, os cristãos certamente tinham em mente o texto de Isaías que ouvimos na primeira leitura. Prestemos atenção na correspondência de vários conceitos: a luz que brilha sobre as trevas é o próprio Messias. “Levanta-te, sê radiosa, eis a tua luz! A glória do Senhor se levanta sobre ti” (Is 60,1). As nações que vêm de fora correspondem aos Magos, que vêm do Oriente. Elas caminharão para a luz como os magos se dirigem a Jesus guiados pela estrela-luz. “Vê, a noite cobre a terra e a escuridão, os povos, mas sobre ti levanta-se o Senhor, e sua glória te ilumina. As nações se encaminharão à tua luz, e os reis, ao brilho de tua aurora (Is 60,2-3). Os camelos e dromedários que vêm carregando ouro e incenso correspondem ao que fizeram os Magos, oferecendo esses presentes a Jesus.
A ideia que o Salvador veio para todos é retomada por Paulo na segunda leitura: “Os gentios são co-herdeiros conosco (que somos judeus), são membros do mesmo corpo e participantes da promessa em Jesus Cristo pelo Evangelho (Ef 3,6).
Celebrando a festa da manifestação divina, pergunto: Como e onde Deus se manifesta em nossa vida? A história dos magos é nossa história na busca de Deus.
Os Magos são guiados pela estrela e chegam a Jerusalém. A estrela não conduziu os Magos até o presépio, mas somente até Jerusalém. Lá eles precisaram se informar do endereço, da estrada que conduz ao Rei que acabava de nascer. Quando os Magos perguntaram, os teólogos foram pesquisar no Livro Sagrado que era a Bíblia. Encontraram na profecia de Miquéias o endereço: será em Belém!
Deus manifesta-se na fragilidade de um menino, de alguém como nós. No Menino de Belém como revelação do mistério de nossa salvação.
A história dos magos é nossa história na busca de Deus. A festa da Epifania faz nos sentir peregrinos na fé. É verdade que sentimos também o cansaço do caminho. A vida, muitas vezes, apresenta-se como uma luta, um cansaço que parece não ter fim. Para muitos a vida é sofrimento, uma coisa sem sentido. Mas todos nós trazemos dentro de nós, lá no fundo do coração, alguma brasinha da fé que nos diz: Deus não nos espera do outro lado desse mar da vida. Ele veio ao nosso encontro e ele mesmo tornou-se a luz, a estrela que nos guia.
Conclusão: Quer conhecer o endereço de sua vida para se encontrar com a luz divina, com Jesus Cristo? O endereço está na Bíblia e, mais precisamente, para nós que somos discípulos e discípulas de Jesus, o endereço está no Evangelho. É no Evangelho que está a nossa espiritualidade, e quem vive iluminado pela espiritualidade do Evangelho encontra a estrada certa e caminha na luz.
Guiados sempre e por toda parte pela luz celeste, nós, no hoje da nossa história, acolhamos com fé e vivamos com amor o mistério celebrado hoje. Ele se torna vida em nossa vida.
Frei Gunther Max Walzer