Homilia - 26/02/2020 - Quarta Feira de Cinzas
Hoje, dia 26 de fevereiro de 2020, Quarta-Feira de Cinzas, mais uma Quaresma em nossas vidas começa. O início da Quaresma, na Quarta-feira de Cinzas, caracteriza-se como um dia de penitência, expresso no rito da deposição das cinzas sobre nossas cabeças. Infelizmente, muitos cristãos entendem a imposição das cinzas como rito de absolvição dos pecados e não o consideram naquilo que é: um rito que revela nosso propósito sincero, que dura 40 dias, para se viver a penitência em preparação da Páscoa.
“Convertei-vos!”, é o convite dirigido a nós neste dia.
Talvez vocês estiveram aqui receber as cinzas neste mesmo dia da Quarta-Feira de Cinzas no ano passado. Se, porém, percebemos que nada mudou em nossa vida, em nada avançamos, então, é necessário fazer, novamente, o proposito: precisamos nos converter, reassumindo nosso propósito de viver conforme o projeto de Deus, transformando o nosso ambiente e mudar nossa vida.
Na primeira leitura, o profeta Joel nos dirige um apelo muito forte, pedindo que voltemos para Deus.
Voltar para Deus, não de modo superficial, com aquele pensamento de que “preciso rezar mais”, ou que “preciso confessar”. Sim, isto faz parte, mas é preciso mais que isso, é preciso voltar para Deus vivendo, pensando, e se relacionando com as pessoas do jeito divino. Voltamos para Deus quando nossa vida reflete a vontade de Deus; quando pensamos como Deus, quando nos tornamos discípulos e discípulas do Evangelho.
São Paulo é sempre muito desafiador em seus textos e, como não poderia deixar de ser, na segunda leitura diz aos Coríntios: “Deixai-vos reconciliar com Deus” (2Cor 5,20).
E o profeta Joel ainda diz: “Voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia” (Joel 2,13).
Esta deve ser a nossa motivação para nos arrepender de nossos pecados é porque Deus é misericordioso. Se nós voltarmos para ele, não encontraremos um Deus irado, pronto para nos fazer-nos pagar pelo que devemos, mas sim um Deus misericordioso, pronto a nos perdoar, porque ele é a própria misericórdia.
Talvez seja a reconciliação o desafio mais exigente que a Quaresma propõe a cada cristão. Entende-se a reconciliação com Deus, a reconciliação com os irmãos e a reconciliação consigo mesmo.
Reconciliar-se com Deus é sair da auto-confiança para colocar-se nas mãos da Providência; se isso parece fácil, a propaganda do mundo, para confiar no dinheiro e em outros meios, torna a reconciliação especialmente complicada em nossos tempos.
A reconciliação com os irmãos e irmãs, de outra parte, é uma tarefa árdua para quem padece a dificuldade de aceitar e de oferecer o perdão. Quantos irmãos e irmãs já se prontificaram a aceitar o desafio de uma reconciliação fraterna, mas fraquejaram quando o orgulho falou mais alto em seus corações.
Também reconciliar-se consigo mesmo é desafiador, principalmente quando se pensa que a culpa é sempre dos outros e se é incapaz de se perdoar pelos erros cometidos. Reconciliar-se é um grande desafio quaresmal.
No Evangelho, Jesus lança o desafio da humildade: “Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente das pessoas, só para serdes vistos por elas. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus” (Mt 6,1).
Um desafio pesado, exigente, nada fácil e nem tranquilo para ser enfrentado. Nosso mundo valoriza muito o exterior e a ostentação. Em todos nós, as tentações para aparecer, para exibir-se são muito fortes e poderosas.
Jesus explica o comportamento ideal do cristão verdadeiro.
- ESMOLA: Aqueles que dão esmolas não precisam tocar trombetas ou chamar o vizinho para mostrar o seu ato de caridade, porque Deus abençoa e recompensa o que é feito às escondidas.
- ORAÇÃO: Aqueles que oram em público e em alta voz, que gritam para mostrar o poder da sua oração não precisam ficar de pé nas igrejas ou nas ruas para que todos os vejam. Jesus os convida a entrar em seus quartos, fechar a porta e em silêncio falarem com Deus que assim Deus os vai escutar e recompensar;
- JEJUM: Aqueles que jejuam várias vezes na semana e mostram rostos sofridos, desnutridos, são como hipócritas. Deus não gosta desta atitude. Ao jejuarmos devemos “perfumar a cabeça e lavar o rosto”. Somente o Pai deve saber do nosso jejum. Quando aparecemos em público querendo mostrar que somos diferentes, mas Deus recompensa aquele que pratica o jejum em segredo.
Hoje, iniciamos a Campanha da Fraternidade 2020. Como sempre, a Campanha da Fraternidade nos apresenta uma dimensão bem prática e nos oferece, neste ano, duas propostas muito claras.
A primeira proposta encontra-se no Evangelho. “Viu, sentiu compaixão e cuidou dele” (Lc 10,33-34). Este lema da CF é uma proposta que revela uma atitude concreta e sincera. Jesus inicia seu ensinamento, no Evangelho que ouvimos, chamando atenção para não sermos atores de uma fé, ou de uma religião, buscando ser admirados. Mas, que sejamos autênticos e sinceros, vivendo aquilo que cremos.
A segunda proposta é o tema da CF: “Fraternidade e vida: dom e compromisso”. A vida é um dom, um presente que recebemos de Deus. Mas, é também um compromisso diante da proposta da vida plena, que é feita por Deus. Sendo compromisso, a vida nunca se limita ao egoísmo, mas sempre se projeta em forma de partilha para que a vida seja plena e todos sejam felizes.
Com este convite de voltar para Deus, desejo a todos uma boa e frutuosa Quaresma.
Frei Gunther Max Walzer