Homilia - 09/08/2020 - XIX Domingo do Tempo Comum
Hoje, comemoramos o Dia dos Pais. Com esta data, no contexto do mês vocacional, queremos também comemorar a “Vocação da Família”. O Evangelho de hoje não poderia ser mais apropriado, vivendo neste tempo difícil da pandemia, mas quando também, de certa forma, um vírus agride os valores morais e éticos atingindo as famílias. Este vírus é uma ameaça de nos afundar seja financeira, social e moralmente. O coronavírus impõe isolamento social e traz consigo morte e sofrimento. Outro vírus está provocando uma crise de valores, com tantas e variadas ameaças que afetam a família.
O evangelho de hoje fala da barca sacudida pelos ventos de uma tempestade. A família atual está ameaçada por todo o tipo de forças adversas e, mesmo ela própria, enfraquecida pelo medo e a mediocridade. A barca da família parece naufragar?
O texto do evangelho fala da travessia dos apóstolos nas águas do lago, na escuridão da noite, e Jesus caminhando sobre as águas. Esse texto nos convida a fazermos uma avaliação da nossa “travessia” pela vida a fora; da “travessia” que nos faz enfrentar ventos contrários e tempestades que nos amedrontam, que nos fazem afundar no mar das dificuldades, dos desafios que encontramos no nosso caminho da vida.
Tempestades e desafios não faltam na história da nossa vida. O evangelho apresenta, através de Pedro, o perfil de cada um de nós como discípulos de Jesus. O discípulo confia – até certo ponto. Pedro demonstra esta desconfiança e disse: “Se é o senhor mesmo, mande que eu vá andando em cima da água até onde o senhor está”.
“Venha!” — respondeu Jesus.
Pedro foi. Mas quando o risco aumenta e cresce, quando sente o vento, ele vacila, tem medo, corre o risco de afundar e ele grita: “Socorro, Senhor!”.
E Jesus, o que faz? Jesus logo estende a mão e, segurando Pedro o repreende, o chama de homem de pouca fé: “Como é pequena a sua fé! Por que você duvidou?”.
É um texto muito atual, revelando a vida da Igreja em todos os tempos, mas também apresenta a vida de cada um de nós. Hoje, nas tempestades e conflitos, não cabe apelar para outros poderes. Em nossa situação catastrófica atual, não há outra coisa a fazer senão voltar para Jesus. O Evangelho relata o medo dos apóstolos ao verem Jesus caminhando sobre as águas, na escuridão da noite, e mostra, igualmente, o medo de Pedro de afundar nas águas do lago. Medo e escuridão! O medo produz fugas e afundamento.
“Então os dois subiram no barco, e o vento se acalmou” (Mt 14,32). O barco é nossa casa onde nós e muitas famílias estão vivendo num isolamento social. É uma parada obrigatória não voluntária. No entanto, para que possamos ouvir a voz de Deus, a palavra de Jesus que nos transmite paz e tranquilidade em nossa vida, é necessária uma parada.
Temos dificuldades de parar, de dar um tempo a nós mesmos, ao nosso interior. A agitação do dia toma conta da vida. Consequência: ficamos com medo.
O medo é uma das manifestações e é o termômetro que nos diz que estamos longe de Deus. O medo é uma realidade do ser humano, mas mostra, também, uma certa insegurança interior. É aí que Jesus se propõe a ser nosso analista: “Coragem, sou eu”. Ele é aquele que se propõe como nosso médico e a âncora do barco da nossa vida.
Para nos livrarmos do medo, o problema é o tamanho de nossa fé. Todo esse episódio ensina os discípulos a terem mais fé.
Jesus vai ao encontro dos discípulos, caminhando sobre as águas revoltas. Não era o milagre que interessava. Era a atitude de fé, que precisava ser assumida, como força que vence os ventos contrários.
É por causa da pouca fé que afundamos na água de nossas dificuldades, que sucumbimos diante de ventos adversos, de tempestades que abalam a barca. Se tivéssemos mais fé, sentiríamos a mão de Cristo, que está sempre estendida, nos oferecendo sua força e nos sustentando na caminhada em direção a ele.
Queridas famílias, seria imprudente sair nesse tempo da ameaça do coronavírus sair para a escuridão do contagio, antes de fazer isso, é preciso que a sua família acenda no lar a luz da fé. Esta luz não se acende gritando de pavor e medo mas sentindo a paz da oração e ouvindo a voz de Jesus: “não tenham medo, sou eu”.
Frei Gunther Max Walzer