Homilia - 19/07/2020 - XVI Domingo do Tempo Comum
Fake News, notícias falsas, histórias fabricadas, boatos são disseminados na internet e são manchetes na mídia. Isso criou uma certa indignação na sociedade onde se questiona a garantia da liberdade de expressão e o limite do seu exercício.
Indignados ficamos observando tantas situações de injustiça, inclusive da violência em todos os níveis de nossa sociedade.
Ou então, quantas vezes desanimamos diante das dificuldades, das “maldades” que vemos diante de nós e desistimos.... Tudo é tão difícil, não vale a pena ser coerente, ser correto e ser seguidor de Cristo: tudo conspira para o sucesso da injustiça e dos injustos neste mundo onde o mal tem prevalência.
Desistimos também de nós mesmos, afinal, quantas vezes tentamos mudar nosso comportamento, nossas atitudes que consideramos obstáculos no caminho da construção do Reino e não conseguimos? Nós nos cansamos de nós mesmos...
Como cristãos, qual a melhor atitude a assumir?
O evangelho de hoje nos traz a posição de Jesus diante do mal no mundo.
Jesus falava em parábolas. Este método tinha duas vantagens: facilitava a compreensão dos seus discursos por parte do povo simples, e, ao mesmo tempo, abria muitas possibilidades para a compreensão do significado do seu discurso.
O texto do evangelho de hoje nos apresenta três parábolas. A primeira delas é a do trigo e do joio: a semente boa foi plantada e já brotou, mas um “inimigo” semeou uma semente ruim no meio da plantação. O que fazer, agora? Os empregados querem resolver logo o problema, arrancando o joio. No entanto, o dono toma uma decisão sábia, prudente, pensando no bem de sua plantação: “Não arranquem o joio, porque, quando vocês forem tirar o joio, poderão arrancar também o trigo. Deixem o trigo e o joio crescerem juntos até o tempo da colheita” (Mt 13,29-30).
Mesmo quem nunca viu um pé de trigo e não tem ideia de como seja o joio conhece o significado da expressão “separar o joio do trigo”. Usa-se essa expressão quando se quer ponderar que nem tudo é tão ruim, ou que nem todos devem ser incluídos genericamente numa única reprovação. Trigo e joio encontramos em todos os grupos. O bem e o mal também convivem dentro de nós e temos de saber lidar com isso, para que não nos tornar insuportáveis pela soberba nem nos desvalorizarmos a ponto de perdermos a nossa auto-estima.
Assim, aquele que comete uma falha deve ser sempre acolhido, apesar de sua falta. Muitas vezes, ao tentar corrigir uma falta ferimos o faltoso, diminuindo a sua pessoa. Temos dificuldade e reconhecer que, apesar de ter errado, aquela pessoa tem muita coisa boa em seu interior. Arrancamos precipitadamente o joio, arrancando também o trigo.
Igualmente, as outras duas parábolas nos falam da paciência. E nós podemos perceber que essa paciência não significa fraqueza, passividade, medo, mas é a força que supera os obstáculos. A pequena semente de mostarda plantada na terra, devagar, no seu tempo, se tornará a maior de todas as plantas da horta. É dessa sua força, agora plenamente desenvolvida, todos poderão usufruir: sombra, abrigo, alimento,
Igualmente, o fermento na massa e sua força está justamente em ser pouco e “contagiar” tudo. Ele só precisa de tempo para agir.
Assim o Reino de Deus acontece: a sua força parece pequena, humilde, mas não para diante dos obstáculos. O bem faz o seu caminho entre as dificuldades e sabotagem do mal.
As parábolas de Jesus nos mostram que quem aceita as propostas do Reino recebe as forças divinas que o tornam capaz de superar aquilo que é difícil e parece impossível. Deus consegue transformar o mal em bem! Convencer-se disso e deixar-se transformar pela novidade do Reino é tudo o que Jesus espera de cada um de nós.
Nesse ponto entra a paciência que é a força do amor trabalhando no “esconderijo” da quarentena, no tempo do isolamento que se estende diante de nós. É a coragem de seguir plantando, de plantar mais trigo do que o joio possa contaminar. É a vida que vai brotando de uma pequena semente e se tornando arvore, no seu tempo.
Aquilo que vemos “fora” de nós, e as atitudes que somos chamados a assumir, usar máscara e seguir decretos sanitários, em relação a essa realidade não deve nos fazer esquecer o que trazemos dentro de nós. Também no nosso coração abrigamos a força do bem. A paciência que somos chamados a exercer vale para nós. À medida que nós nos perdoamos e nos damos um voto de confiança, com a força do amor que se chama paciência, estamos mais prontos para perdoar e ser pacientes com os nossos irmãos. À medida que nos deixemos amar pelo Pai que nos deu seu Filho, podemos nos tornar também filhos, muito amados, que anunciam alegremente o amor de Deus.
Frei Gunther Max Walzer