Homilia - 16/08/2020 - Solenidade Assunção Nossa Senhora
A Festa da Assunção de Maria, que estamos celebrando hoje, pode dar uma luz, uma esperança, um novo incentivo, diante da situação difícil da pandemia que estamos passando. O desânimo está cada vez mais tomando conta de muita gente. Quando vai acabar essa catástrofe? A vacina vai demorar para chegar? Mas não é só o corona vírus que nos preocupa. Será que o mundo e nosso país nunca vão melhorar? Será que os homens nunca vão aprender que não se planta um mundo melhor pela violência e guerras? Quando acabará essa corrupção que consome o nosso país? Onde estão as realizações sociais que tanto prometeram? Perguntas, mais perguntas?
Hoje, a Igreja está olhando para Maria, a jovem de Nazaré, como alguém especialmente escolhida por Deus para uma missão de suma importância no seu projeto de salvação da humanidade: possibilitar a encarnação do Filho de Deus.
O Evangelho de hoje nos é muito familiar. Maria visita Isabel. Estamos tão acostumados com essa cena, que temos dificuldade em pensar nela com a simplicidade que realmente teve. Nossa imagem de Maria já vem marcada pelo louvor e pela glória. Chamamos Maria de Rainha de tantas coisas! Mas naquele momento havia apenas duas mulheres grávidas do povo num lugarejo sem recursos e sem importância. Qualquer vizinho que passasse por ali diria que estava havendo naquela casa o que se chama por aqui de uma “corriqueira conversa de comadres”. No entanto, nesta cena, o foco não é a disponibilidade de Maria para ajudar a prima idosa nas tarefas domésticas. Aqui podemos ver algo muito mais profundo.
Maria é aclamada pela prima como “bendita entre as mulheres” e recita uma oração de louvor pelas maravilhas que o Senhor começa a realizar nela. O evangelista Lucas põe nos lábios de Isabel estas palavras que resumem o significado de Maria para a comunidade cristã: “Bem-aventurada aquela que acreditou, porque será cumprido, o que o Senhor lhe prometeu" (Lc 1,45).
Acompanhando a vida de Maria, a vida toda será muito simples. Destoa da vida da maioria das nossas “vidas de santo”, em geral cheia de milagres e fatos que despertam a atenção nossa. O Senhor fez maravilhas na simples vida de uma moça que se coloca à disposição para ser instrumento da graça, sem estardalhaço. E nenhum santo foi maior que ela!
Maria assumiu a sua missão, mesmo sem saber quais seriam as consequências para si desse ato de fé e coragem. Foi descobrindo, então, a cada dia e a cada novo acontecimento, como o projeto de Deus ia se desenvolvendo na historia do menino que ela gerou. Seu compromisso não foi só o de “dar à luz um filho”, mas de acompanha-lo na vida, de favorecer as condições para que ele, na medida que fosse crescendo, pudesse também assumir o seu papel e sua missão no mundo. Fiel até o fim, ficando ao lado de Jesus até a cruz e presente junto à comunidade dos discípulos do Ressuscitado, Maria cumpriu plenamente sua missão.
Depois da saudação de Isabel, Maria canta seu hino do “Magnificat”. É um canto de combate e luta pela instauração de um mundo mais igual, mais solidário e fraterno. Ele se inspira em outros cantos de libertação entoados por diversas mulheres do Antigo Testamento. O canto de Maria reflete também o programa do Reino de Deus.
Maria exalta as grandes coisas que Deus operou nela e fez a seu povo. O Salvador que nascerá trará a seu povo a salvação, um reino de justiça, de igualdade. Deporá os poderosos dos seus tronos e elevará os humildes; cumulará de bens os famintos e despedirá os ricos de mãos vazias.
Maria aparece aqui como a mulher forte, representando o povo oprimido. Seu canto grita por justiça e inspira a esperança de um mundo mais pleno de amor e solidariedade, que Cristo vai implantar.
Celebrando hoje a Assunção de Maria, é um incentivo para nós que nos perguntamos o que a Festa da Assunção tem a ver com nossa vida, com a situação desanimadora em que nós e o mundo se encontra; “Deus triunfará”, canta Maria. “Não desanimem, mas tenham esperança!”.
Nesse sentido, estamos contemplando, nesta festa dedicada a Maria, as maravilhas que Deus realizou nela. Ela é uma de nós, gente como a gente. O que Deus ofereceu a ela é uma amostra do que ele quer dar a todos nós.
Ela já participa plenamente da glória da vida eterna. Quando proclamamos o que Deus fez por ela, estamos anunciando a esperança da felicidade que nos aguarda também.
Frei Gunther Max Walzer