Homilia - 05/07/2020 - XIV Domingo do Tempo Comum
Vivemos num momento dramático da história humana. A pandemia aumentou, sem dúvida, o distanciamento entre as pessoas da nossa sociedade e já determina o ritmo cotidiano da nossa vida. As medidas necessárias do distanciamento físico estão causando um distanciamento social e pode tornar-se um distanciamento emocional. As pessoas ao nosso redor parecem tornar-se uma ameaça para nós.
Admiro, profundamente, a instituição “Médicos sem fronteiras” e vejo Jesus criando no evangelho uma instituição necessária que se chama “Corações sem fronteiras”. Jesus nos ensina que toda manifestação de distanciamento, seja sanitário, social, religioso, cultural ou político, pode ser quebrado a partir do coração. Mesmo quando a situação impede que mãos e braços se encontrem, os corações se abraçam. “Aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde” (Mt 11,29).
No texto do evangelho de hoje, podemos reconhecer duas partes distintas.
A primeira parte é a oração de ação de graças de Jesus ao Pai. Por meio de uma oração, Jesus se alegrava e bendizia ao Pai pela bondade com que revelava os segredos de seu Reino e manifestava a salvação aos humildes e oprimidos. A revelação é uma manifestação feita de puro amor para conquistar amor. Assim, Jesus fez porque nos amou e nos fez irmãos.
Jesus não se fez entender e aceitar pelos sábios e letrados, como Ele mesmo reconhece: “Eu te agradeço porque escondestes estas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos” (Mt 11,25).
A palavra “pequeninos” significa no texto original (em grego) crianças. Mas pode ser traduzido também por pessoas simples, inexperientes como crianças. Este, certamente, é o sentido usado aqui no texto, opondo “pequenos” a “sábios e entendidos”.
Parece que Jesus aqui quer dizer que Deus quis se revelar somente a alguns e fez questão de ocultar-se aos “sábios e entendidos”. No entanto, o anúncio de Cristo sobre o Reino, sobre o amor do Pai e seu plano de salvação é para toda a humanidade, nós não compreendemos por nossa sabedoria humana, mas por revelação de Deus. Não é que Deus, propriamente, “ocultou” a salvação aos olhos dos sábios e letrados. Eles mesmos é que levados pelo orgulho e a auto-suficiência, fecham os olhos para a verdade.
Os inteligentes e os sábios são, aqui, os mestres religiosos do tempo de Jesus: as lideranças religiosas, conhecedoras da Lei e hábeis manipuladores das tradições.
E quem são os cansados e aflitos que Jesus chama para junto de si?
Cansados e aflitos são todos aqueles que sofrem na vida por uma razão ou outra. Jesus se sente como um deles. Ele nos revelou que Deus se humilhou até a morte por amor a seu povo. Sua cruz é escândalo e loucura para os sábios e poderosos deste mundo, mas sabedoria de Deus, bênção e libertação para o discípulo.
Jesus nos ensina que o Reino dos Céus é dos humildes. Muitas vezes, a Bíblia insiste que “os pensamentos de Deus não são os pensamentos dos seres humanos” (Is 55,8). Deus não age como a maioria dos homens, que tratam bem apenas os amigos. Ao contrário, Ele é humilde e pacifico. “Sejam meus seguidores e aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso” (Mt 11,29).
Se Deus agisse como os poderosos ou se revelasse somente a “sábios e entendidos”, então, sim, excluiria muitos de sua revelação e da sua amizade. Mas esta não é a vontade de Deus!
É como se Jesus dissesse: “Venha a mim você que agora está isolado do convívio dos seus entes queridos, você que infectado pelo coronavírus está abandonado na UTI de um hospital ou você que já perdeu uma pessoas querida sem poder se despedir dela.
Este tempo de grande isolamento e de sofrimento
está nos fazendo tomar consciência de nossas debilidades e nos faz reconhecer que não somo donos da nossa vida. Vivemos em meio a uma cultura da produtividade, da competição, da eficiência, e isso nos deixa cansados, estressados, angustiados e até tristes e deprimidos.
Onde encontramos uma solução para tudo isso?
Jesus nos diz: “Venham a mim, todos vocês que estão cansados e aflitos de carregar as suas pesadas cargas, e eu lhes darei descanso... Aprendam comigo porque sou bondoso e tenho um coração humilde; e vocês encontrarão descanso” (Mt 11,28-29).
Não é só o coronavírus que nos asfixia, são tantos os vírus e venenos que nos deixam sem oxigênio e causam epidemias e doenças. A bondade e humildade do coração nos podem devolver a saúde e viver com mais humanidade.
Esta é a vacina que nos pode salvar do stress, da depressão e do desânimo proporcionando novo sabor e felicidade.
Talvez seja esta a aprendizagem deste período difícil é ir ao encontro do Senhor e deixar-nos aliviar, para aprender d’Ele a sermos mais humildes, mais humanos, mais fraternos e solidários.
Ser humilde é amar a verdade mais que a si mesmo. “Onde está a humildade, está também a caridade” (S. Agostinho).
Frei Gunther Max Walzer