Homilia - 19/04/2020 - II Domingo da Páscoa
Desde o ano 2000, as comunidades da Igreja Católica celebram no segundo Domingo da Páscoa a Festa da Misericórdia Divina que foi instituído no calendário litúrgico da Igreja pelo Papa João Paulo II.
Deus é Amor, Deus é misericordioso.
Mais do que em outra época, passando por um período muito difícil, é este nosso grito: “Deus da Misericórdia, tende piedade de nós!”.
A pandemia do coronavírus nos levou à incerteza do nosso futuro, assustando e carregando consigo o temor da solidão e da morte. Nossa pergunta é: por que Deus permite tamanho sofrimento? Será que Deus abandonou a humanidade, tal qual gritava Jesus crucificado: “Meu Deus, por que me abandonaste?” Por que acontece isso conosco? Por que Deus não intervém?
Lembro-me do Papa emérito Bento XVI, ao visitar o campo de Auschwitz, em 2006, também questionou: "Onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar este excesso de destruição, este triunfo do mal?". Para o Papa, não há que se desistir do clamor a Deus, pois dele vem a própria conversão da humanidade”.
Esta conversão virá? A humanidade vai se converter? O mundo será diferente depois da pandemia, melhor ou pior? O que esta pandemia nos ensina? Estamos aprendendo a lição da solidariedade e fraternidade? Talvez seja esta a pedagogia divina! “De Deus vem a própria conversão da humanidade”, disse Bento XVI.
Ou queremos continuar vivendo numa sociedade de divisões ideológicas, com o terrível egoísmo de alguns? Queremos continuar vivendo numa sociedade onde há tanta injustiça e desigualdade? Queremos continuar consentindo com tudo isso com nossa ignorância, desunião e irresponsabilidade?
Nesta tempestade do coronavírus, o Papa Francisco na sua Bênção Urbi et Orbi no vazio da Praça de São Pedro nos faz refletir que, antes do silêncio de Deus, há o silêncio dos homens diante dos seus insistentes apelos: "Neste nosso mundo, que Tu amas mais do que nós, avançamos muito a toda velocidade, sentindo-nos em tudo autossuficientes, fortes e capazes. Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças cometidas no mundo inteiro, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: 'Acorda, Senhor!'", proferiu o Papa Francisco na sua homilia.
Deus nos dá mais uma chance? Sim! Deus é misericordioso! O que levou João Paulo II a instituir para toda a Igreja o Domingo da Misericórdia?
“Cristo ensinou-nos que o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a ter misericórdia para com os demais” (Homilia de 30 de abril de 2000). A intenção do Papa, então, é a de que todos aprendam a ser misericordiosos como Deus?
Por que Deus não intervém e mata o coronavírus? Para que serve então a fé em Deus? A fé em Deus nos torna conscientes e solidários.
Tornar-se “consciente” significa confiar na ciência humana? É de conhecimentos da ciência que vem a resposta, daquilo que vemos, testamos e comprovamos em nossos laboratórios?
Como lemos no Evangelho, Tomé queria ver, tocar, comprovar a verdade da experiência de seus amigos. De Jesus Ressuscitado veio a resposta: “Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!”.
Deus está exatamente onde pensamos que não esteja. Ele está conosco nesse período de sofrimento, dor e medo, quando a própria casa se tornou uma prisão. “Os discípulos de Jesus estavam reunidos de portas trancadas, com medo” (Jo 20,19). Deus, através do Filho Ressuscitado, é uma presença misteriosa que não sentimos, e também é justo que nos rebelemos, que lhe perguntemos onde você está ... Mas Deus está onde há alguém que sofre. Não pode haver dúvida.
A pandemia é uma chance e oportunidade de mudar o rumo da nossa vida. A fé em Deus nos torna “conscientes”. “Recebam o Espírito Santo” (Jo 20,22). A união com Deus, criador de todas as coisas, nos vai fazer respeitar a natureza e mudar o nosso comportamento. O Espírito de Deus vai ilumina a mente dos cientistas para que eles possam desenvolver remédios e vacinas eficazes. O Espírito de Deus fortalece os médicos e todo o pessoal do serviço da saúde para permanecer de pé, superando o cansaço e o desânimo. É Ele que dá esperança e energia aos doentes e suas famílias. E para aqueles que perderam entes queridos, a fé os conforta ao aceitar que Deus recebe seus mortos e lhes dá a felicidade eterna.
Jesus afirma que sofre com aqueles que sofrem. Hoje está intimamente próximo das vítimas do coronavírus. Estar ciente disso é muito importante. E ele espera que os não infectados saibam cuidar com carinho e eficiência de toda pessoa doente, vendo nele o próprio Jesus.
Onde está Deus? O Deus misericordioso torna-se presente através da nossa fé viva e se manifesta na fraternidade e solidariedade. E com fé digamos: “Meu Senhor e meu Deus!”
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Frei Gunther Max Walzer