Homilia - 11/10/2020 - XXVIII Domingo do Tempo Comum
A Bíblia fala diversas vezes em refeição, banquete e festa, como acabamos de ouvir nos textos litúrgicos de hoje. No tempo de Jesus, o maior desejo que alguém pudesse ter era ser convidado para participar da festa de casamento do filho do rei. Não se tratava de um banquete de duas ou quatro horas, mas de quase uma semana de festa e de mesa farta. É assim que Jesus apresenta o projeto divino: Deus oferece um banquete que dura a vida inteira. A reação ao convite está em três atitudes dos convidados: desinteresse, egocentrismo e violência.
Jesus diz que o Reino de Deus é semelhante a uma festa. Se a festa é tão boa porque alguns recusam? A parábola de Jesus fala de dois tipos de recusa. Um é a dos indiferentes, que preferem cuidar de seus negócios particulares e não estão motivados para participar da alegria coletiva. É a turma do “primeiro eu”, o pessoal que não é sensível ao chamado para tomar parte na transformação da sociedade, que defende os próprios interesses e deixa o mundo pegar fogo. A outra recusa é mais direta e violenta: são os que matam os mensageiros do dono da festa, os que não querem mesmo que a festa aconteça. A história das Igrejas cristãs está cheia de emissários sacrificados, martirizados, porque queriam fazer a festa de Deus acontecer.
É isso que podemos constatar no tempo atual: o desinteresse pelo Reino de Deus. No entanto, não podemos negar a existência de certo interesse religioso. Podemos verificar, por exemplo, uma grande busca de milagres e ajuda divina na vida pessoal, principalmente, nessa época da pandemia do Covod-19 e da crise econômica, financeira e do desemprego.
O projeto de Deus é a construção do Reino onde todos participam da festa e do baquete. A salvação não é para mim ou você, é para todos. A pandemia Covid-19 é um apelo para aprender a ser solidário e fraterno. Até agora vivemos dentro de um paradigma individualista no mundo onde cada um de nós se sente “senhor”, senhor e dono da natureza e da Terra, onde tudo deve estar subordinado a ele.
Sem dúvida, sob o aspecto tecnológico estamos colhendo muitas vantagens, vivemos numa sociedade “hiperconectada”, mas presenciamos também os efeitos colaterais de uma progressiva autodestruição, vivendo em “sombras densas”.
Seguindo o convite de participar da festa, o Papa Francisco apresenta sua encíclica “Fratelli Tutti” e propõe um novo rumo para a sociedade: o rumo da fraternidade onde todos vivem como irmãos e amigos, o rumo da fraternidade universal e da amizade social. Só a solidariedade, uma civilização de fraternidade pode garantir a vida e a festa. Essa é a salvação de toda a humanidade.
Quem são os convidados do banquete? Olhando a segunda parte da parábola, ficamos um tanto perplexos.
Os primeiros convidados não entram na festa porque recusam o convite e não querem largar os próprios interesses: a lavoura, os negócios. Assim, os convidados são recolhidos ao longo dos caminhos e pelas praças: são bons e maus, limpos ou sujos, sem distinção, são as pessoas do mundo inteiro.
Para nós esta parábola é um convite para abrir o coração e as portas de nossas comunidades a qualquer tipo de pessoa, aos pobres, aos marginalizados, a quem é rejeitado por todos.
Como combinar a generosidade do dono da festa e sua bondade com os pobres, com aquilo que está fazendo agora? Por muito pouco não estão estourando seus nervos e está se tornando até cruel!
“Então o rei disse aos empregados: ‘Amarrem os pés e as mãos deste homem e o joguem fora, na escuridão. Ali ele vai chorar e ranger os dentes de desespero’.”
Qual é a mensagem que Jesus nos quer transmitir com esta linguagem dura?
Deus não está, evidentemente, preocupado com as exigências da moda. A veste representa a disposição real e correta para participar da festa.
É que para podermos participar do banquete do Reino, devemos estar preparados com condições interiores, revestidos de atitudes e sentimentos necessários para não atrapalhar a festa. É o que fica simbolizado na veste nupcial.
Todos nós sabemos o que acontece quando certas pessoas se apresentam para um trabalho e acabam sendo um peso para o grupo: desunem o grupo e criam confusão, não cumprem compromissos, dão mau exemplo e comprometem o grupo... Chega a hora em que alguém diz: Assim não dá, fulano! A festa no Reino não é um piquenique irresponsável.
A frase “muitos são chamados, e poucos são escolhidos”. Aqui se faz a pergunta: ”Então quem não pode ficar no recinto da festa?”. Não cabe na festa quem vem pelos motivos errados: quem não quer crescer. Pecar é humano, e a compaixão de Deus não se nega a quem errou; mas necessária é a sinceridade de intenção, querer melhorar, ter o coração aberto também aos irmãos, não ser um “estrago da festa”.
O traje mais bonito que temos é a caridade e fraternidade. Será que estamos usando este traje para participar do “banquete eucarístico”?
Saibamos que nós também fomos convidados, mas Deus não pensou numa seleção arbitrária. Deus não quis formar um grupinho dos seus “favoritos”, um clube de fãs. Deus nos escolheu, respeitando as opções conscientes que nós mesmos fazemos.
Na festa de Nossa Senhora Aparecida, peçamos que ela nos cubra com seu manto de disponibilidade na construção do Reino de Deus. Peçamos que ela seja consolo para quem chora, força para quem se encontra alquebrado, inspiração e encorajamento para os pobres, saúde para os enfermos e rosto maternal de Deus para todos nós! Peçamos a intercessão materna de Nossa Senhora Aparecida por nossos governantes: que sejam retos, justos, servidores do bem comum, sobretudo dos mais necessitados!
Rezemos pelas crianças, que a Mãe de Jesus ajude mantendo a harmonia as famílias de nossa Pátria!
Nossa Senhora Aparecida, rogai por nós!
Frei Gunther Max Walzer