Homilia - 12/01/2020 - Batismo do Senhor
Hoje, celebramos a festa do Batismo do Senhor. Em nosso calendário, esta festa fica bem próxima da festa de Natal; na realidade, há entre os dois acontecimentos um espaço de mais ou menos 30 anos. Com o Batismo, Jesus começa o período de três anos de vida pública. Começa sua atividade de missionário e evangelizador. Vai pregar a Boa Nova do Evangelho.
Foi ali, no Batismo no rio Jordão, que tudo começou. Por isso, desde o seu Batismo, tudo que Jesus fez, tudo que lemos e ouvimos no Evangelho, é Jesus que está realizando sua missão sob a ação do Espírito de Deus que nele vive.
Nosso Papa emérito, Bento XVI, ao visitar a vila onde nasceu, ficou durante um instante rezando ao lado da pia batismal e disse: “Aqui tudo começou”. Ele lembrou que sem o Batismo não seria sacerdote e papa, nem cristão.
Esta festa de hoje nos faz pensar no nosso batismo.
Nosso batismo também foi o início de seguidores e seguidoras de Jesus Cristo. O sacramento do Batismo nos faz filhos de Deus e irmãos de Jesus e, com isto, irmãos de todos. O batismo nos faz membros da comunidade de Jesus, da Igreja.
Diz o Evangelho que, quando Jesus foi batizado ”o céu se abriu, e o Espírito Santo desceu na forma de uma pomba sobre ele. E do céu veio uma voz, que disse: — Tu és o meu Filho querido e me dás muita alegria” (Mt 3,16-17).
Foi isto que aconteceu no nosso batismo e acontece em cada batismo. O Espírito Santo desce sobre o batizado, ou seja, a força viva e pessoal do amor divino e, ao mesmo tempo, o Pai eterno olha para o seu novo filho e diz: “Tu és o meu filho querido e me dás muita alegria”.
Quanto Deus nos ama! Não nos falta às vezes a consciência deste amor de Deus? Deus Pai nos ama com a mesma intensidade e plenitude com que ama seu Filho.
Amar a Deus não é uma atitude abstrata ou mental. Assumindo nosso Batismo é buscar a mesma coerência entre as palavras e a prática de Jesus. Como batizados temos de viver como discípulos de Jesus. “Amar como Jesus amou”.
Muitos cristãos interpretam o que estou falando com uma única atitude para ser cristão: rezar, orar, ser bom. Está certo! Para nos tornar discípulos de Jesus precisamos ser bons e rezar.
O batismo é um compromisso com a vida, com a construção do Reino de Deus, com a vivência em comunidade. O batizado que se afasta da Igreja, da vida comunitária, tem o certificado de batismo, mas não é cristão. É a sua vivência que o define como filho de Deus, como cristão batizado, vivendo em comunidade. Fora dela o batismo é apenas um gesto externo, mas que não é vivido na sua plenitude. Precisamos com urgência resgatar o sentido do batismo, para sermos instrumentos na construção do Reino de Deus. Para sermos sal, fermento e luz na sociedade.
Viver o batismo hoje significa ser profeta, anunciador dos valores do Evangelho, dessa Boa Nova de Jesus Cristo, onde todos sejam incluídos e merecedores de uma vida digna.
Anunciar Jesus Cristo para o mundo de hoje, tão carente de modelos, é simplesmente imprescindível. Os jovens, de modo geral, buscam tantos outros modelos, e acabam se perdendo, se esvaziando e perdendo o sentido de suas vidas. Quando um jovem encontra Jesus Cristo, muda radicalmente a sua vida. O papa Francisco, na sua passagem pelo Brasil (Jornada Mundial da Juventude), propôs claramente Jesus como o caminho, a verdade e a vida, para todos, mas falando especialmente para os jovens. Quando um jovem se identifica com a proposta de Jesus, sua vida muda radicalmente e ele encontra um sentido profundo para a sua existência.
Além do anúncio, a atitude do profeta é a denúncia daquilo que vai contra os valores do Evangelho. Um batizado não pode compactuar com as corrupções, com os desvios, demonstrando essa sua denúncia através de palavras e também de ações. As ações percebemos no jeito de ser do cristão, quando vive a partilha, a solidariedade, sendo justo e honesto. Um cristão desonesto, que passa os outros para trás sem escrúpulos, tem apenas o papel de batizado. Ser cristão é ser o diferencial nesse mundo de tantas corrupções, desvios, mentiras, sobretudo no mundo da política. A nossa vida de batizados só encontrará sua razão de ser, através da vivência dos valores do Evangelho e da indignação daquilo que vai contra essa proposta evangélica. Essa é a atitude profética, a primeira missão de todo batizado.
Viver, plenamente, o nosso batismo é colocar a nossa vida à disposição dos outros. Sermos sinais de esperança, de coragem, mesmo que isso exija muito sacrifício. Jesus deu a vida para nos salvar. Como é bom ser bom; como é bom fazer o bem; nunca nos cansemos do bem. Devemos nos cansar do mal, da inveja, do ciúme, da depressão, da calúnia, isso sim, mas do bem realizado, jamais devemos nos cansar e desistir de fazê-lo.
Esta é a missão dos batizados e é nossa contribuição que podemos oferecer na construção do Reino de Deus.
Frei Gunther Max Walzer