Homilia - 26/07/2020 - XVII Domingo do Tempo Comum
A vida, a cada momento, nos convida a fazer escolhas. Umas são bem simples, outras difíceis porque arriscamos o futuro de uma vida toda: a escolha da profissão, um relacionamento íntimo com uma pessoa, ser honesto ou não em certas ocasiões, confiar em alguém ou não, apoiar alguém que está sendo acusado injustamente, defender uma causa que trará vida e dignidade para muitas pessoas...
Todas as escolhas da vida são sérias. Elas constroem a história da nossa vida. A nossa vida pode ser avaliada pela “ousadia” com que fizemos certas escolhas.
No evangelho de hoje, Jesus, novamente, se dirige aos seus ouvintes com palavras simples que todos pudessem entender. Ele fala por meio de breves parábolas, que se referem à vida cotidiana das pessoas daquela época. O comerciante busca durante toda a vida algo de valor e encontra no campo um tesouro. Porém, o “sortudo” não leva logo o tesouro para casa, ele o vê escondido num campo que não é dele. Então vai ter que conseguir comprar aquele terreno. O homem, embalado pela ideia de ficar rico, vende tudo o que tem e consegue comprar o campo. Agora, ele fica dono do tesouro que há no campo. Vai poder realizar seu sonho.
Notemos que o homem não faz um “negócio de risco”. Ele sabe que há um tesouro enterrado naquele campo e, por isso, o quer comprar. É por isso que ele vende todos os seus bens.
É aqui que encontramos a proposta do Pai: o Reino é algo tão precioso que vale a pen desfazer-nos de tudo para possuí-lo. Para ficar com esse “tesouro”, temos que investir tudo o que temos. Estamos dispostos a isso?
A segunda parábola é a da pérola de grande valor. Ela é igual à do tesouro e reforça a proposta de Jesus, apresentando-nos o Reino como alguém que troca tudo o que tem, na maior alegria.
O tesouro e a pérola são apresentados por Jesus como imagens do Reino dos Céus. Facilmente, transferimos esse Reino para depois da morte e dizemos: “devemos trocar todos os bens dessa terra por um lugar no céu!” Não seria um raciocínio errado: afinal a eternidade valeria qualquer sacrifício e o Reino dos Céus tem mesmo uma essencial dimensão de vida eterna. “Desta vida nada se leva”, “caixão não tem gavetas”, diz a sabedoria popular. Só temos na verdade um grande tesouro, eterno, que ninguém pode roubar ou destruir: a pessoa que nós conseguimos ser. Que valor haverá em “ter sucesso na vida”, se esse sucesso for apenas externo e passageiro? Que sucesso pode ser maior do que a boa construção de nós mesmos, dos nossos valores e caráter?
Na terceira parábola, Jesus fala de uma rede com peixes bons e maus. Os peixes imprestáveis serão jogados fora. Assim farão os anjos no fim do mundo, jogando os maus na fornalha. É importante não esquecer que Jesus está falando em parábolas; ele não está descrevendo objetivamente o inferno. Ele está dizendo que quem se estragou como pessoa só pode ter o nada e receber nada também. Ou seja: vão para o lixo que, naquele tempo, acabava sendo queimado. Como é o céu e como é o inferno? Não sabemos. Só podemos usar expressões que relacionam o céu com coisas boas e o inferno com algo ruim.
Não podemos transformar o valor dos peixes num valor moral, aplicando a parábola ao juízo final (o fim do mundo) e identificar os peixes bons com as pessoas que consideramos boas e os peixes ruins com pessoas más, as boas vão para o céu e as más para o inferno. As duas realidades encontram-se dentro de nós. Por isso, cada um de nós pode ser comparado não com o peixe, mas com a rede que tem de tudo dentro.
Temos consciência de que nem tudo o que conseguimos fazer (o que conseguimos pescar) é aproveitável, é bom. Nem tudo serve! É consolador, porém, saber que Deus vai valorizar o que de bom conseguimos fazer, isso lhe interessa! E o que não tem serventia? Não nos preocupemos: será destruído, como se faz com os peixes que não servem para vender nem para comer. Vai ficar só o que é bom. De certa forma, o juízo final é mesmo isso: Deus vai resgatar o que é bom na nossa vida e nos livrar daquilo que é ruim.
Conclusão: As duas parábolas que encontramos no Evangelho de hoje nos fazem entender que o Reino de Deus está presente na própria pessoa de Jesus. Ele é o tesouro escondido e a pérola de grande valor. Assim entendemos a alegria do agricultor e do comerciante: eles encontraram a felicidade! É a alegria de todos nós quando encontramos a proximidade e a presença de Jesus em nossas vidas.
Importa é sentir a alegria de ter encontrado o tesouro do Reino de Deus. Façamos transparecer isso em cada palavra, em cada gesto, mesmo nos mais simples e, principalmente, nesses dias e meses que sofremos as consequências da pandemia. Façamos transparece a nossa fé e o amor que Deus nos deu mediante Jesus.
Frei Gunther Max Walzer