Homilia - 02/08/2020 - XVIII Domingo do Tempo Comum
Das necessidades básicas do ser humano, talvez a de se alimentar seja a que mais motive a luta pela vida, a busca por um emprego ou por um lugar melhor para se viver. O alimento é tão essencial à nossa vida que, quando estamos com muita fome, dizemos, sem nos darmos conta do exagero, que “estamos morrendo de fome”!
Alimentar-se não é apenas uma necessidade vital, biológica, sem a qual não podemos sobreviver. É também expressão do nosso modo de viver como sociedade, que na procura e na distribuição do alimento revela sua solidariedade e seus valores.
A realidade da fome no mundo é gritante; há milhões de pessoas que, ainda hoje, não têm acesso à comida e à água. Atualmente, estamos muito empenhados em encontrar uma vacina para eliminar o corona-vírus, no entanto, a fome mata muito mais diariamente do que a pandemia. Por que não há o mesmo emprenho no combate à fome? Por uma simples razão: O corona-vírus mata pobres e ricos, a fome, porém, só afeta os pobres.
A fome de tantos milhões de pessoas é sinal de que o projeto de Deus não é respeitado e que seu Reino ainda não se concretizou. Somos responsáveis pela fome no mundo e por aqueles que sofrem sob o peso do pão não-partilhado.
O texto do Evangelho que lemos hoje começa com Jesus sentindo compaixão da multidão, curando os doentes. Saúde é um dado importante para poder participar com alegria na festa da vida. É o que estamos sentindo, atualmente, sofrendo as consequências de uma pandemia terrível.
A multidão tem fome e os discípulos sugerem a solução de menor comprometimento: despedir o pessoal, mandar embora para cada um ir comprar comida onde quiser e puder. Já ouviram as palavras de Jesus, agora a questão de sobrevivência é cada um por si, cada um cuidar da sua vida.
“Eles não precisam ir embora. Deem vocês mesmos comida a eles” (Mt 14,16).
Jesus manda fazer algo que parece não ter sentido. Como vão fazer isso sem recurso prático? Hoje diríamos: a Igreja acaso é supermercado ou uma ONG?
Não havia recurso mesmo! Pelo menos, era o que parecia: só tinha cinco pães e dois peixes. Jesus achou que podia ser um bom começo. Foi com isso mesmo que convidou a multidão a sentar para comer.
Ao longo da história humana, dentro e fora do cristianismo, trabalhos imensos já foram realizados a partir de recursos mínimos, mas realizados com muito idealismo, coragem e fé. Que recursos tinha Madre Teresa de Calcutá ou a Irmã Dulce de Salvador na Bahia para começar a socorrer os doentes? Que recursos tinha Francisco de Assis quando se despiu no meio da praça e quis mostrar um caminho novo para a Igreja? Que recursos tinha Gandhi para libertar a Índia diante da poderosa Inglaterra? Que recursos tinha Nelson Mandela, 27 anos encarcerado, para conduzir a luta de seu povo e se tornar presidente da África do Sul?
O mesmo pode acontecer com gente muito pouco famosa: quanta família luta para criar seus filhos, sem nenhum recurso que não seja a sua coragem e sua fé em Deus?
Onde estava faltando, acabou sobrando!
A partilha é uma das características das comunidades cristãs. A comunidade que partilha concretiza a generosidade do Pai. Esta é a mensagem do Evangelho de hoje, uma proclamação da força multiplicadora do bem, da fé, da solidariedade praticada.
O Pai quer libertar as pessoas do egoísmo que gera o acúmulo de bens, a corrupção, a fome e a morte. A partilha solidária realiza o milagre da multiplicação e da abundância, em que todos se saciam e ainda sobra para aqueles que virão depois.
“Todos comeram e ficaram satisfeitos, e os discípulos ainda recolheram doze cestos cheios dos pedaços que sobraram” (Mt 14,20).
Esta crise catastrófica pela qual estamos passando nos faz refletir sobre a essência do ser cristão. É um sinal de alarme e nos faz lembrar de algumas coisas que talvez esquecemos e ignoramos no passado, mas que são muito importantes na nossa vida cristã. Realmente importante é a nossa caridade e solidariedade. Seria apenas sentimentalismo e de aparência momentânea se depois da pandemia não continuassem os atos de solidariedade. Esta crise nos mostra que sempre precisamos e dependemos da solidariedade dos outros e da partilha dos bens.
Peçamos a Deus que sua Providência Divina sempre se manifeste entre nós através do nosso coração cheio de compaixão e de amor. Um coração cheio de amor tem também mãos aberta.
Ainda quero dar meus parabéns para os sacerdotes neste Dia dos Padres e pedir ao Senhor da Messe que mande sempre operários para que nunca falte o Pão da Eucaristia na mesa do altar.
Frei Gunther Max Walzer